Rio Grande do Norte, quinta-feira, 16 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 11 de novembro de 2012

O pano de fundo da disputa entre seguranças e alguns estudantes na UFRN

postado por Daniel Menezes

A ocupação da reitoria da UFRN terminou, conformes vocês devem ter lido aqui na Carta Potiguar.

Foi estabelecido um consenso acerca da pauta, que irá nortear, dentre outras questões, a relação entre seguranças, UFRN e discentes.

Evasiva em muitos aspectos, ou precisando de maiores definições (veja os termos do acordo aqui: https://www.cartapotiguar.com.br/2012/11/10/termina-a-ocupacao-da-reitoria/), a disputa entre alguns alunos (uso a palavra “alguns” para não cair na retórica de que o grupo que ocupou a reitoria representa os estudantes, como se existisse consenso entre os discentes sobre as estratégias políticas adotadas, pauta, etc. É fato, e não gosto de lutar contra eles, que pouquíssimos alunos deram algum tipo de apoio a ação), principalmente, do setor II, e a reitoria têm questões de fundo. Numa linguagem já tida como superada, “a essência por trás da aparência”.

Vou esquematizar ponto por ponto para não ficar a mercê de silogismos retóricos.

01) Os seguranças precisam de mais treinamento. Os estudantes pediram “formação humanística” para os terceirizados. Apesar da terminologia necessitar de maior definição acerca do que significa “formação humanística”, já que as duas noções (“formação” e “humanística”) não são “evidentes”, a perspectiva é adequada e não há porque se opor a tal ponto de pauta. Penso até que a reitora já poderia ter tomado a medida e impedido que a situação chegasse ao patamar que atingiu (se antecipar aos fatos não é o forte da reitora);

02) Porém, que isso sirva para todos. Os estudantes não querem ser incomodados em seus vícios privados impostos a terceiros no espaço público e desejam manter as festas na madruga sem serem atrapalhados. Não é novidade para ninguém, que, no setor II, as pessoas fumam maconha nos corredores e que há festinhas produzidas no espaço público, que não é autorizado para tanto (o próprio caso do tiro para o alto do segurança contra os alunos começou com esses ingredientes). Pouco me importa se está fumando maconha ou cigarro. Já ultrapassei esse preconceito. O que está em questão é que, assim como o cigarro, maconha é um vício privado e não deve ser empurrado goela abaixo de quem não se submete a ele. Nesse aspecto, são discentes que querem privilégios e não direitos;

03) Os discentes também precisam produzir uma relação “humanística” para com os seguranças, que são trabalhadores, também têm família, etc. Os seguranças, os verdadeiros silenciados, não ouvidos na disputa – tomei a iniciativa de conversar com eles, respeitando a máxima foucaultiana de fazer os discursos emergirem e não apenas “as falas que me interessam”, como fizeram os discentes -, reclamam que os alunos da ocupação os xingam de “analfabetos” e questionam, em tom de superioridade aristocrática: “você já leu algum livro na vida?!”. Em resumo, o velho racismo de classe da classe média, ou daqueles que supostamente se mostram portadores de capital cultural, contra os pobres.

São os três pontos fundamentais que compõem a arena de disputa.

Finalizando,

01) os seguranças necessitam de treinamento para entender a realidade da UFRN, questões de gênero, etc;

02) mas também os alunos envolvidos devem respeitar o espaço público, sem impor seus vícios e festas a quem não é obrigado a aguentá-los. Um corredor de um setor de aulas não é a minha casa, nem a de ninguém. Eu tenho os meu e também faço as minhas estripolias, no entanto, ninguém tem a obrigação, nem muito menos a instituição, de suportá-los (quando o aluno não entra em sala nitidamente drogado, ou bêbado, atrapalhando a aula do professor). Do contrário, direito vira privilégio e o espaço público é norteado pela tirania privada de um e de outro;

03) Os seguranças, caros alunos, também são gente. Não há a necessidade de criminalizá-los. Merecem respeito do mesmo modo como vocês. Isso não deveria nem ser pedido. Vamos estabelecer sanções para isso também?

PS. Quem vão ser e como serão escolhidos os discentes, que irão participar das comissões criadas?;

PS.2. DCE-UFRN, cadê você?

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

15 Responses

  1. Caio Cesão disse:

    O DCE da UFRN ainda está empenhado na campanha: #MineiroSegundoTurno.

    Quando terminar, eles voltam pra ajudar na UFRN.

