Rio Grande do Norte, sexta-feira, 17 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 2 de dezembro de 2012

Carnatal: A festa não é sua, meu amor, não sorria.

postado por David Rêgo
A festa não é sua, meu amor, não sorria.

A festa não é sua, meu amor, não sorria.

Alguns, ao observarem as críticas feitas ao Carnatal, acreditam que tais reclamações viriam dos que não gostam dos estilos musicas apresentados pela micareta. Acreditam que muitos, por não gostarem de Axé, Pagode ou mesmo Música Baiana no geral, fariam suas críticas ao Carnatal tentando deslegitimar a festa unicamente em função do gosto musical. Não se trata bem disso. Negar ou criticar o Carnatal é uma ação política.

A cidade de Natal vive uma situação de caos. Lixo por todo canto, professores sem receber salários, médicos fazendo greve, etc. Ainda apesar de tudo isto a prefeitura de Natal dirige verbas públicas para a festa privada chamada Carntal.

Todo cidadão que sabe destas situações e ainda assim opta por ir ao Carnatal comete um crime contra si mesmo. Legitima sua própria dominação, literalmente ajuda a encher de dinheiro aqueles que nos dominam e tratam o bem público ao bel prazer. Saber da realidade da cidade e ainda assim ir ao Carnatal é a expressão máxima da chamada “atitude blasé”.

A impessoalidade, traço marcante do homem metropolitano irá produzir, no dizer de Simmel uma característica essencialmente metropolitana: a atitude blasé. Essa atitude é consequência do homem urbano ser massacrado com um turbilhão de estímulos ou acontecimentos quotidianos, aos quais depois de certo tempo deixa de reagir, sofrendo uma espécie de anestesia, que faz com que ele não se espante com nada, tenha uma atitude distanciada, um embrutecimento produzido pelo excesso de estímulos nervosos. Não escapando desse meio conturbado e intenso, o homem metropolitano não encontra forças e nem tempo para se recuperar.

“Eu não estou nem aí para isso, já trabalho o ano inteiro e quero é me divertir”. Esta atitude de “indiferença” em relação a política é o reflexo do “homem (ou mulher)” metropolitano que é incapaz de reagir a novos estímulos (o conhecimento da “corrupção” por parte dos dirigentes de festas que participamos) de forma adequada.

Este tipo de pensamento que coloca questões políticas e econômicas em segundo plano dando visão apenas para “a festa” e esquecendo-se de todo o cenário político e econômico em que se encontra a mesma apenas corrobora ainda mais para que continuemos a ter uma cidade dominada por uma elite econômica que não dá a mínima para a população e administra a máquina pública ao bel prazer.

Resumindo: o Carnatal é legal? Dá pra se divertir bastante? – Sim é, sim dá. Porém, esta diversão irá dar apenas mais forças para aqueles que nos dominam e em nome de 3 dias de farra teremos que pagar, no futuro, com engarrafamentos, hospitais sem médicos, professores que não recebem entre outras maravilhas mais que a nossa elite consegue fazer com a máquina pública. Dinheiro é poder e ir ao Carnatal é dar poder ao inimigo.

 A festa não é sua, meu amor, não sorria!

 

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

12 Responses

  1. Alberth Palhares disse:

    Concordo em gênero, número e grau.

  2. coloradoRS disse:

    meu caro, pq não aceita o comentário? cade a “democracia” respeito sua opinião, mas discordo. sou leitor assíduo da carta potiguar.

  3. Lucas disse:

    O fato de ir ou nao ao carnatal nao significa mais ou menos preocupação para com a cidade, o tipo de pensamento que voce expressou tanto vale para muitos que estao la se divertindo como tambem para muitos que estao em casa. é simplista achar que o carnatal é um simbolismo de adesao, e que divide as pessoas em quem aceita e quem nao aceita o que esta acontecendo com a cidade.
    Micarla e Paulinho foram eleitos muito mais com votos de quem nunca pisou no carnatal do que por todos que ja entraram em algum bloco que la esteja.
    Eu nao concordo que o carnatal feche ruas, isso é privar o cidadao de ir e vir, nem desrespeite a lei do silencio, lei é lei, tem que ser cumprida, se é para ter exceçao entao muda a lei. Quanto a sujar ruas, pelo que consta, a destaque é obrigada a pagar a prefeitura pela limpeza, bem como todas as demais despesas que a prefeitura venha a ter.
    A falta de civismo, de se preocupar com as necessidades da cidade é uma questao cultural e que atinge a muitos de todas as camadas da sociedade, culpar so quem vai ao carnatal ou achar que todos que vao ao carnatal pensam dessa forma é um achismo digno de ser caracterizado como preconceito

    • Olá Lucas,
      a ideia não é “criticar” quem vai ao Carnatal, mas “informar” sobre as redes que o Carnatal possui e lutar como “enfraquecê-la” enquanto poder econômico.

