Rio Grande do Norte, quarta-feira, 08 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 11 de junho de 2013

Ciclovia não resolverá problema de Natal, transporte coletivo de qualidade sim

postado por Daniel Menezes

Uma pequena provocação e com todo respeito, caros: bicicleta não é alternativa de mobilidade em larga escala, como é pintado por alguns.

imagesEm Natal, muitos fazem uso da ferramenta, mas é para economizar a passagem de ônibus ou porque o transporte coletivo não passa próximo do ponto de saída e/ou de chegada.

Quem trabalha quer, na verdade, voltar da labuta com conforto, seja de carro, trem ou ônibus.

Imagine um funcionário do Midway retornando para casa, em Bom Pastor, ou Potengi, depois de 12 horas no batente, numa magrela?!

Concebeu?

Pensar em pegar uma bicicleta para salvar o meio ambiente após tal situação é voluntarismo.

Nossa cidade carece dessa infra-estrutura, porém colocar ciclovia como meio redentor é um exagero. Imenso.

E é preciso certo cuidado para não reproduzir preconceito quando se critica o automóvel, pois que hoje tem gente expelindo racismo porque novos grupos sociais têm dinheiro para comprar carro, artigo antes exclusivo da classe média para cima.

O bem ainda não está alastrado no Brasil, em que pese avanços na facilitação do crédito e poder de compra. Mesmo a dita “nova classe média” ainda não foi maciçamente tocada pelas quatro rodas. Apenas 04 em cada 10 possui um carango.

E o dono, não raro, só utiliza o carro em situações esporádicas (compras, dias de chuva, lazer, etc), mantendo íntima relação com transporte de massa.

Quem centraliza a discussão da mobilidade na noção da ciclovia é porque se mostra incapaz de perceber a precariedade da locomoção diária dos 450 mil usuários de ônibus da chamada – no estilo bobo alegre – cidade do sol.

Bicicleta serve para pequenas distâncias.

Só.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

10 Responses

  1. Lobão disse:

    Não são temas excludentes, e dessa forma acho errada a forma como o título foi escrito “Ciclovia não resolverá problema de Natal, transporte coletivo de qualidade sim”.

    Entendo que existam diversas técnicas de escrita e que a definição de um título que chame atenção seja uma delas. Mas acho que a Carta Potiguar não precisa disso, dado que os leitores desse veículo o acompanham pelo conteúdo e não pelas manchetes.

    Respeito seu posicionamento e gosto dos temas da CP, mas acho que mesmo em um artigo de opinião em uma coluna seriam necessários mais dados ao menos para engrossar o conteúdo.

    Pra terminar, devo dizer que muitas pessoas utilizam bicicleta como meio de transporte não necessariamente por conta do meio ambiente, ou da ausência de transporte próximo, ou por questão de saúde, ou por motivos financeiros, ou por motivos filosóficos. Pode ser qualquer um desses motivos como todos eles juntos.

    E pra concluir: O que seriam pequenas distâncais?

    ; )

  2. Livia Cavalcanti disse:

    Tb não gostei da Manchete… não leva a uma “interpretação” positiva…não creio que os defensores das bicicletas como meio de transporte acham que ela é a panacéia para os problemas de mobilidade. Ninguém é menino. Sabemos sim que é necessário um conjunto de ações. E independente de distâncias, há quem queira sim andar “longas” distâncias de bike, por opção, não só por necessidade. As pessoas passam mais de uma hora em esteiras e bikes ergométricas em academias…há quem prefira se exercitar ao ar livre…só falta mesmo a segurança!

  3. Daniel Menezes disse:

    Caros, critiquei quem defende ciclovia como alternativa em larga escala. Não a ciclovia em si. E sabemos nós… que não são poucos… abs.

  4. Alyson Freire disse:

    Importante provocação, daniel.

    Mérito reside exatamente em colocar alguns limites para as visões mais entusiastas que veriam nas ciclovias e bicicletas a “solução definitiva” para o problema de mobilidade e do transporte público. No entanto, faltou fazer justiça e explicitar com a devida ênfase a urgência e necessidade das ciclovias e bicicletas como uma alternativa e imprescindível complemento num conjunto de outras medidas para a mobilidade, entre elas, obviamente, o transporte público de qualidade e diversificado.

    As implicações positivas das bicicletas e das ciclovias numa cidade como Natal, uma das capitais como menor perímetro urbano e com poucos espaços de lazer e de convivência público, são inegáveis, desde que entendida como uma alternativa e complemento urgente e imprescindível, e não como medida isolado ou como principal mote da política de mobilidade.

  5. wilsonazevedo disse:

    Daniel, por 80 anos de sua história esta cidade teve o nome de Nova Amsterdã.

    Mais de 3 séculos depois, sem o colonialismo de então, podemos fazer jus a este apelido.

