Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de fevereiro de 2016

Dez anos a mil

postado por William Eloi

Aproveitando as minhas horas de ócio, outro dia, desenvolvi uma teoria (Os grandes pensadores da história da humanidade foram genuínos vagabundos, mas essa ainda não é minha teoria, só uma observação. Acho que pelo jeito que anda o nosso admirável mundo novo, não teremos grandes pensadores, nem grandes ideias, já que a noção do tempo hoje é cada vez mais veloz. Somos entulhados de inúmeras atividades, habilidades, por que assim o mercado quer. Mas isso é papo para outra resenha… portanto essa teoria que desenvolvi é uma teoria medíocre; criada para o nosso tempo…)

felt1Aproveitando as minhas horas de ócio, li um artigo sobre o The Felt, banda de rock inglesa, da cidade de Birmingham, que tinha como seu líder Jon Lawrence Hayward, ou simplesmente “Lawrence”. Conheci o The Felt através de um disco chamado Ignite the Seven Cannons, que foi  me apresentado por um amigo, Carlos Eduardo. Na minha ânsia juvenil, que me acompanha desde a época da saudosa e finada revista Bizz, procurei saber mais sobre a banda de sonoridade tão cristalina e agradável. O que mais me chamou a atenção na história do The Felt, para a minha surpresa, não foram dois gênios que se conheceram na adolescência querendo montar uma banda de rock, um vocalista angustiado com uma verve poética, viciados em drogas ou coisa que o valha na cartilha da velha academia do rock.

Mas o projeto que Lawrence tinha para a sua banda: O de lançar dez discos (um disco por ano), ou de durar apenas dez anos. (?) Lawrence  achava que em dez anos tinha tudo para dizer. Diferentemente dos galeses dos Maniacs street  preachers, que anunciavam aos quatro ventos que quando a banda vendesse dez milhões de cópias acabaria, ou de Mick Jagger ,que não se imaginaria tocando Satisfacition aos trinta, Lawrence  levou seu plano a cabo. E os Felt terminaram quando fizeram dez anos. Marketing? Nem tanto. Eu diria que uma percepção honesta e apurada.

Desde que li esse artigo, confesso, com certa estranheza, comecei a fazer os cálculos dos discos que eu mais gostava. Para a minha surpresa todos os que pude lembrar tiveram sua ebulição até dez anos. Depois disso, ou se tornaram uma cópia medíocre do que foram um dia, ou se tornaram lendas. Como os jogadores de futebol, que aos trinta e poucos anos já são considerados veteranos; leia-se, decadentes. (Considerando que explodam aos vinte anos, em uma média) Agora começa a parte da polêmica…

Em uma década conseguimos captar, visualizar, o espírito de uma época, ainda que de forma condensada e menos complexa. O que comumente se chamou de “geração”, desde o inicio do século passado está inserido em uma década. A saber: geração perdida (20), geração beat (50), geração hippie (60),geração discol (70)…etc.

tumblr_static_rock-n-rollOs artistas se tornam irrelevantes? Datados? Ou esse estado é apenas um efeito ilusório do tempo?

Uma frase da cantora baiana Gal Costa pode explicar bem essa questão,

“Mas se rebelar contra o que?” Num comparativo dos anos de sua juventude, e sua atual posição.

Existe, claro, artista, que no momento da criação são incompreendidos, que tem seu valor reconhecido apenas décadas depois, ou até mesmo, depois de mortos. O que é até comum, dado o número de profetas e santos.

Não estou falando aqui de imortalidade, se não, não haveria inúmeros museus espalhados pelo mundo. Mas do cerne da criação.

Ajustando o meu foco para a cultura pop, listei alguns exemplos:

Beatles, 1963 a 1970, sendo que o último álbum do quarteto inglês, já parecia ser o último suspiro criativo.

Pink Floyd 1967 a … (Alguém  consegue se lembrar de um álbum bom do Pink Floyd depois do The Wall? A maioria deve dizer que o melhor é o The Dark Side of the Moon, que está dentro dos dez anos.)

The Smiths, 1983 a 1987

David Bowie 1968 a…Zigstardust? (ascensão e queda? Poxa, mais o Scary Monsters and super creeps é muito legal (80) Doze anos. Uma exceção, como toda regra. Mas é o David Bowie…vamos dar um desconto. O cara é foda! )Para ficarmos aqui…

As variações são de uma crescente, um amadurecimento da proposta; como o Pink Floyd ,citado já acima, o R.E.M.(É, Carlos Eduardo, o Automatic for the people é o melhor discos desses caras, como você bem me falava há muito tempo…)ou de uma explosão súbita; Sex Pistols, The Stones Roses, The Strokes…

 

Vocês podem fazer a lista de vocês. Irão perceber que “os dez anos” será tão cabalístico quanto os “27”, para o mundo do rock.

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*Naturalmente a história dos dez anos de “Lawrence” compõe uma das muitas lendas do rock. Apesar de que o  Felt existiu oficialmente de 1979 a 1989.

E como alguém muito esperto falou “ Entre os fatos e a mentira, publique a mentira!”

 

 

 

William Eloi

Escritor e ex-guitarrista da banda de rock Electrilove.

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