      • Lucas disse:

        bem David, so acho que voce mirou no alvo errado, e cometeu 3 erros basicos, primeiro voce criou um esteriotipo falso de que todos que vao ao carnatal sao alienados e isso nao é verdade, segundo voce mentiu quando disse que a prefeitura gasta dinheiro com o carnatal, mais uma vez digo que existem leis que fazem a destaque arcar com as despezas de realização do evento, pode-se discutir o fato do carnatal desrespeitar outras leis muito maiores tal qual o direito de ir e vir, e a lei do silencio, ai sim pode-se debater, e o terceiro erro foi seu argumento fraco das relações politicas da destaque, acho muito mais importante de ser combatido e muito mais perigosas as relações do sindipostos que elege vereador pra combater leis pra aumentar a concorrencia e combater o oligopolio, o seturn que elege prefeitos e vereadores pra controlar o setrans, o sinduscon que tenta influenciar no plano diretor financiando politicos, as indicações politicas como a do juiz verlano medeiros para mudar resultado de eleição, fora as indicações obscuras para o TJ e TCE, essas sim sao potenciais e perigosas relaçoes politicas que tem que ser combatidas, a destaque e o carnatal sao cafe pequeno.

        • Na realidade não faço nada disso lucas, talvez vc acostumado a ler textos que criticam o carnatal tenha feito uma leitura rápida do meu. Primeiro, não digo que as pessoas que vão para o carnatal são alienadas, digo que estão dentro da “atitude blasé”, que não é ser aliendado. não existe mentiras quanto ao uso de verba pública para pagamento do carnatal..a prefeitura patrocina (apoia) o evento…vc acha que os policiais, apoio logístico etc etc etc. não é gasto? Isso tudo era pra ser privado, mas o Estado é mobilizado para fazer. E quanto as outras críticas que vc adiciona….não vejo no que isso iria contra o que escrevi, apenas não me apeguei aos pontos que vc mostrou existirem. A crítica que vc faz ao vereadores, postos, etc etc etc não invalida a crítica que faço.

          • Anderson Gethsemani disse:

            Concordo com você, David. E aproveito para lembrar das inúmeras pessoas que ganham um salário mínimo e passam um ano inteiro pagando abadá. Não é só a elite que está inserida na “atitude blasé”. Sem contar o aumento do gasto com saúde publica gerado pela violência, acidentes provenientes do excesso de ingestão de álcool, do uso e tráfico de drogas, das DSTs transmitidas na prostituição generalizada, das pensões pagas pela Previdência Social às famílias que perdem seus provedores em acidentes, quando não os deixam inválidos. O argumento da questão dos postos de combustíveis é furado porque não se pode justificar a permanência de um problema com outro problema só porque este é maior. Enfim, em minha opinião, acabar com a festa faria muito mais bem à Cidade do que continuar com ela. Financiar o carnatal é, no mínimo, uma atitude insensata.

        • Creio, inclusive, que poderíamos listar todas as críticas feitas aqui nos comentários e elaborar um bom artigo em conjunto. 😀

  4. Olá Eva,
    Todos seus apontamentos são bastante pertinentes. É uma ótima ampliação do debate, acredito, inclusive, que poderíamos fazer um dossiê do tipo “que micareta a cidade quer?” ou algo do tipo, listando os demandes e desvantagens do carnatal e mostrando que outra micareta é possível. Quando seu “ps”….eu coloquei mulher entre parêntese pq “na fala original que foi citada” o autor só fala “homem”, eu adicionei a mulher a fala dele.
    😀

    • Eva Timboo disse:

      massa, no entanto ainda assim me senti emparedada nessa questão, mas sei que estamos avançando dentro desse debate também. Abraço!

  5. Jonathan Vitor disse:

    Mexer na ferida dói!

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