    Holandeses adotam bicicleta no seu cotidiano e em larga escala. Não apenas eles. Dinamarqueses, suecos, noruegueses. E no mundo todo é tendência forte o uso crescente da bicicleta no cotidiano. No México, na Colômbia, e no Brasil também. Em abril passei uma semana no Rio e vi como o carioca adotou a “laranjinha”, a bike alugada via celular, integrando metrô, bike e caminhada para viver uma mobilidade sem engarrafamentos. Não existe engarrafamento de caminhantes. Não existe engarrafamento de metrô. Não existe engarrafamento de bicicleta.

    Seu artigo tem um tom quixotesco: volta-se contra moinhos de vento. Não conheço um único usuário de bike que defenda ciclovias como “meio redentor” ou solução única e final para a mobilidade urbana.

    Mas dificilmente haverá solução efetiva para a mobilidade urbana que continue a ignorar ciclovias. A solução está na integração de vários modais e a bicicleta é um deles.

    O modelo baseado em transporte motorizado individual entrou em colapso, no Brasil e no mundo. Este modal foi privilegiado por décadas. Agora se percebe melhor a que isto conduz: Imobilidade urbana. Transito travado, com longos trechos de avenidas em que a velocidade média fica abaixo da velocidade média do deslocamento por bike.

    Convido-o a ampliar o seu horizonte, a olhar para cidades como Sorocaba (500 mil habitantes), no interior de SP, que implantou mais de 100Km de ciclovias, Rio de Janeiro (mais de 5 milhões de habitantes), que está pra chegar a 200Km de ciclovias, Bogota’ e Medelin, na Colombia, cidade do México, Amsterdã, Copenhague. Nenhuma delas vem encontrando solução para a mobilidade urbana que não passe pela expansão forte da malha cicloviária, que em Natal é algo entre o nulo e o inexistente.

  6. Mocilayr Gunnar disse:

    Eu como natalense, trabalhador, e ciclista sinto-me motivado a responder a sua matéria, considerando seu “título” de sociólogo, e a imputação de que o site tem de apresentar uma “alternativa crítica”; percebo que tens uma visão bem superficial para um formador e veiculador de opiniões, Tomo a mim como exemplo para refutar o seu argumento. Trabalho em turno noturno na rendição de TODOS os 270 veículos da T. Guanabara, ou seja, subo cerca de 810 degraus por dia de Segunda à Sábado, em ritmo de corrida. chego em casa por volta de 01:30h da madrugada, acordo as 07:00h para ir assistir aula na UFRN, Faço meus percursos diários DE BICICLETA e posso lhe garantir que me sinto confortável. e não é por falta de condições pois pelo meu trabalho disponho de GRATUIDADE no serviço de transporte público da cidade. Lhe digo: Não, as pessoas não andam de bike em natal apenas para economizar passagens.
    Pensar em pegar uma bicicleta para salvar o Meio-Ambiente não é voluntarismo, é responsabilidade.
    Colocar uma ciclovia como meio redentor da mobilidade urbana não seria exagerar e sim ter um pensamento coerente e visionário,
    Cuidemos para não confundir condições de comprar um carro com qualidade de vida adequada.
    Outra coisa, se os donos dos carros em Natal utilizassem carros apenas em situações esporádicas, não teríamos o caos visto em vários pontos da cidade, como é visto diariamente na Ponte de Igapó. Lugares e congestionamentos que por sinal passam muitos ciclistas que por incrível que pareça, Não ficam presos no trânsito.
    Eu como esporádico usuário de ônibus, e funcionário de uma empresa de transportes onde já trabalhei em contato direto com os usuários, lhe garanto: Mais de 50% usariam bicicleta se tivéssemos espaços adequados para uma locomoção segura.
    Agora diga-me, qual trabalhador sente-se confortável ao passar entre 40 e 60min. preso dentro de um carro em um congestionamento na ida ao trabalho e na volta depois de seu labor diário.
    Quero saber também: Qual a grande distância que tem dentro de Natal? Pois eu consigo percorrer da ZN a Ponta-Negra em 40 ou 50min. Tempo menor que o Modal Ônibus que gasta o mínimo de 60min. Sem congestionamento e sem contar com o tempo de espera na parada.
    E por fim Sugiro que faças uma pesquisa antes de fazer uma argumentação infundada baseada apenas em opiniões próprias. temos muitos países pelo mundo que a Bicicleta como principal meio de transporte!

    Só.

  7. Tiago disse:

    Tem vários pontos que eu discordo no seu texto, dos quais irei comentar 2.
    Primeiro:
    “Em Natal, muitos fazem uso da ferramenta, mas é para economizar a
    passagem de ônibus ou porque o transporte coletivo não passa próximo do
    ponto de saída e/ou de chegada.”

    Acredito que muitos que utilizam a bicicleta como eu, usam pq não aguentam esperar o ônibus, usam como um transporte e ao mesmo tempo exercício físico e muitas vezes se chega mais rápido de bicicleta do que de ônibus. Eu moro em pium e 3 vezes por semana vou à ufrn pedalando. Ja fiz o teste de ir de ônibus, e em seguida pegar circular… e acredite, o tempo que gasto saindo de pium até a ufrn, de bike, é menor do de ônibus, levando em conta o tempo de espera nas paradas.