    • Paulo Emílio disse:

      uhaeuahhuaehHUEAHUEhuheAHUAuhEHUAEHUAEHUAEHUAEHUAEEAUH

      Essa foi ótima. uhaeuhaeuhehuaeuauuheuhuhahuaehae

    • Pelo visto você está tão bem informado que nem sabe da composição da nova gestão do DCE, outra coisa o DCE não é pra “ajudar a UFRN”, se eu fosse você leria o estatuto, e por último: se ao questionar o DCE você menciona Mineiro está diretamente se referindo ao coletivo petista que atua politicamente na instituição e integra o coletivo Até que tudo cesse, nós não cessaremos escrevemos uma nota de apoio à ocupação, se você procurar você acha, tenho um conselho pra ti: antes de cagar: veja se tem papel!

  2. Daniel Menezes disse:

    Caio,

    venho criticando veladamente e agora de modo aberto a inércia do DCE. Faltou uma manifestação de maior envergadura.
    Parece que não há estudantes envolvidos.

    • Paulo Emílio disse:

      O DCE da UFRN não aparece desde 2007, quando, finalmente, o grupo que se dizia independente, assumiu posição partidária. A JPT não bate de frente com a reitoria…. não é a toa que ganharam até uma mesa de sinuca.

  3. Festas e sessões comemorativas são autorizadas no espaço público em questão. Encerramentos de encontros e seminários são comemorados com bebidas e som ao vivo, isto não é novidade e você ainda tenta criminalizar esses acontecimentos. Torpe texto, especialmente pela parte da “imposição” dos vícios e festas de uma minoria do Setor II à toda Universidade, visão que reforça estereótipos e preconceitos, escondendo acontecimentos como a destruição de vários pequenos espaços de convivência e fumo, que não representam incômodo para ninguém, muito pelo contrário, preservam os que se sentem incomodados (pura hipocrisia) em ver pessoas fumando maconha. A revolta contra os maconheiros do setor II não está lhe rendendo bons argumentos, Daniel.

  4. Daniel Menezes disse:

    Girlane, eu não falei em festas com a sua acepção. Leia novamente. Além disso, em nenhum momento, eu criminalizei nada, nem ninguém.
    Falo em “festa” para me referir a duas questões: “festas” que são produzidas nos corredores de aula no momento em que os cursos estão se processando (não nas festas agendadas ou organizadas em outros momentos [está claro, peço que leia]);
    e, segundo, a uma festa específica, que ocasionou o incidente dos tiros, mas que você e eu sabemos bem não estava acontecendo no setor II, mas no espaço destinado para tanto. Os alunos que foram para lá na madrugada.
    Eu fiz referência ao uso de maconha em espaços coletivos de convivência, tais como acontece nos corredores de aula do setor II. Sou contra ao uso de maconha num corredor do setor pela manhã, como sou contra e a instituição assim já atua, a ingestão de bebida alcoólica. Não sei se é de sua época, mas antigamente litros de bebida eram levados para lá e consumidos por alunos, nos horários de aula, criando alguns transtornos. A UFRN se viu obrigada a impedir. Bem, adoro beber, inclusive, as mesmas cachaças que eram levadas para lá. No entanto, me colocaria contrário da mesma maneira.
    Não tem nada a ver com preconceito, criminalização. Aliás, estes são os habituais argumentos retóricos auto-vitimizadores de quem só quer direitos, mas não quer estabelecer compromissos comunitários e tenta controlar ideologicamente o debate, ou seja, santificando estudantes e demonizando seguranças, que cumprem o papel de trabalhadores e que apenas precisam de mais treinamento. Não são agentes do mal, como alguns discentes vomitam pelos corredores.

