Rio Grande do Norte, sexta-feira, 26 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de julho de 2016

Quando a pira olímpica se apagar

postado por Rafael Morais
Foto: Reprodução Rede Globo

Foto: Reprodução Rede Globo

Quando a pira olímpica se apagar, de bom, ficarão apenas lembranças de momentos lindos e coloridos de uma festa chamada Olimpíadas.

Medalhas, emoções, superações, suor, muito suor. Honra ao mérito, competitividade e fraternidade. Tecnologia, inovação, recordes. Tristeza, lamentos, alegria e felicidade.

Quando a pira olímpica se apagar ficarão, neste berço esplêndido, a recessão, a violência e as epidemias. A pobreza, a desigualdade social e os desrespeitos aos direitos básicos de seres que deveriam ser humanos.

Quando a pira olímpica se apagar, teremos que lidar com a calamidade pública decretada na administração financeira do Rio de Janeiro. O custo oficial e divulgado para a realização do Rio 2016, até hoje, é de R$ 38 bilhões. Por que aqui?!

Europeus e americanos desistiram de encarar os devaneios das cifras olímpicas. Boston retirou a candidatura para 2024 afirmando que os custos pesariam nos bolsos dos contribuintes. Toronto, no Canadá, também recuou. Em Hamburgo, o povo foi consultado e mais da metade disse não aos Jogos. Na Suécia, partidos políticos rechaçaram o evento, em detrimento a outras prioridades. Noruega, Polônia e Ucrânia também preferiram não arriscar.

Exemplos não bastam?! Na Grécia passaram por cima de sua própria Constituição para fazer as Olimpíadas de 2004 em Atenas. Moradores de rua, viciados em drogas e doentes mentais foram presos em hospitais psiquiátricos pelo governo grego para limpar, literalmente, a cidade. Na China Olímpica, abusos do governo, despejos forçados, perseguição aos críticos e violação aos direitos de liberdade de expressão e de imprensa.

Essa semana, no Universidade do Esporte, debatendo sobre os problemas enfrentados pela recém inaugurada Vila Olímpica, afirmei com toda convicção que o pior ainda está por vir. A CPI das Olimpíadas segue na Câmara Municipal, as famílias dos onze operários mortos durante as obras das instalações e as 77 mil pessoas que foram obrigadas a se retirar de suas casas sofrerão na pele com as consequências dos desrespeitos aos direitos humanos.

Quando a pira olímpica se apagar, para onde irão as famílias que foram removidas? As vidas das pessoas irão melhorar? As promessas do poder público serão cumpridas?

Eu disse há dois meses, quando a Tocha Olímpica passou por Natal que, na realidade, as Olimpíadas não passam de um carnaval do esporte. A festa é bonita, mas tem um preço incalculável. Um preço jorrado por sangue e suor. Por trás do espírito olímpico e unidade de nações, há também um interesse político e econômico, que visa atrair negócios ao custo dos desrespeitos aos direitos humanos e as liberdades civis mais básicas.

O bailarino, de barba a fazer, diria que eles não estão nem aí pro legado que prometeram. O interesse comercial – e pessoal – é muito maior.

Por mais que a escolha do Rio para ser Sede tenha acontecido em 2009, em teóricos “tempos de paz”, num período em que o Brasil vivia um momento único de crescimento econômico, não há dúvidas de que a realização dos jogos provocará um grande impacto no orçamento público. O fato é que, depois dos Jogos, as dívidas ficarão para serem pagas por muitos e muitos anos depois.

Quando a pira olímpica se apagar, ficarão mais problemas do que soluções. Quando a pira olímpica se apagar, de bom, ficarão apenas lembranças.

 

Rafael Morais

Comunicador Social pela UFRN. Experiência em assessoria de imprensa esportiva e atuação em televisão. Áreas de interesse: literatura e esportes em geral, com ênfase no futebol como a "teatrialização das relações humanas".

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