    Além disso, faço esse trajeto como forma de me exercitar, ja que falta tempo para prática de esportes na correria do dia-dia.

    segundo:

    “Bicicleta serve para pequenas distâncias.

    Só.”

    Acredito que o trajeto que faço semanalmete pium-ufrn-pium não é uma pequena distância. Existem várias pessoas que saem diariamente de bicicleta de parnamirim, zona norte, até mesmo de pium, pirangi… para trabalhar em Natal e retornam no final do dia. Mas grande parte da popilação natalense percorre distâncias bem menores que isso de ônibus ou carro e que poderiam se deslocar de bicicleta se não fosse os perigos existentes pela falta de uma ciclovia.

    Ah, e antes que pense que sou um revoltado por não ter carro, deixo bem claro que tenho carro sim, comprado sem um centavos dos meus pais e não devo um centavo a nenhum banco por isso.

  8. Camila Nobre disse:

    Oi, Daniel! Gosto bastante dos seus textos, mas esse particularmente não me agradou. Você tá certíssimo em descentralizar o debate da bicicleta, porque ela não é – sozinha – a salvadora da pátria. Tem que investir muito bem em transporte público sim, até porque velhinhos e pessoas portadoras de necessidades especiais, geralmente teriam mais dificuldade com bicicletas (ênfase no geralmente, porque aqui na Holanda, onde estou morando, todas as senhorinhas me ultrapassam na ciclovia).

    Mas não pode generalizar e dizer que depois do trabalho lá no Midway a última coisa que fulano ia querer era andar de bike. Essa história de distância é super relativa: uma coisa é você sair com uma farda quente no sol de Natal e ainda ter que ficar tomando todo cuidado do mundo pra não morrer no meio do percurso, quando escolhe andar de bike. Mas se a mesma distância for percorrida com sombreamento, uma roupinha mais leve e infra-estrutura adequada – vixe! Parece que se torna muito menor.

    Sim, a bicicleta deve ser pensada pra pequenas distâncias mesmo… Mas de forma tal que as pequenas redes de deslocamento acabem formando uma imensa rede dentro da cidade e que, quando me for conveniente, eu possa ir de Ponta Negra a Redinha se quiser, de bike. É o que a gente chama de redes orgânicas 🙂

    Acho que você poderia ter colocado uma visão um pouco mais otimista no texto, falando de alternativas também… sabe intermodais? Por que não um VLT na cidade, em que seja possível reservar uma parte para quem quiser levar suas bikes? Assim não cansa tanto.

    Sobre o automóvel, não o considero um inimigo. Adoro dirigir também, o percurso é bem mais flexível, em geral mais rápido. O problema da história é que nosso planejamento urbano ainda insiste em permanecer voltado pra essa cultura do carro e as consequências disso, eu creio que você já sabe: congestionamentos desgastantes. Fora que uma cidade que não privilegia modos de transporte mais humanos, numa escala mais humana, acaba se tornando muito mais insegura, porque “cadê o povo”? Trancados nos carros. Não tem os famosos “olhos da rua” (termo cunhado por Jane Jacobs em seu livro Morte e Vida nas Grandes Cidades, recomendo demais a leitura).

    As cidades mais inteligentes já aprenderam que a solução é um bom transporte público, restringir o uso do automóvel (estratégia chamada Traffic Calming) e focar nessa escala humana que falei (bicicleta e pedestre).

    Entendi a afirmação, tá bem claro lá no começo: “larga escala”. Só que doeu um pouquinho porque ficou faltando mostrar como pode ser bom investir em ciclovias lindas! Abraço.

  9. Socorro da Silva disse:

    Daniel Menezes, desculpe-me a franqueza! Mas, acho que você foi muito infeliz em suas colocações. Posicionou-se como alguém que não conhece os benefícios que o uso da bicicleta nos traz, interpretou mal a posição de quem defende a implantação de ciclovias como uma alternativa para melhorar a mobilidade em nossa cidade, subestimou a capacidade de nossos trabalhadores em percorrer longas distâncias pedalando, achar que quem usa bicicleta é porque não pode comprar um carro, deixou transparecer que não tem conhecimento de causa nem no âmbito, local, nacional e muito menos global.

  10. Mocilayr Gunnar disse:

    Claro, claro, Meu trabalho também não me permite chegar suado, por isso saio mais cedo, pedalo sem pressa e ao chegar ao trabalho tomo um banho antes de iniciar a labuta. Mas claro que não falo em um projeto cicloviário como único meio de transporte e sim como uma alternativa forte para sanar o caos do trânsito na cidade, para os que talvez estejam preguiçosos demais para sair da “zona de conforto” ou tenham alguma restrição ao uso da bike, faz-se necessário um meio paralelo. Eu concordo com você, bicicleta só serve para curtas distâncias. Mas eu lhe pergunto; qual a distância que o Sr. acha longa aqui dentro de Natal? Pois para mim (que procuro ter disposição), da ZN à Ponta-Negra não é longe.

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