  5. Racismo de classe? kkkkkkkkk Sempre levei a Carta Potiguar a sério, mas diante do absurdo desse texto, sinto como se esse espaço agora fosse reservado a uma briga infinita de egos entre pseudo-intelectuais, cada qual querendo transformar seu ponto de vista em recurso teórico, nunca vi tanto blábláblá num artigo de tão poucos caracteres, mas numerosos parágrafos, mais me parece o aurélio. Suponho que deveria pontuar meu texto para poder abranger todo o besteirol que você publicou. Mas há realmente algo que mereça ser destacado e que concordo com você plenamente: não houve um consenso com demais estudantes, nem tampouco o grupo representa em suas reivindicações a maior parte dos discentes desta “valorosa” instituição, não há consenso porque a universidade não está alheia a sociedade que a rodeia, apesar de se cercar para manter distante a mesma, não foge ao discurso do senso comum que bandido bom é bandido morto, que primeiro se atira depois se investiga, que gays não podem se beijar em público, que todo maconheiro é ladrão, uma sociedade que soma segurança à armada, ora sabemos muito bem e temos números reais de que os assaltos não diminuiram com o emprego do poder de fogo para a vigilância terceirizada, somente aqui na UFRN descobri que abuso de autoridade não está necessariamente ligado à patente do tenente da pm, mas o simples poder de fogo dá ao ser humano o status de autoridade suficiente para imprimir em uma ação contra estudantes o disparo de uma arma de fogo. No fim para quê? Sabemos que as câmeras de vigilância não tornaram os arrombamentos nos estacionamentos da UFRN menos frequentes, mas que apenas inibiram que alguns próprios funcionários (como temos caso) furtassem o patrimônio da universidade, bandidos eles? Ou apenas tantos outros TRABALHADORES mal-remunerados? Agimos e agiremos na mesma medida da ignorância empregada contra nós em nossas atividades ludicas dentro da universidade que é e se depender de nós continuará sendo um espaço de ampliação e troca de vivências e saberes para além da sua sala de aula e do retroprojetor, e quando qualquer um em porte de arma ou não inferir contra nós qualquer ameaça de privação de liberdade ou de acesso a esta universidade que é de todos, apresentaremos sim sua posição ingrata de servidor terceirizado que NÃO PODE ameaçar a vida de quem quer que seja dentro desse espaço e destas cercas. Tente prestar atenção no que vc escreve para não impôr a terceiros seu vício privado pequeno-burguês de necessidade de atenção pra poder teclar tanta besteira neste espaço publico que eu acreditava ser sério.

    • Daniel Menezes disse:

      Oi Juliana,

      eu não falei sobre beijo gay. A associação com a maconha no uso das dependências da instituição em horário de funcionamento ficaria mais honesta, do ponto de vista intelectual de respeito aos meus argumentos, com a ingestão de bebidas alcoólicas.

      Carícias trocadas entre heterossexuais ou homossexuais não ferem, em nenhum momento, o espaço público e o respeito ao outro.
      Você tenta me pintar como preconceituoso, apenas, para me desqualificar e não tocar no que, de fato, eu coloquei em jogo.
      Penso também, que pela sua fala, você tende a considerar “sério”, apenas, os veículos com os quais você concorda em 100% das opiniões. Do contrário, a fala do outro perde a “seriedade” para você.
      Bem, eu tento e acredito que consigo conviver bem com opiniões diversas. É mais democrático.
      Abs.

      • kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk quem lê o que eu escrevi vê como esse indivíduo distorce não apenas fatos, mas argumentos também! Eu vou resumir pra você: Levo a sério pessoas que averiguam fatos, lançam a todos o direito de voz para apuração desses fatos, e por último: não fazem ctrl+c; ctrl+v no texto do blog dos outros. Convivo muito bem com opiniões diversas, OPINIÃO! Senso Comum jamais!

    • Pedro Henrique disse:

      Não tem como te levar a sério mesmo, bixo!

  6. Pedro Henrique disse:

    É muita palhaçada mesmo né, basta ir no corredor do setor 2 que você encontra essa Juliana fazendo de TUDO menos indo assistir uma aula, a “patota da peteca” só quer fumar maconha mesmo, já que não se garante em acender um na cara de mainha e painho. Aquele C.A de Ciências Sociais é uma zona, djabo sabe o que acontece ali, eu rezo pra que seja só maconha, dai vão e abrem a porta, a fumaça toma conta do ambiente e quem ta ali na xerox tem que se foder sentindo a marola na cara e a criatura ainda tem coragem de dizer que não incomoda ninguém.. acho muito engraçado heaouiheauihea tenho pena dos alunos de Ciências Sociais, alunos que frequentam pelo menos a sala de aula e que não poderem usar a sala do C.A para os fins que ela foi destinada. Mas ai, é todo mundo fascista e todo aquele mimimi de discursinho anarquista porque a universidade é um lugar pra pensadores – bem, se fosse mesmo… essa galerinha nem taria lá, né? – e que tem que ser vida loka mesmo porque assim que é bom. Ninguém (alunos) do setor 2 apoiou essa palhaçada porque todos nós sabemos os verdadeiros motivos desse protestinho e dessa ocupação, poder fumar maconha de boa, ai vem o mesmo argumento de sempre “maconheiro não é marginal, a gente tem que se esconder pra fumar, não quero me esconder”, então vá fumar em casa e pronto..mainha não deixa? vão pra aula todo dia que vocês conseguem um emprego pra morar só e anarquizar até morrer, que saco. Essa galera tem que entender que a UFRN é uma ESCOLA (de ensino superior), que pessoas vão ali pra ESTUDAR (muitos até de menor), não o show do Planet Hemp, se dizem tão inteligentes mas não conseguem entender o mais óbvio né? Universidade é lugar de estudos, garanto que se tivessem em sala de aula nenhum segurança incomodaria, como eles não fazem com o resto dos alunos, mas não, tem que quebrar todas as regras da instituição (não só da instituição, mas de convívios sociais em geral) e se acham no direito, é porque essa reitora é muito boazinha, queria que esse “protesto” tivesse acontecido na gestão do Ivanildo, ai ia ser lindo! hahahaha

