Rio Grande do Norte, sexta-feira, 17 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 16 de maio de 2012

SINTRO, SETURN e MP trabalham em prol do aumento da tarifa de ônibus

postado por Daniel Menezes

Imagem: zirconicusso

Uma união de forças “obscuras” ocorre em Natal. SINTRO, SETURN e agora o Ministério Público trabalham em prol do aumento das passagens de ônibus.

O SINTRO produziu uma greve irresponsável e sem colocar o mínimo efetivo nas ruas de 30%, de acordo com a lei. Estranhamente, paralisou às atividades quando o SETURN entrou na justiça, pedindo aumento da tarifa cobrada. Pode até não ter sido a sua intenção (cultivo minhas dúvidas), mas o resultado prático de sua ação, conforme enfatizei em texto anterior, está sendo o de pressionar pela elevação de preço das passagens.

Que fique claro. A pauta dos cobradores e motoristas é legítima (reposições salariais, unificação de vale alimentação/transporte, etc. Tem até motorista rodando a noite inteira sem receber o jantar da empresa). Suas reivindicações foram consolidadas em acordo firmado entre SINTRO e SETURN, através da mediação do Tribunal Regional do Trabalho, que não se pronunciou sobre o assunto, mas fez um pedido totalmente descabido – quer que 70% dos grevistas retornem. Ora, baseado em que a Justiça do Trabalho pede retorno de 70%, se a lei de greve manda apenas 30%? Faltou explicar esse número para todos.

A ação do Ministério Público não é nem digna de nota. Ontem tentou apagar o fogo com gasolina, ao pedir a prisão do presidente do sindicato dos trabalhadores rodoviários. Portas fechadas para o diálogo. E hoje fala em elevar a passagem para um valor de R$ 2,30 como meio de resolver a situação. O Ministério Público está a favor de quem? Dos empresários? Fica a pergunta.

Mais uma vez. Ainda que não tenha sido sua intenção direta, o SINTRO criou o ambiente sonhado pelo SETURN. Tanto é que representantes dos empresários de ônibus coletivo já aproveitam o cenário para pedir a diminuição do Imposto Sobre Serviço que incide sobre a passagem e trabalha nos bastidores e na própria justiça para fortalecer a ideia de aumentar o valor da tarifa de ônibus.

Os empresários do setor reclamam de supostos prejuízos, mas são os maiores doadores de campanhas políticas da cidade. O dinheiro que falta por um lado, jorra por outro.

Agora, também estranhamente, as obrigações sociais do SETURN foram, mais uma vez, secundarizadas. Os empresários do setor atuam em uma atividade pública, como é o de transporte urbano coletivo. Para terem o direito de explorar as linhas, devem apresentar contrapartidas sociais, tais como prestar serviço de locomoção para deficientes físicos, o que não vem sendo cumprido. Além disso, empresários já se acostumaram a não atender as melhorias mínimas acordadas com a Prefeitura do Natal e o Ministério Público. Os ônibus não cumprem horários, são escassos e desconfortáveis. O MP vai pedir a prisão do presidente do SETURN também?

Uma cidade como Natal, que tem mais de 450 mil usuários de transporte urbano, não pode se render ao interesse de meia dúzia de empresários, sobretudo porque suas concessões estão vencidas. Eles precisam renová-las. E aí pode ser um bom momento para construir um transporte coletivo com valor justo e serviço de qualidade. Prefeitura e MP devem agir também, abrindo a caixa preta do SETURN, para saber se valor cobrado hoje é condizente com serviço. Um jeito mais racional de sentar a mesa com quem, em tese, apresenta interesses antagônicos com os da sociedade. Promessa de campanha de Micarla de Sousa, as licitações estão marcadas para agosto deste ano.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

13 Responses

  1. Assino embaixo Daniel. Concordo com cada linha.

  2. Daniel Menezes disse:

    Opa, obrigado por prestigiar nosso trabalho. abç.

