Rio Grande do Norte, sábado, 04 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 14 de fevereiro de 2012

Os moralistas contra o Beco da Lama

postado por Daniel Menezes

As falas de alguns defensores do beco e da promotora do meio ambiente foram sintomáticas, pois expressaram certo tipo de moralismo que vem permeando a discussão.

De acordo com a argumentação desses entusiastas do espaço cultural, em entrevista a um jornal televisivo da cidade, o Beco da Lama traria o benefício de impedir que a região se transforme em uma “cracolândia”.

A promotora, enquanto isso, enfatizou, tentando justificar a sua recomendação para que os shows na cidade alta fossem extintos, que a afirmação não tinha verossimilhança com a realidade, já que era possível ver muitas pessoas ingerindo bebidas alcoólicas nos bares que circundam a região.

Tanto a defesa do beco, como a fundamentação da decisão da promotoria do meio ambiente, revelam um tom reativo que não parece o melhor caminho a ser seguido. Um desavisado pode até achar que se trata da cidade da criança e não de uma localidade de muita boemia.

O Beco da Lama costuma ser frequentado por adultos. Não há nem um crime no fato das pessoas tomarem cerveja, cachaça ou algo do gênero. Bebidas alcoólicas não são proibidas no país. A afirmação da promotora, neste aspecto, foi infeliz.

Os produtores culturais, por sua vez, também apresentam visão preconceituosa. Afirmar que shows evitam uma potencial vocação para “cracolândia” acaba por criminalizar a região em pauta e não há evidências que corroborem esse percurso argumentativo.

O QUE ESTÁ EM JOGO

Há um projeto de revitalização da Ribeira que não deve ser abandonado. Sem dúvida que esta é a pauta fundamental.

A questão sobre o beco da lama expressa, além disso, a necessidade de uma ampla discussão sobre a apropriação (cultural, eventos, etc) da cidade. É preciso equacionar interesses e os pontos de vista das mais variadas instâncias representativas do poder público e da sociedade civil para, aí sim, enriquecer a discussão.

Está se apresentando uma boa oportunidade para mudar o rumo sazonal irreflexivo com que o assunto costuma entrar e sair da esfera pública.

TT

@arthurdutra_ Atenção Natal, de acordo com a promotora Rossana Sudário, de hoje em diante só é permitido tomar chá nos recantos boêmios da cidade.

CARNATAL

Bem que o debate poderia também envolver o carnatal. Se a micareta for deixada para última hora, como vem acontecendo nos últimos anos, todos os intere$$es serão levados (empurrados) em consideração menos os dos cidadãos.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

7 Responses

  1. Karl disse:

    Lamentavel esseposicionamento da Procuradora Rossana Sudario. Acho que ela não sabe onde fica o Beco da Lama.

  2. Arthur Dutra disse:

    Caro Daniel

    Venho aqui comentar o post porque meu nome foi citado no artigo na forma de um tweet que publiquei e que foi inclusive retweetado pela Carta Potiguar.

    Saliento que a manifestação em comento tem caráter puramente sarcástico, de modo a ironizar a entrevista concedida pela citada promotora no RNTV 2 edição, onde ela afirma que as pessoas vão ao Beco da Lama menos “para tomar chá”. Porque fiz isso? Porque a valer o argumento, tão bem exposto no seu artigo, de que locais onde se consomem bebidas alcoolicas tiverem o mesmo destino do Beco da Lama, todos os bares da cidade terão que fechar as portas, o que, convenhamos, seria um radicalismo moralista desnecessário.

    Portanto, e para que não seja interpretado de maneira equivocada pelos leitores, faço esse esclarecimento.

    Grande abraço

    Arthur Dutra

    • Vitorpipolo disse:

      É uma pena, que no nosso país, se tenha que explicar até as piadas para que não haja má interpretação e que se possa fazer uso da pseuda “liberdade de expressão” (sem que se seja processado)…

  3. Raquel disse:

    Daniel, você tocou na ferida. Alias, como sempre.

  4. Mario disse:

    onde não há cultura há crime. a cidade alta é abandonada pelo poder público. um espaço cultural lá evita mais abandono. é nesse abandono generalizado que pode criar uma cracolandia. eventos culturais revitalizam o beco da lama. por outro lado, deve haver limites de horário e decibéis. assim como em qualquer parte da cidade. coisa que não há. fechar um espaço cultural histórico da nossa cidade é enterrar mais ainda a nossa cultura que não anda nada bem com a gestão municipal atual nem a estadual, enquanto isso a micareta e os bares com sua palyboyzada, com seus paredões, permanecem sem que nada seja efetivamente feito. ou seja, o que parece e o que pesa nessa decisão de proibir eventos no beco da lama e nao fechar certos bares e cancelar o carnatal é quem tem mais isso: $.
    bastasse apenas que fossem medidos os decibéis do beco da lama e comparado com esses outros eventos e estabelecimentos, veriamos que quem perturba mesmo o sossego da pupulação não é os eventos culturais do beco.

  5. Tiago Cantalice disse:

    Só uma correção. O beco da lama e adjacências fica na Cidade Alta, não na Ribeira.

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