Rio Grande do Norte, sábado, 11 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 15 de fevereiro de 2012

A praga do filme dublado

A exibição do novo filme de Martin Scorsese nos cinemas locais, somente em cópias dubladas, revela uma péssima tendência dos cinemas e um mau hábito do público em assistir filmes dublados.

postado por Mario Rasec

A dublagem é, segundo o cineasta francês Jean Renoir, “uma monstruosidade”. Incomoda ver/ouvir um ator numa voz que não é a dele. É uma caricatura da obra original que impede sua apreciação plena. Embora a maior parte da população, talvez por uma falta de hábito na leitura de legendas (ou de ver o cinema apenas como simples distração de fim de semana e não ter uma maior apreciação pela obra cinematográfica em sua totalidade), prefira o filme dublado. Não é a toa que os cinemas brasileiros ofereçam mais opções para as cópias dubladas. É o caso agora do novo filme de Martin Scorsese, e o primeiro filme dele em 3D estereoscópico, A Invenção de Hugo Cabret, que nos cinemas locais somente estão disponíveis cópias dubladas. Particularmente me recuso a assistir. Prefiro esperar o DVD ou Blu Ray para poder apreciar a obra em sua totalidade. Mesmo que exista na maioria dos filmes dublados o apelo do simples e descartável entretenimento, a dublagem ainda consegue provocar um empobrecimento maior do filme.

O mesmo acontece com a exibição pelo canal Fox de um dos mais interessantes seriados da TV, The Walking Dead que, graças a liberdade que a internet ainda dispõem (apesar de todas as tentativas contra ela através de leis como a SOPA e ACTA, além das ações recentes do FBI sobre alguns sites), ainda posso contar com a escolha de ver uma obra áudio-visual em sua originalidade, sem a incômoda intervenção da dublagem, que vejo como uma verdadeira violação na obra original. Ou seja, se de fato cometo um crime ao baixar um episódio de um seriado estrangeiro, este crime não deixa de ser, de certo modo, motivado por outro crime: a dublagem. E ainda acrescento mais um crime cometido por essas “filiais” nacionais dos aglomerados empresariais do entretenimento: a falta de liberdade de escolha entre uma obra legendada (e sem cortes) e a obra dublada.

Na indústria cinematográfica ainda há outros tipos menos violentos, mas que também me causam estranhamento. É o caso de ver atores de um país, falando sua própria língua, interpretando personagens de outro. Exemplo: atores norte-americanos interpretando personagens franceses falando em inglês, como no filme sobre os poetas franceses Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, Eclipse de uma Paixão (Total Eclipse, 1995), interpretados por Leonardo DiCaprio e David Thewlis, respectivamente. Mas isto também remete a uma exigência do público norte-americano que se recusa a assistir algo que não seja no seu próprio idioma. Mas, diferentemente do Brasil que dubla os filmes estrangeiros, a indústria hollywoodiana refaz todo o filme, como foi o caso dos filmes suecos Deixe ela Entrar e Os Homens que não Amavam as Mulheres.

Entretanto, nadando contra a corrente do mercado cinematográfico norte-americano (embora tenha focado estrategicamente no público cristão), há o exemplo do filme A Paixão de Cristo (The Passion of the Christ, 2004) de Mel Gibson, que optou ousada e inteligentemente para que a fala dos atores fosse em aramaico e em latim (línguas da região e da época em que o filme se ambientava), o que daria mais veracidade. Ainda assim, teve sua versão dublada no Brasil, o que fere a proposta original..

Mario Rasec

Designer gráfico, artista visual, ilustrador e roteirista de HQs. Autor de Os Black (quadrinho de humor) e de outras publicações.

12 Responses

  1. Mario Rasec disse:

    ps: Acabo de ser informado pelo twitter, pelo pessoal do @vivonocinema, que “´A Invenção de Hugo Cabret’ terá uma sessão 3D legendada às 21h40 no Moviecom”. para quem estiver de carro é uma boa (e talvez) única oportunidade de assistir legendado. eu espero que o horario fique mais democrático daqui uns dias.

    • Mario Rasec disse:

       o que defendo é a originalidade da obra (de como ela foi originalmente composta etc) e a liberdade da opção entre legendado ou dublado. não estou querendo impor para aqueles que tem dificuldade em acompanhar as legendas, por “n” motivos, sejam obrigados a assistir filmes legendados. mas quero minha opção garantida de assistir uma obra com o som original do filme garantido. afinal, cinema não é só imagem, é som tambem e esse som pode fazer toda a diferença. (salvo é claro o cinema mudo)

      • Mario Rasec disse:

         além do mais, a questão da voz do ator é de suma importância,
        pois é na sua voz, na tonalidade (etc) desta, que também podemos perceber a
        qualidade da interpretação. lembro agora do filme Snatch – porcos e diamantes,
        onde Brad Pitt tem todo um modo peculiar de falar, importantíssimo para a
        trama. modo este que se perde numa dublagem.
        espero que tenha ficado claro minha objeção a dublagem.
        caro.