  3. Daniel Menezes disse:

    Esqueci de mencionar das dívidas de impostos que o SETURN sistematicamente deixa de pagar.

  4. Henrique disse:

    Disse tudo Daniel.

    #LicitaçãoJá

  5. Sales disse:

    Compartilho a sua indignação, Daniel. A conta sobra pros usuários do sistema. O coringa Eduardo Rocha (dirigente do América, dirigente do Sindipostos/RN, e advogado da SETURN) ainda teve o cabimento de dizer que o setor paga o “sexto maior” salário do nordeste aos trabalhadores. Esqueceu de dizer que o usuário natalense paga a terceira tarifa mais cara do nordeste.

  6. Cyber_guto disse:

    babozeira… a greve sempre teve o intuito do aumento de passagens. Seria inocência acreditar q não tenha se iniciado por ordem dos empresários.

    Se a greve fosse honrada o certo seria não cobrar passagens dos usuários e assim realmente atingir os Patronais e todos sabem disso mas o interesse é outro.
    E digo mais, deveriam já estarem presos os irresponsáveis do sintro. Greve não é palanque pra sindicalista fajuto nem férias pra rodoviário descomprometido. Greve é um direito digno e sério, com limitações como qualquer outro direito: o direito de outrem.
    0%? como pode 0%? a quanta irresponsabilidade chega um sindicalista desses que apoia a parada integral de um serviço essencial como de transportes?
    Pra concluir, quem escreveu isso não anda de ônibus na nossa capital porque se andasse saberia que nem os 100% são satisfatórios em dias normais do cotidiano. Como 30% daria conta? nem minimamente! alem do que, nota-se que a greve sempre foi ilegal por nunca terem respeitado os 30%, nem antes nem após a medida judicial. Um cidadão desses ou não tem ideia do prejuízo que causa a sociedade ou não liga. Irresponsáveis.

  7. Daniel Menezes disse:

    Cyber,

    não afirmei porque não tenho certeza. Porém, de fato, o resultado prático é o de atender pleito patronal.

  8. Linhares1984 disse:

    Daniel, vejo que os comentarios do texto anterior lhe trouxeram uma reflexão mais clara para a situação, e sinceramente fico muito feliz.
    Lembro a voce novamente que TODO ANO este é o periodo de data base, é somente neste periodo que se pode pleitear alguma para categoria. O SETURN de forma sabia, procurou um aumento de passagem a justiça de forma vazia( como vc deve ter visto na materia da tribuna) sabendo que existia uma pressão eminente de uma categoria que espera uma pendencia do ano passado e exige uma solução e que o movimento tomaria esta dimenção.
    É fato e esperado que a licitação reestruture e mostre alguns pontos que ainda precisão de uma melhor definição, o que echo dificil é a licitação sair do papel(poucas cidades no Brasil  a conseguiram infelismente).
    Contudo da Daniel, acredito pelo que vejo dentro da categoria, que não é a licitação que vai acabar com o movimento de greve nos proximos anos, explico: A categoria vem sofrendo anos com percas salarias e o SINTRO avaliar ter um trunfo na mão, a copa de 2014( pra quem acredita nela). Como vc é bem informado deve saber que não Africa do Sul varias demandas sociais aproveitaram o momento para suas reinvidacações, ou seja mesmo com a licitação isto é fato, não viram motorista de marte justo com a licitição.
    Só me preocupo com visões limitadascomo a do cyber_guto, prisão não é lugar de trabalhador, sera que se fosse a policia civil, médicos ou funcionarios do judiciario  a prisão seria um apelo popular?

  9. Cyber_guto disse:

    Exato,
    Linhares1984, prisão não é lugar de TRABALHADOR. Mas admita que os irresponsáveis quando desde o início do movimento escolheram tomar vias ilegais para fazer da situação um palanque em ano eleitoral deixaram de ser trabalhadores para se tornarem criminosos. Terroristas sociais. Isso é notório.

