Rio Grande do Norte, quinta-feira, 16 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 17 de outubro de 2012

Falta de Heróis na Segurança Pública

postado por Ivenio Hermes

Nossos policiais não são heróis?

Por Ivenio Hermes

“Bandido favelado não se varre com vassoura, se varre com granada, com fuzil, metralhadora.” (Trecho de grito de guerra para corridas e marchas)

 

 

 

Meus Heróis Morreram de Overdose

O desgaste com a figura do policial aumenta mais, mesmo que a sociedade brasileira tenha apreendido a respeitar mais esse profissional tão utilizado como instrumento de imposição de vontades do Estado e que acaba por angariar a antipatia generalizada.

Como se não bastasse, ainda se não fosse uma prática ridícula de muitos pais repreenderem seus filhos dizendo que “vão chamar o guarda”, desde cedo incutindo na cabeça da criança que o policial está ali para repreender, reprimir, castigar, gerando nesse futuro adulto um medo, um receio ou até mesmo uma desconfiança desse tipo de profissional.

Corroborando para sujar mais ainda a imagem do policial, as redes de televisão em suas teledramaturgias, quase sempre só mostram o lado da corrupção, da falta de capacidade técnica, da morosidade da prestação do serviço da segurança pública.

Nessa arte a Rede Globo sai na frente sempre ridicularizando as polícias e de vez em quando adoçando a boca de seus telespectadores como com uma ou outra minissérie que trata o assunto mais pertinentemente, contudo deixando muito a desejar com seus personagens estereotipados e fugazes.

Nos telejornais e jornais, as notícias de heroísmo policial repercutem, exagerando o quadro, uma semana, mas caso de erros são temas de debates e em casos graves até viram filmes.

A figura do policial herói nunca existiu no Brasil, no máximo temos os bombeiros que são reconhecidos assim e já tivemos alguns personagens como o Vigilante Rodoviário, Alice, a Patrulheira, mas todos com curta duração na ficção e logo caíram no ostracismo, afinal, o apelo deles ao heroísmo ia contra a “outra realidade” divulgada nas diversas mídias.

Ao invés de dizer que seus heróis morreram em serviço, deram a vida no exercício da profissão policial, tombaram ao defender aqueles que juraram defender portanto cumpriram seu dever de ofício, para a juventude e para a sociedade brasileira é mais fácil, mais correto e muito mais válido dizer que seus heróis morreram de overdose, não fazendo alusão aos agentes da lei, mas aos ícones pop que assim partiram.

A Pior Contribuição Para o Estigma

Sensação do momento, as UPP (Unidades de Polícia Pacificadora), promovem um dos maiores engodos que a segurança pública do Rio de Janeiro já presenciou. A mídia, grande coadjuvante, e por que não dizer fomentadora desse show, promove o evento como megaprodução, ela tem o interesse de captar os olhares famintos dos expectadores e gerar neles a falsa sensação de segurança que esse projeto está trazendo.

As UPPs mascaram e desviam os olhares do foco principal que é o crime organizado que apenas muda de sede ou de habitat, onde os criminosos, numa migração provocada pelo embate e pelo cerco promovido pelas forças de segurança, partem em fuga para um novo sítio de assentamento de atividades.

É por isso que a Capital do Rio de Janeiro, que sediará grandes eventos nos próximos anos, goza do privilégio da pacificação enquanto outros municípios como Niterói, São Gonçalo, Araruama, Maricá, Cabo Frio e outras desfrutam da presença de seus novos e incômodos inquilinos, que vieram para se tornarem donos.

As histórias das ocupações têm sido o fator acessório para contribuir com a feiura do caráter geral dos policiais. São constantes denúncias de fugas de bandidos usando uniformes, outras fugas por rotas que não foram mapeadas pela fase preliminar do planejamento operacional. Criando sérios nódulos na desgastada indumentária moral do policial brasileiro.

Durante o processo de ocupação, ao utilizarem os barracos das famílias como rota alternativa para alcançar o objetivo, frequentes são as denúncias de desaparecimento de objetos das casas dessas pessoas, criando nelas uma revolta, pois isso nem era praticado pelos chefes do tráfico.

Avolumam-se as queixas sobre corrupção nas áreas pacificadas, policiais estariam fazendo alguma espécie de acordo para fazerem essa ou aquela concessão para alguém.

E não adianta passear com a moto lotada com crianças, aliás, sem querer ser puritano, mas já é um mau exemplo, pois o gesto é meramente representativo para a exposição na mídia, embora acredite-se na honestidade de propósito do policial. Mas fica parecendo uma imagem hipócrita, que não resgata a imagem do policial, ela continua dissociando e até ensinado assim desde a pré-escola.

A criança continuará com medo daquele “seu guarda”, que hoje a tem no seu colo, mas que no futuro, a terá no paredão, sendo algumas vezes revistada de forma humilhante e desnecessária. Na mente da criança não ficará gravada o imortal momento capturado pelas lentes do fotógrafo, e sim o receio daquela tropa de elite com suas canções que incitam a violência e o extermínio.

“Homens de preto, qual é sua missão? Subir o morro acima e deitar corpos no chão.” (Trecho de grito de guerra para corridas e marchas)

A Seguir:

No próximo texto veremos como certos cursos de formação policial, cursos de formação de grupos de elite, não cumprem o fim a que se destinam e ainda, com cargas de excessos em alguns aspectos, provocam a criação de grupos de extermínio e incentivam a impunidade.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

One Response

  1. Linaldo Macário disse:

    Excelente texto.

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