Rio Grande do Norte, domingo, 28 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 20 de novembro de 2012

A censura no cinema e o caso Ted

postado por Mario Rasec

O deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) ficou indignado ao levar seu filho de 11 anos a exibição do filme Ted (que tem como censura 16 anos). Pediu até mesmo o banimento do filme no território nacional. O mesmo declarou no twitter: “Assisti com o pequeno Juan o filme Ted. Uma cena de apologia às drogas: o ursinho Ted e seu dono consumindo drogas. Ministério da Justiça deve explicações… isso é um absurdo”. Além de comentar o fato do personagem (um ursinho de pelúcia) não gostar de trabalhar.

Se o deputado ficou tão irritado por achar que o filme era para crianças, imagino se ele já teve conhecimento do seriado em animação Family Guy do mesmo diretor do filme Ted, Seth MacFarlane. Assim como Ted, Family Guy (ou Uma Família da Pesada aqui no Brasil) não é de modo algum direcionado para as crianças. Mas essa ignorância ao achar que toda animação (e um ursinho de pelúcia falante) é necessariamente algo infantil, não parte somente do deputado. O longa-metragem da animação South Park era vendido entre filmes realmente infantis em uma rede de supermercados famosa, levando a possibilidade dos pais cometerem o mesmo erro. Mas é para isto que existe sinopse e indicativos para a idade apropriada do filme. O que o deputado não levou em conta ao levar seu filho de 11 anos, e, pior do que tudo, querer impedir que o público brasileiro e adulto assista e tire suas próprias conclusões.

Embora tenha tido seu pedido negado pelo Ministério Público, a censura em qualquer obra cinematográfica é, no mínimo, um retrocesso quanto aos direitos do individuo em escolher o que ele acha apropriado, deixando antes claro as informações sobre o conteúdo.

Martyrs (2008)

E isto faz lembrar a polêmica sobre o filme A Serbian Film e sua proibição no Brasil. Outros filmes foram proibidos em outros países por diversos motivos, dentre eles a violência das suas imagens e do seu conteúdo como Martyrs, Centopeia Humana 2 (banido do Reino Unido). Porém, o que os censores não levam em conta é que, por mais que seja violento e repugnante algumas imagens (ou mostre um urso de pelúcia fumando maconha), o público tem (ou devia ter) a plena liberdade de escolha ao decidir se deve ou não assistir uma obra cinematográfica com um conteúdo não tão convencional (ou mesmo ofensivo, apelativo etc.). Afinal, uma obra de arte deve seguir a direção que o seu autor (diretor/roteirista) determina, pois a logevidade e a relevância dessa obra irá depender do olhar do público. Entretanto, o que os censores fazem geralmente é supervalorizar a dita obra polêmica. Todos os filmes (discos, livros…) censurados ganharam mais público com a censura do que sem ela (independente de sua suposta qualidade artística). Um filme pode ser muito medíocre, em todos os aspectos, mas impedir sua exibição é, além de um retrocesso democrático (uma afronta à liberdade de expressão e aos diretos de escolha do público), uma supervalorização de algo que nem sequer merecia tanta atenção. E nos tempos de internet, qualquer garoto pode baixar um filme “proibido” por esses atentos censores.

As motivações por trás da censura de filme são variáveis. Dentre elas há motivações políticas e religiosas. Alguns exemplos de filmes proibidos (alguns retirados do site super.abril.com.br):

 

Eu vos saúdo, Maria (Je vous salue, Marie – 1985) de Jean-Luc Godard, banido da Argentina por ser considerado um insulto ao cristianismo. Censurado também no Brasil pelo então presidente José Sarney com apoio do cantor Roberto Carlos.

O Código da Vince (2006). A Igreja Católica se manifestou contra o filme, e em alguns países houve boicote e até a proibição da sua exibição por conter “referências que enfraqueceriam as raízes cristãs”.

 

A Última Tentação de Cristo (1998). Proibido em vários países pela Igreja católica que o classificou como herege. Embora, sua mensagem ao final do filme seja demasiada cristã.

 

Tomb Raider – A Origem da Vida (2003). Banido da China por, supostamente, mostrar o governo chinês desorganizado e conivente com sociedade secretas.

 

Mario Rasec

Designer gráfico, artista visual, ilustrador e roteirista de HQs. Autor de Os Black (quadrinho de humor) e de outras publicações.

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