Rio Grande do Norte, domingo, 28 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 26 de julho de 2012

Voto: o placebo contra a convulsão social

postado por David Rêgo

Toda época de eleição tenta-se desviar o foco de um dos reais problemas do Brasil.  Não é a corrupção a principal responsável por uma série de desgraças no país, e sim a falta de leis que garantam uma menor desigualdade entro os salários pagos e os lucros obtidos por muitos empresários. A corrupção, em média, não atinge nem 2% do PIB nacional e é sempre colocada como a grande mazela da nação, o seu grande problema.

Porém, calam-se sobre a concentração de renda. Vivemos em uma nação onde alguns ganham R$ 600,00 por mês, enquanto outros milhões. O problema do brasil é concentração de renda. Ela colabora enormemente para o surgimento da própria corrupção (poder econômico muito grande acaba-se transformando em poder político facilmente através de financiamento de candidaturas ou de jornais etc.). A democracia na forma do Sufrágio universal foi a melhor ilusão que a burguesia criou até hoje, com esta ilusão conseguem gerar no povo a sensação de que o problema da nação é tão somente a corrupção de seus governantes. Esquecem-se de nos dizer por quem são governados os governantes. Qual candidato, até hoje, teve como bandeira, por exemplo, uma reforma tributária imediata? Não me recordo se chegou a existir. São poucos os que ousam tocar no assunto. O voto, pode até gerar uma “sensação” de bem estar, de mudança, mas é puro placebo.

É preciso criar estruturas que garantam uma maior participação da pequena empresa e limite as fatias de mercado dos grandes conglomerados para diminuir seu poder econômico. É preciso criar condições culturais que possibilitem que o pequeno produtor possa transformar seu comércio em uma tradição, e permanecer ali por gerações, desde que oferecendo um bom serviço.

Aqueles que viveram a realidade da UFRN entre 2002 e 2010 pode entender bem do que falo. As “cantinas oficiais” mais pareciam chiqueiros. Ambientes sujos, sem cuidados e caros. Observando isso, o “pequeno produtor” começou a invadir aquela fatia de mercado até então monopolizada pela “grande cantina” e ganhar clientes. A famosa “coxinha da tia” fazia com que centenas de alunos deslocassem-se de um setor de aulas para outro, como único objetivo de obter uma mercadoria de melhor qualidade e mais barata do que aquela encontrada no grande vendedor.

O poder econômico sem limites é uma ameaça à todos, até mesmo a própria liberdade de escolha do cidadão. O “grande comércio” muitas vezes só se mantém devido aos desmandes do próprio poder público, a julgar a situação das linhas de ônibus em Natal. Ruins, quentes, caras e com trajetórias sem o devido planejamento etc. etc. etc.

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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