  2. Dinix disse:

    Quanto a Hugo Cabret, e sua pretensa aurea de “filme-familia”, acredito que os exibidores daqui decidiram apostar em um publico-alvo especificamente juvenil, pouco afeitos a legendas. É claro que a falta de opções poderá assinalar o fracasso da estratégia. A homenagem de Scorcese a Melies tem um alcance muito maior. (e sim, o filme se passa em Paris, mas todos os personagens falam inglês com tom britânico, o que é realmente desconfortável).

  3. Arnaldosilva disse:

    Se for por originalidade, não leia as legendas tambem. 

  4. 35osvaldo disse:

    as legendas me atrapalham, pois prefiro o filme com o audio original. Essa praga das legendas.

  5. O filme é muito bem feito. É de ver e rever, com muitas reflexões. Está longe de ser “filme-família”. 

  6. Dilma disse:

    Data: 13/07/2010 10:07De: maria IP: 201.0.180.145Assunto: Pedido
    LEIA SOZINHO porque no passado eu também não acreditava que ia dar certo, mas… funciona mesmo!!! Entrei neste site e fiz esta prece. Fiz para ver se ia dar certo e deu, assim que acabei meu amor ligou. A pessoa que eu copiei também não acreditava mas para ela também funcionou! AGORA VEREMOS… Diga para você mesmo o nome do único rapaz ou moça com quem você gostaria de estar (três vezes)… Pense em algo que queira realizar na próxima semana e repita para você mesmo (seis vezes). Se você tem um desejo, repita-o para você mesmo (Venha cá ANJO DE LUZ eu te INVOCO para que Desenterre o mdnm de onde estiver ou com quem estiver e faça ele ME telefonar ainda hoje, Apaixonado e Arrependido, desenterre tudo que esta impedindo que o mdnm venha para MIM m, afaste todas aquelas que tem contribuído para o nosso afastamento e que ele mdnm não pense mais nas outras… mas somente em MIM. Que ele ME telefone e ME AME. Agradeço por este seu misterioso poder que sempre dá certo. Amém…). Só mesmo esta simpatia, quero compartilhar com você a minha alegria e mostrar que se para mim deu certo para você também dará basta copiar e colar por três vezes em inforum diferente esta simpatia abaixo e logo em 48hs você terá uma linda surpresa, beijos

  7. Rafael disse:

    Paixao de Cristo dublado??? Quando??? Assisti no cinema legendado. Em dvd era legendado e até quando foi exibido na TV (pela Record) era legendado!!! Era uma exigencia do diretor Mel Gibson que o filme nao fosse dublado…

  8. Jaza_fox disse:

    Sobre os americanos fazendo personagens de outras nacionalidades, também foi muito estranho ouvir Andy García recitar “A las 5 de la tarde” em inglês, apagando a melodia e dramaticidade que vêm com o poema pensado, sentido e escrito em espanhol por Federico García Lorca, no filme LORCA – original:The Disappearance of Garcia Lorca.

    Mas podemos pensar que, assim como os livros têm que ser traduzidos para outros idiomas de modo a que outros nacionais possam conhecer uma obra, assim também podem os cineastas produzir filmes em inglês para contar um importante episódio a seus compatriotas, como o caso da guerra civil espanhola contado aos americanos (australianos, irlandeses…) e de outras nacionalidades que não compreendem o espanhol.

    Ah! Também prefiro os filmes no original, mas sou a favor de que haja opção para os dublados e os originais. Temos idade tecnológica suficiente para que ambas versões (e até mais) possam coexistir.

  9. Me perdoe uma correção… a língua original era o ARAMAICO e o GREGO, não LATIM. Latim foi uma imposição do catolicismo romano, séculos após a morte de Cristo. Nem Jesus nem os apóstolos falavam latim. Recomendo q corrija seu texto que, a propósito, é muito bom. Parabéns.
    Aqui em Arçatuba, interior de São Paulo, tenho enfrentado problemas. Não é que temos poucos filmes legendados… nós simplesmente NÃO TEMOS NENHUM filme legendado em nossos cinemas (monopólio do Cine Araújo). lamentável.

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