Rio Grande do Norte, sexta-feira, 17 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de setembro de 2010

O ùltimo urro dos conservadores – Parte 2

postado por David Rêgo

O fato é que os índices de violência começam a despencar justamente quando a primeira geração pós-ditadura completa seu primeiro aniversário…
Para se ter uma idéia, em fevereiro deste ano registrou-se o menor índice de homicídios no Rio de Janeiro nos últimos 30 anos. É isso mesmo pessoal, quando achamos que hoje em dia está pior apenas descubrimos que antes era um horror e não tinhamos tal informação.
Obviamente existem muitas variáveis que podem desaguar no campo da violência. É de se levar em consideração que, além da diminuição do número de homicídios por habitantes outro fato curioso surgiu: Apesar do número de homicídios ter caído, o número de homicídios por armas de fogo aumentou drasticamente, o que redunda em dizer que o acesso à armas de fogo está bem mais fácil nos últimos tempos… Isto a princípio poderia até parecer ruim, mas na prática é bom. Este dado nos demonstra que mesmo possuindo uma “potencialidade maior para acontecer” (entende-se que a arma de fogo facilita o homicídio pois trata-se de uma ferramenta muito eficiente, o que não é bem o caso das armas brancas, onde a frieza para se matar alguém, via de regra, tende a ser maior, tanto é que a legislação pune mais severamente crimes realizados com armas brancas, pois julga-se necessária uma frieza maior para cometer o crime), ainda assim a violência não se efetivou como antes, pois se assim o fosse… somando-se a facilidade de adquirir armas mais uma população violenta, teríamos como resultado um aumento no número de homicídios, fato que não ocorreu. Vocês devem estar pensando: Mas como os homicídios podem ter diminuído se todo ano eu vejo que as taxas só aumentam? Bem, essa é uma questão tipicamente metodológica. Geralmente o que se passa na televisão ou meios de comunicação são os homicídios por ano, o que pode vir a falsear os dados, tendo em vista que, se uma população aumenta é de se esperar que os homicídios também aumentem. Assim sendo, o correto é fazer uma análise comparada como se costuma fazer em muitos casos que é comparar a taxa de homicídio à cada 100mil habitantes. Considerando-se esta relação os homicídios no Brasil passam a despencar em 2003 de uma forma tal que, em 2007 a taxa de homicídios já era inferior à 1997 (25,2 para cada 100mil no primeiro e 25,4 para cada 100mil no segundo).
Aos “esquerdo-debilóides” aviso logo: Não, a violência cresceu não como fruto da política da era FHC (já que os índices diminuem justamente no início do governo Lula), pelo contrário, a geração que prosperou na época FHC foi justamente aquela educada durante a ditadura. Assim como também não se pode afirmar que esta diminuição foi um avanço do governo Lula, pelo contrário, ele foi beneficiado justamente pela juventude criada nos primeiros anos pós-ditadura nos governos Collor/Itamar e FHC.
Os números nos dizem que o valor à vida tem aumentado (está longe de ser o desejado, mas tem aumentado e quebra com a idéia que “antes” era melhor… era melhor pois não tínhamos meios de comunicação tão livres e com tantas tecnologias para levar a notícia até a casa de cada um de nós). Foi durante a década de 80 que o índice de homicídio saiu de sétimo para segundo lugar como maior causador de mortes violentas. É de se deixar isso bem claro. E qual a geração responsável por isso? Aquela mesma geração que nasceu no início da ditadura. A prática pedagógica do país como um todo estava inclinando as pessoas à violência.
Não apenas isto, no Brasil de hoje praticamente todo mundo que morre se descobre e isso vira número. Na ditadura militar, bem… O povo simplesmente sumia, ninguém dava conta, a família dizia que a pessoa existia e tinha sumido e a ditadura dizia que não, que não sabem de nada, ou seja… homicídio que não entra nos números. Obvio que sempre terá um gordinho num programa policial dizendo que não, que hoje em dia as coisas estão muito piores….
Agora chama esse gordinho e pede pra ele ler um gráfico, que eu duvido que ele consiga…
Sem mais….

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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