    Não importa se há greve na china ou em mossoró. Não importa se há ou não direitos trabalhistas sendo defasados pela classe patronal. Isso são outras questões que podem e devem ser discutidas de forma LEGAL, no minimo.Por sinal, porque então as outras greves (muitas em andamento) não precisaram agir dessa maneira? Por que a classe médica, como citou, a classe dos enfermeiros, respeitam a legislação e a justiça e os rodoviários podem desafiá-la? – eles não podem.
    O que não se discute é a forma irresponsável e inconsequente com a qual os dirigentes se posicionam. Um absurdo, terroristas criminosos. Pessoas como estas não podem ser lideranças nem em conselho comunitário.

  10. Altanir Morais disse:

    de que lado vcs sambam vei? greve dos patroes? de onde vcs tao tirando essas ideias mirabolantes, fico muito triste em ver que profissionais (sociologos) de uma grande qualidade, postem documentos tao absurdos fortalecendo o discurso da queles que querem criminalizar e enfraquecer a luta dos trabalhadores… antes da carta potiguar q pra mim e um meio de comunicaçao importante das esquerdas potiguares postarem isso, deveriam averigua as informaçoes corretas, pois o preju dessa greve foi mais de 1milhão para o seturn, e a respeito doq é responsavel ou irresponsavel, acredito q o amigo ai foi muito infeliz, pois esse mesmo meio de comunicação anteriormente postou varias situações de luta dos trabalhadores onde a galera fechou vias inteiras e ao olhar de alguns “travou o direito de ir e vir”, entao gente cuidado, para nao cair no discurso das elites potiguares, muitas aguas vao rolar, e se nao for oq esta colocado por esse camarada, espero que ele com toda essa bagagem de formaçao academica possa vir aq e corrigir essa sua afirmaçao, que repito, ao meu ver nao corresponde com a realidade da greve, nem muito menos com a correlação de forças que esta pré estabelicida em nossa cidade…

  11. Griffith disse:

    A licitação para concessão do transporte público municipal rodoviário será vencida pelas mesmas empresas que estão agora, ou seja, tudo ficará como antes no quartel de abrantes.
    Dois dados: Natal tem a 19ª tarifa mais cara das 27 capitais, e a 3ª maior do Nordeste.
    Recife, Fortaleza e Belem, maiores territorialmente, tem a passagem a 2 contos.

     

  12. Linhares1984 disse:

    Pois é Altanir eu confesso que também me assustei, como aluno de C. Sociais eu fiquei meio assustado de cara, teoria da conspiração é forçar  a barra, como estudante de Ciências sociais tive a oportunidade que conhecer as relações dentro do movimento e por isso tenho a possibilidade de tratar o tema, acredito que para falar sobre algo temos que no minimo ter a responsabilidade de conhecer o tema, especular na sociologia é condenável, pelo menos foi assim que aprendi.
    Cyber, vai em uma delegacia quando a policia civil estiver em greve, se vc conseguir alguma coisa me avisa.

  13. Américo disse:

    Muito bom mesmo o texto. Uma análise sobre os principais pontos do tema. Assim como você, Daniel, essa greve me cheirou a algo orquestrado entre sindicatos para permitir o aumento de passagens.

    Tanto que o resultado não foi dos mais vitoriosos para os trabalhadores (6% de aumento) e, mesmo assim, o movimento grevista cedeu. Está cansativa essa balela de que os empresários pagam muitos impostos e encargos.

    Como você bem frisou, poderiam usar o dinheiro do caixa dois das campanhas para atuarem de forma escorreita. Se algum dia for aprovado o financiamento público de campanha, teremos uma formidável chance de oxigenar o transporte público municipal.

    Do jeito que está, entra e sai governo e continua o mesmo enredo: greves anuais; baixos ganhos para os trabalhadores; aumento de tarifas anual; ausência de contraprestação eficiente do serviço; etc.

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