Rio Grande do Norte, quinta-feira, 09 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 20 de fevereiro de 2011

Fraude no vestibular da UFRN, ética, empresários e outras coisas

postado por David Rêgo

É comum ver uma série de críticas ao sistema de cotas. A maioria fala, sempre, sem conhecimento de causa. É comum, inclusive, existir sempre um amigo que passou no sistema de cotas tendo feito só o “pré” no ensino público entre tantas outras mentiras publicamente disseminadas que sempre aconteceram com um amigo de um amigo seu. A moral da história é que a desclassificação do primeiro colocado em medicina é um tapa na cara dos conservadores.

É a prova da eficiência do sistema de cotas, é a comprovação que o sistema de cotas não deixa entrar qualquer um e que as tentativas de fraude são investigadas, perseguidas e punidas. Alguém que frauda (ou tenta) o sistema de costas não é um “esperto”, mas um grande desonesto que tenta roubar dos que são desfavorecidos. A desclassificação do primeiro colocado em medicina é a prova que o sistema de cotas não é um “oba-oba” e que por este sistema apenas podem ser favorecidos aqueles que realmente encontram-se em situação de risco. Como diria Aristóteles há mais de 2.500 anos atrás: “Devemos tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente”.

O fim último da justiça é dar iguais condições de acesso para todos. Para que, por exemplo, o pobre, nascido em família humilde com pai e mãe analfabetos, possa concorrer com um filho de um desembargador. Só haverá justiça quando todos tiverem iguais condições de acesso independentemente da classe social em que nasceram. Até que isto ocorra, todo o resto é falácia, verborragia e sofismo.

Para Aristóteles a justiça deve tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente. Aqueles que possuem déficits têm o “direito natural” de obter vantagens.

Cada vez mais observamos o crescimento dos órgãos fiscalizadores. Cada vez mais as denúncias ganham espaço, cada vez mais do Ministério Público adquire forças… e cada vez mais o Brasil toma o rumo de um país que “poderá ser”. Falta agora o Estado impor limites aos lucros das empresas dando PLR’s – Programa de participação nos lucros – para todos os funcionários da rede privada, aliás, como ainda não é lei todo funcionário ter direito à participação nos lucros?  Ou será que você, na sua condição de classe média, acha “justo” a existência de multi-milionários? Ensinaram-lhe nos filmes que um dia poderia ser um? Não será. 98% da população nunca será,  e ainda assim os defende?

Oi, Indaiá, Coca-cola, 11 Iguatemis, Beach Park, etc. Esses são alguns dos bens de um único mega empresário brasileiro. Agora me diz: você acredita mesmo, de boa fé, que ele batalhou pra conseguir tudo isso? Nada contra “alguns poucos milhões”, mas ser multi-milionário deveria ser crime. É um atentado contra o bom-senso. Apenas são multi-milionários pois o Estado permite uma prática criminosa de super-exploração do trabalhador. Todo lucro é trabalho não pago, e todo trabalho não pago é um roubo. PLR com farta participação para todos, eu diria. Enfim, é isso.

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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