Rio Grande do Norte, segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 24 de junho de 2013

Manifestações em Natal: a caixa de pandora está se abrindo?

postado por Daniel Menezes

Por Wellignton – Professor de Economia da UFRN

Em seu blog: http://www.wellingtonranzinza.blogspot.com.br/

 

Na quinta-feira (20) Natal teve uma das maiores manifestações populares da sua história recente. Um mar de jovens, especialmente jovens, inundou a BR-101 e expôs as entranhas de um sistema político anacrônico, que há muito deixou de estar em sintonia com o desenvolvimento da democracia, mas que permanece presente graças a uma série de elementos que ainda não foram superados.

01Natal em 20 de junho : milhares na BR-101.

Banho de democracia? Certamente que a democracia brasileira, que tem apenas 28 anos, foi sacudida por milhares que foram as ruas do Brasil e pelos pouco mais de 20 mil que se espalharam pela BR-101, numa miríade de cores e interesses. É de se lamentar que a retirada dos ônibus, estratégia dos empresários com o beneplácito do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do RN (SINTRO-RN), tenha desestimulado, quero crer, a participação de milhares de trabalhadores que poderiam ter engrossado essa manifestação. Mas isso é mera suposição.

 

02BR-101 em Natal : a maioria era de jovens.

 Acompanhando uma tendência vista nas últimas manifestações, emergiu um grito “apartidário”, violento e truculento, estranho a manifestações que seriam “democráticas”, animado pelo sentimento, justo, de indignidade contra um sistema que eles mesmos sustentam, ou pelo menos sustentavam até semanas atrás, via apatia política e o voto sem critério algum.

03As bandeiras dos partidos foram hostilizadas.

 A moçada, movida pela adrenalina e animada pelos sussurros e gemidos vindos da obscuridade fascista, puseram em ação a truculência anti-democrática via gritos de liberdade e democracia.

04Democracia….democracia?

Protesto que, se num primeiro momento foi considerado “baderna” pela mídia, como num passe de mágica, passou a ser “manifestação” e a “baderna” passou a ser reverenciada como um “muda Brasil”, talvez numa referência ao “Fora Collor”. A crise de representação, que se arrasta desde a década de 90, agora foi exposta à sociedade e a face dessa crise é feia.

A alegria, mesclada com indignação, sem líderes ou liderados, agrada à imagem de quem defende a liberdade do indivíduo, aquele que não responde a ninguém senão a ele mesmo. Não é toa que a postura anarquista voltou a ser vista, por essa massa, como algo atrativo, embora seja uma espécie de “anarquismo soft”, sem referência aos postulados anarquistas e muito mais movido pelo rechaço ao modelo vigente.
Manifestações em todo o Brasil, e especificamente aqui, com várias bandeiras, vários questionamentos e enfurecida pelo anacronismo do sistema de representação política, por um Judiciário corporativo e por uma camada dirigente que, em boa medida, assenhorou-se do aparelho do estado para se auto-reproduzir, fez essa massa literalmente “surtar”. E pequenos grupos, nada desorganizados, aproveitaram esse momento para apresentar seu propósito : a destruição pela destruição, como que para ser um grito de revolta e não apenas de protesto.
Vários pequenos movimentos, sendo o mais expressivo deles o #Revolta do Busão, mergulharam no processo, reverenciando o espírito apartidário e realçando a face democrática via “coletivos”, como se isso não fosse uma forma de organização. A máscara do Anonymus provou que a não-face, que expressa um sentido do “eu sozinho”, também carrega a semente do niilismo que não se sabe bem para onde vai.
Mas manifestações foram infiltradas por provocadores que realizaram atos violentos e assumiram bandeiras políticas reacionárias, mirando não nos governadores e prefeitos, e muito menos nas câmaras, assembleias ou o próprio parlamento. O alvo, claramente passou a ser a presidente Dilma Roussef, e isso ficou claro nas intervenções dos articulistas reacionários da Veja, o esgoto midiático que se apresenta como revista.
A transformação da luta democrática e social em um cenário de caos e desordem é o “sonho de consumo” forças da direita golpista, que se antes pareciam um delírio esquerdista, agora o que se vê é o seu assanhamento.
Resta saber até onde essas manifestações irão. E também como a esquerda vai se comportar diante dessa situação.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

Comments are closed.

Política

#RevoltadoBusão: desconstruindo o discurso anti(a)partidário

Política

Apertem os cintos... a Esquerda sumiu