Rio Grande do Norte, quarta-feira, 01 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de dezembro de 2012

Os absurdos erros da Parada Gay em Natal

postado por Daniel Menezes

OS FATOS

Imagem: Tribuna do Norte

Imagem: Tribuna do Norte

A parada gay, realizada no último domingo na Avenida Engenheiro Roberto Freire, não atingiu o sucesso dos últimos anos. Não por falta de público. Pelo contrário. Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transeuntes responderam presente, como sempre.

O revés sofrido pelo evento se deu pela interdição produzida pelo corpo de bombeiros do RN, avalizada pelo Tribunal de Justiça do RN, após a tentativa de liminar impetrada pelos organizadores, sem sucesso, para alterar o entendimento que acabou vigorando. Conforme o Corpo de Bombeiros, os trios elétricos apresentavam mais de 5 metros, o que poderia ocasionar acidentes em relação à fiação elétrica. Em decorrência disso, os trios permaneceram parados.

O problema é que, de acordo com os organizadores da Parada, os carros de som não atingiam mais do que 4,7 metros, ou seja, estavam dentro dos parâmetros regulamentados pelo mesmo Corpo de Bombeiros e Cosern. Um dos membros da comissão gestora da parada gay, afirmou que o oficial de justiça do TJ conferiu, quando solicitado, e constatou que tudo estava em consonância com as normas técnicas.

O movimento promete entrar com uma representação na secretaria de direitos humanos da presidência da república contra o governo do estado e o corpo de bombeiros pela atitude homofóbica.

OS ERROS DA PARADA GAY

Os organizadores da parada gay se esqueceram de contemplar questões fundamentais para tudo ocorrer tranquilamente. Tais erros podem explicar o porquê da Parada Gay não ter acontecido em sua plenitude na cidade.

Vou enumerar os pontos imprescindíveis:

01)   A parada gay deveria levantar uma corda no decorrer do percurso e cobrar 300 reais por uma camisa. Com isso, só participaria quem tivesse comprado o abadá. Todo mundo entrando e saindo na hora que quer não pode. Não dá lucro;

02)   O evento deveria ocorrer de madrugada, atrapalhando o sono de muita gente e não num domingo à tarde. A parada gay começaria numa quinta e terminaria no domingo;

03)   Os organizadores deveriam ter espalhado várias faixas e bolas publicitárias pela cidade, sem pagar a taxa pela exploração publicitária privada do espaço público;

04)   Não custaria nada ter fechado hospitais e impedir que cidadãos entrassem em suas casas. Afinal, que mal há nisso?

05)   É absurdo também produzir uma manifestação para pedir, em Natal! – que audácia –, uma sociedade mais justa, menos homofóbica, mais igualitária. Que negócio mais demodê;

06)   No final, era só distribuir abadás com acesso privilegiado para jornalistas, “personalidades”, empresários e juízes, que tudo fecharia com chave de ouro;

07)   E não esqueça de muita, mas muita verba publicitária repassada para os jornais e blogs da cidade. O dinheiro viria do Governo do Estado e do Município, mas se parte dele parasse no bolso do dono do jornal, do blogueiro, tudo seria maravilhoso;

Sim, e dizer: que Parada Gay é Natal, Parada Gay é amor e prazer. E movimenta a economia…

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

7 Responses

  1. Eva Timboo disse:

    Vivemos ainda nos recuperando dos absurdos de uma ditadura e que a sociedade ainda não julgou seus réus, pelo contrário eles vivem muito bem no anonimato. E quando se trata de pessoas ocupando suas ruas ainda temos que está rodeado de palhaços com suas armas, assustados com algum excesso que possa ocorrer. Não pude participar esse ano como participei em 2011 erguendo faixas. Quando passei pela Roberto e vi o isolamento de um ato político que é tão bonito e que deveria sempre ganhar as ruas como de costume não tenho como expressar minha decepção e tristeza por ver que nossos queridos militantes tenham caído em uma arapuca como essa. A caminhada ano passado foi até a árvore mas não era época natalina onde as famílias estão se encontrando com seus filhos. Agora me pergunto: a onde está seu preconceito? A onde está o diálogo? A onde está a liberdade de ser apenas humano e andar pelas ruas!

    ps: e a bandeira de estudante de serviço social dizia: O amor fala todas as línguas! Campanha do CFESS.

  2. Parada Gay? Mas já num teve uma este mês, aqui em Natal mesmo, no entorno do Arena das Dunas, de 6 a 9 de dezembro?

  3. Francisco Sales da Costa Neto disse:

    Mais uma para se contar do descaso dos governos locais. Espero que a atitude do governo possa amadurecer os próprios militantes nas campanhas políticas vindouras. É estranho isso, pois era uma parada contra a homofobia. Digo isso, pois muitas autoridades tem parentes que sofrem homofobia e especificamente a governadora teve um parente barbaramente assasinado em Mossoró.

  4. Mariana Brito disse:

    Juro que me deu uma agonia quando comecei a ler, porque não sabia o teor do texto. Fiquei super aliviada e feliz em constatar a ironia e o sarcasmo. Crítica muito bem vinda.

  5. Mozart Maia disse:

    Daniel Menezes, a sociedade mandou avisar que tá cansada de levar tapa na cara com esses seus textos excelentes. o/

  6. Daniel Menezes disse:

    Grande Mozart,

    valeu pela força.

Sociedade e Cultura

"Eu sou mestre, doutor", coisa da província natalense?

Sociedade e Cultura

Homofobia? O Tribunal de Justiça, que impediu a Parada Gay, permitiu a realização do Carnatal