    • universidade é um espaço para se viver, se viver plenamente, esse era o pano de fundo do protesto, de poder-se gozar plenamente a vida sem preocupar-se com hipocrisia social, com coerção, com imbecilidades dessas manifestas no seu post. Ou a universidade é um espaço para se produzir conhecimento que sirva para a emancipação social ou é um laboratório de domesticação que serve a grande máquina do trabalho/capital.

  7. PV Azevedo disse:

    Então meu caro, entendo que vc tenta fzer um balanço crítico e no final das contas temos que nos nutrir até das contestações alheias e não condena-las

    Mas é um grande equivoco falar sobre certos tipos de relações cotidianas sem ao menos presencia-las, existem problemas que em algum momento se agravam, sim, acontece, mas como se falar que os alunos impõe seus vicios privados, e não respeitam espaços públicos?

    Acho que ao invés de se sustentar em hipoteses tendenciosas sobre a realidade, deverias fazer um exercício de campo e quem sabe perguntar aos funcionarios do setor dois, e estendo ainda mais, aos funcionarios da reitoria, qual e como foi a forma de tratamento que os estudantes tiveram em compartilhar e conviver nos espaços, respeito é pra quem tem. Antes de falar procure se informar, desça da torre de marfim, ou dos porões das salas de aula, o DCE está sumido, ou até aparelhado é verdade, mas os COLETIVOS AUTONOMOS são multiplos, e não se pretendem REPRESENTAR todos ou a maioria da suposta democracia.
    O que se pretende é APRESENTAR os problemas cotidianos e dialogar com eles com autonomia, viver a prática para estudar a teoria.

    Precisamos começar a viver nossas individualidades de forma coletiva,
    no lugar de continuar pensando coletivamente a nossa individualidade.

    Existem fronteiras nos jardins da razão….

  8. Daniel, o senhor poderia pensar mais sobre os preconceitos acerca do setor II que veicula. Já é bastante dificil para nós tentarmos lidar de igual para igual com pessoas de outras áreas justamente por conta desses preconceitos que vinculam espaços a práticas. Não bastasse isso, o senhor contribui para a permanência de outro preconceito, que é o relativo ao uso da maconha. Isso porque o senhor mantém a mesma visão moralista que sabemos que boa parte da sociedade alimenta e que é uma das razões para a criminalização da mesma. Se o senhor mesmo não a criminaliza, vai na mesma direção dos que o fazem. Ainda tenta se safar vinculando a maconha a antigas práticas de ingestão de bebidas alcoólicas, mas, como o senhor mesmo aponta, essas foram banidas da universidade. Nesse sentido, seu texto novamente isola a maconha ( porque o uso dessa se dá no presente, não no passado) e estabelece moralismos sobre ela. Aproveita-se ainda de seu posicionamento de “jornalista” (???) para dizer que você não gosta da erva. E parece que quase todos que andam pelo setor II (um setor II que existe mais na sua cabeça) concordam com sua postura. Tal postura que estabelece posicionamentos universais a partir de si são desprezíveis. Tais posicionamentos que usam de lugares de fala privilegiados para continuar preconceitos são desprezíveis.Seus textos, que tenho tido o desprazer de acompanhar, são desprezíveis porque seguem essa linha conservadora. Por fim, acho que o senhor também não zela pela vida alheia, na medida em que assume tão facilmente não só a voz (o que eu acharia nobre), mas também a vez dos seguranças da UFRN mesmo sabendo que um deles atirou na direção de vários alunos. A Carta Potiguar é de morte!

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