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Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 24 de dezembro de 2016

Da Síria ao atentado de Berlim o rastro dos não-acontecimentos

postado por Wilson Ferreira

Por que em fotos vemos policiais sorrindo no meio da tragédia da feira de natal em Berlim? De novo, um documento de identidade do terrorista encontrado na cena de um atentado? Outra vez, o autor do atentado era um conhecido pela polícia e agências federais de inteligência. Repete-se o roteiro dos atentados de Boston, Bataclan, Nice e Boate Pulse etc. – as mesmas anomalias, lacunas, ambiguidades, coincidências e sincronismos, sugerindo um tipo especial de “não-acontecimento”: o “meta-terrorismo” – ambiguidades narrativas propositalmente criadas  para tornar virais vídeos e fotos. O mesmo acontece com as imagens das supostas crianças sírias vítimas da guerra naquele país. Reforçando a hipótese de que o atentado de Berlim, ao lado da guerra na Síria, faz parte de elaborada engenharia de percepção (não mais “de opinião”) pública – a exploração do emocional para criar um curto-circuito na análise racional e senso crítico.

Assim como os atentados da Maratona de Boston, Charlie Hebdo, Bataclan, Nice, Boate Pulse, também o massacre do caminhão que invadiu uma feira de natal de rua em Berlim começa a apresentar anomalias e recorrências como fossem atos de um roteiro pré-estabelecido (desde os atentados de 2001), repetidos ad nauseum a cada temporada.

Fotos de um policial de Berlim sorrindo no local da tragédia enquanto mortos e feridos eram retirados (rindo do quê?); vídeos feitos por celulares por pessoas na cena da tragédia mostrando uma estranha atmosfera de calma sem sangue, gritos ou desespero; a “inesperada” descoberta do ID do terrorista sob o banco do caminhão de um suposto tunisiano que só não foi deportado recentemente por não ter justamente ID; a rapidez como a mídia definiu o acidente como atentado terrorista, enquanto a polícia alemã levava preso inicialmente um “homem errado” e as autoridades nada tinham de evidências; e assim por diante.

E, claro, mais tarde o ISIS reivindica a autoria do ataque. Afinal, não pode deixar de pegar carona na audiência midiática dos acontecimentos. Podemos imaginar em um futuro bem breve o ISIS reivindicando a autoria de terremotos e tissunamis, como obras de um Alah radical.

Em outras palavras, o ataque em Berlim é mais um exemplar dos “não-acontecimentos” que atualmente ocupam cada vez mais espaço na pauta da cobertura internacional da grande mídia. Praticamente são vídeo-releases com uma narrativa pronta para ser encaixada no prime-time dos telejornais noturnos – “não-acontecimentos”: conceito do falecido pensador francês Jean Baudrillard (1929-2007). Diferenciam-se dos acontecimentos históricos (“reais”) porque são eventos imediatamente destinados ao contágio através das mídias.

Lembra os tempos de repórter desse humilde blogueiro (tempos em que o Mar Morto estava apenas doente…), em que se chamava de “gilete-press” um tipo de jornalismo preguiçoso que apenas pegava o press-release do assessor de imprensa, recortava, colava na lauda e levava para o diagramador contar o número de linhas e calcular os centímetros por coluna.

 Emissoras e portais da Internet no mundo inteiro reproduzem acriticamente as imagens geradas pela grande mídia europeia, sem se ater a sincronismos, recorrências, anomalias, inconsistências, ambiguidades, contradições e toda sorte de lacunas narrativas que tornam esses novos não-acontecimentos enquadrados em uma nova categoria de não-acontecimentos: o meta-terrorismo.

Meta-terrorismo – inconsistências, lacunas e inverossimilhanças deixadas de propósito para conferir ambiguidade aos acontecimentos. Dessa maneira, dando mais poder de disseminação viral pela polêmica entre ficção e realidade. Por isso, a natureza de “constructo” do não-acontecimento associa-se às estratégias de False Flag (Falsa Bandeira) ou Inside Job (Trabalho Interno).   

(a) Ambiguidade

No interior da cabina do caminhão supostamente a polícia encontrou sangue do terrorista tunisiano chamado hora de Ahmed, hora de Anis A. – a dúvida por nomes tão “muçulmanos” genéricos (como um “João da Silva” brasileiro) levanta esse primeiro fator da ambiguidade: nomes estereotipados, assim como os rostos “sujos-feios-malvados” dos vídeos do ISIS, conferindo um ar de canastrice ou “overacting”.

