Rio Grande do Norte, quinta-feira, 25 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 10 de janeiro de 2015

O PT “traiu” os trabalhadores rurais

postado por Tiago Souto

Ao anunciar a Senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) Ex-senadora pelo Democratas[1] para o Ministério da Agricultura, os movimentos sociais, principalmente os campesinos demostraram um grande descontentamento, pois a nova ministra é a presidente da Confederação Nacional da agricultura, que corresponde a maior agremiação dos latifundiários brasileiros os quais são os maiores adversários da agricultura familiar, pois propagam a produção com uso intenso de agrotóxicos, poluindo rios e terra, além da difusão generalizada de alimentos transgênicos[2].

A Ministra da Agricultura de Dilma do governo novo de idéias novas recebeu em 2010 o prêmio-ironia “motosserra de ouro” concedido pelo Greenpeace por sua defesa ferrenha ao desmatamento. Além desse apelo anti-preservação ambiental a Ministra também é inimiga dos povos da floresta (indígenas) basta observar seu discurso de posse quando ela declarou que “os indígenas saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção” sendo os principais responsáveis pelos conflitos de terra no Brasil.

Essa “traição” do PT com os trabalhadores rurais não é uma novidade, depois que ganha as eleições sob a pressão dos interesses do mercado, cede a oposição conservadora retrógada e desaponta o eleitorado, ao incorporar as propostas dos adversários e nomeando ministros que satisfazem ao mercado e por fim abandona as propostas mais ousadas.

A nossa Democracia inacabada te1513771_789500621122654_3720253699286770717_nm dessas coisas, um candidato progressista pode até ganhar, mas não consegue por em prática suas promessas ideais… tem de compor, tem que ceder para poder garantir a tal da governabilidade, pois ao final e ao cabo os partidos que compõem a hegemonia da atual arquitetura política brasileira tem que prestar contas junto aos seus financiadores de campanha em detrimento do povo brasileiro.

Diante disto cabe a reflexão de que ao contrário da postura da Ministra da Agricultura de Dilma, existem outros modos de produção sustentáveis como o dos Povos da Floresta, que mesmo com toda a dominação que sofreram e sofrem, conseguiram conservar em seus territórios os maiores focos de biodiversidade ainda existente no planeta. Diferente do latifúndio que na sua usura insiste nas monoculturas de cana-de-açúcar e trigo para alimentar gado.

Em fim pelo que tudo indica será mais um governo onde a Reforma Agrária estará bem guardada na gaveta dos gabinetes…

 

[1] O DEM era PFL que foi um desdobramento da ARENA, partido governista na época da Ditadura militar no Brasil, partido de Direita e baluarte do liberalismo econômico no Brasil, juntamente com o PSDB.

[2] Sementes alteradas em laboratório (sobre as quais não se sabe o nível dos prejuízos à população) as quais são produzidas pela Monsanto que é também a principal produtora de herbicida glifosato, que pode destruir ecossistemas nativos e provocar doenças como câncer.

Tiago Souto

Cientista Social e pesquisador do NUECS-DH (UFRN). Atua principalmente nas áreas de pesquisa em cultura, educação, violência e estudos urbanos, além de atuar junto aos movimentos sociais gerenciando e executando políticas públicas. É autor de capitulo de livros e artigos com vínculos, internacionais, nacionais, e locais. Contato: tiago_souto@cchla.ufrn.br

One Response

  1. Vantie Oliveira disse:

    Tiago: deixemos de alimentar esse discurso de que o problema do Brasil e a “imaturidade” da sua democracia. Mesmo nas demcracias representativas mais antigas e “maduras”, cada vez mais, esta demonstrado que os grandes interesses dos grandes grupos politicos e economicos tendem a se impor sobre as vontades dos cidadaos comuns e a logica da composicao de forcas – com seu corolario de fazer concessoes aos grandes grupos no que concerne a abrir mao de importantes demandas populares para assim garantir a “governabilidade” – e intrinseca a natureza do jogo desta “democracia” inventada pela burguesia para manter “os de baixo” na ilusao de que ai eles tem algum poder de determinacao da vida coletiva. O recente caso da Grecia – entre outros – e apenas um dos mais eloquentes exemplos disto. E, como se diz comumente, se ha excecoes, estas apenas confirmam a regra. Mais do que nunca, urge aprender as licoes das criticas e propsicoes do campo do pensamento libertario autogestionario!

Política

O atentado ao Charlie Hebdo foi um filme mal produzido?

Política

Charlie Hebdo: o que pode a liberdade de expressão?