Estranhamente, havia sangue dentro da cabine, mas não fora. Isso depois do caminhão ter atingido e arrastado 60 pessoas, entre mortos e feridos. O Scania guiado pelo terrorista está apenas com o pára-brisa e vidros laterais estilhaçados, partes da frente amassadas mas… sem sangue.

Como explicar Ahmed/Anis A., com uma extensa ficha crimes (segundo informações de agências de segurança federais planejava assaltos para financiar compra de armas automáticas) e sob vigilância, consegue se desgarrar e cometer um massacre? Isso depois do Departamento de Estado dos EUA ter alertado a Alemanha, a partir de “fontes críveis”, de que a Al-Qaeda estava planejando ataques nos mercados natalinos de rua. 

É o mesmo padrão dos atentados anteriores (Nice, Bataclan etc.), no qual sempre os autores são notórios conhecidos da polícia e agências de segurança. Inside Job? Assim como o suposto conhecimento prévio dos ataques de 2001 pelas agências de inteligência dos EUA? 

 Em fotos e vídeos vemos policiais berlinenses na cena da tragédia sorrindo ou conversando animadamente. Vídeos feitos por celulares uma anomala cena de tragédia e massacre: pessoas caminhando casualmente, algumas com latinhas de cerveja na mão, indiferentes como se nada tivesse para olhar. As vítimas no chão parecem manequins. Não vemos pessoas agonizando, gemendo ou gritando em estado de choque. Tradicional frieza germânica? – veja abaixo vídeo e fotos:

Policiais e socorristas em alegres conversas na cena da tragédia

(b) Timing e sincronismo – quem ganha?

Esses dois fatores saltam aos olhos das análises fora da pauta da grande mídia. O massacre ocorreu no mesmo dia do assassinato do embaixador russo Andrei Karlov por um atirador na Turquia. Também no mesmo dia em que foi confirmada pelo Colégio Eleitoral a vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA.

Enquanto isso, a cidade de Alepo, na Síria, era libertada pelas tropas do presidente Bashir Al-Assad com o apoio da Rússia. Libertada dos rebeldes apoiados pelo EUA. Uma derrota para a OTAN e os interesses norte-americanos que visam a derrubada do presidente sírio eleito democraticamente – a grande mídia fala em “guerra civil” mas, na verdade, é uma ação da OTAN dentro do xadrez geopolítico norte-americano na região.

O atentado teria sido uma forma de desvio de atenção na grande mídia da derrota da OTAN na Síria?

Ao mesmo tempo o atentado vira munição para a extrema-direita e um duro golpe contra a chanceler Angela Merkel, questionada pela sua recepção “generosa” aos refugiados no país. A grande mídia destaca que o autor do massacre em Berlim também era um solicitante de asilo.

Duro golpe para Angela Merkel: a extrema-direita de Marine e Marion Le Pen gostou

E também o momento em que russos, turcos e iranianos reúnem-se em Moscou para resolver diplomaticamente o conflito da Síria – as potências EUA, Reino Unido, França e Alemanha foram deixadas de lado.

Em política não há coincidências, mas timing e sincronismo de ações perpetradas para obter excelente efeito midiático. A política atual não lida mais com Propaganda no sentido clássico (repetição e doutrinação ideológica de opiniões) mas com engenharia de percepções – consonância, acumulação e onipresença das mesmas narrativas destinadas ao pânico e reações irrefletidas: medo e ódio.

c) Peças soltas

Observando fotografias e vídeos do mercado natalino de Berlim na noite do massacre e no dia seguinte há anomalias que acabam formando um conjunto de peças soltas, vital para o item (a). Nas fotos posteriores parece que o rastro de destruição é muito maior, como que para ampliar ainda mais a cena de destruição.

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Wilson Ferreira

Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi/São Paulo na área de Estudos da Semiótica. Pesquisador CNPQ do grupo de pesquisas "Cinema e Sagrado no Cinema e Audiovisual e autor dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus. Editor do blog "Cinema Secreto: Cinegnose" sobre confluências entre Gnosticismo e Sagrado no Cinema, Audiovisual e Cultura Pop em geral.

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