Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 24 de junho de 2013

#RevoltadoBusão: desconstruindo o discurso anti(a)partidário

postado por Túlio Madson

É preciso desconstruir os discursos “anti” para construir o movimento. Criar inimigos internos através discursos antipartidários, antiapartidários, antinacionalistas, antiplayboys, antidespolitizados, antivândalos, antipunks, antianarquistas, só servirá para implodir o movimento. Antes de exaltar às diferenças é preciso se apegar aos consensos. Em um movimento plural, todos os que apoiam a causa podem desempenhar um papel, a hora é de somar e construir.

O antidiscurso do antiapartidário.

10167_476289312454647_1905939893_nTudo bem, todo mundo já sabe que o ataque a partidários é condenável, tudo já foi muito bem criticado por partidários e apartidários. É preciso agora ter cuidado com esses ataques ao apartidarismo, porque se baseia apenas em falta de informação. Vamos se informar. Um apartidário é um ativista que atua longe do modelo representativo, agindo de maneira direta.

Um grupo apartidário aceita militantes de partidos políticos, até os respeitam, apenas não alinham as suas determinações de acordo com a direção de partido A ou B. Há militantes de partidos que sabem diferenciar essas duas formas de atuação e são respeitados, até ocupam posições importantes dentro do movimento.

Os apartidários, geralmente, não agem sozinhos, agem geralmente em movimentos, movimentos apartidários. A principal diferença desses movimentos para as organizações partidárias é porque elas não atuam pela via representativa, ou seja, através de votos e eleições. Além disso, os movimentos apartidários não possuem lideranças, nem hierarquias entre seus membros, deliberando de forma horizontal. De 2011 até hoje todos os movimentos que surgiram em Natal foram apartidários e todos foram vitoriosos. Nesse contexto, é preciso ter cuidado com o termo suprapartidarismo que dá a noção de que o movimento é gerido por uma associação de partidos, o que não é verdade. O termo é apartidário, porque as determinações do movimento são feitas pelos seus membros e não por um, ou por vários, partidos. O “a” do apartidário significa que não há partidos que determinam os rumos do movimento.

Eu sou apartidário e defenderei com todas as minhas forças o direito de alguém empunhar a bandeira de algum partido político nas ruas, assim como o direito de qualquer partidário fazer parte de um movimento apartidário, porque entendo que as instituições partidárias são fundamentais para a transformação política e social do país. Isso não é apenas um discurso, isso ocorreu e vem ocorrendo há dois anos em Natal, com movimentos vitoriosos como o #ForaMicarla e #RevoltadoBusão. Há um grave erro de análise quando relacionam os apartidários como sendo apolíticos. Os apartidários atuam politicamente de forma direta, sem a representatividade dos partidos, atuam politicamente, são conscientes disso, tanto que buscam uma nova forma de se fazer política que não esteja baseada na representatividade. Ambas são organizações importantes, as partidárias e as apartidárias, ambas se completam como agentes de transformação social.

As pessoas que agrediram os partidários, apenas compraram um discurso amplamente veiculado que deslegitima a política e os partidos, não possuem a menor noção do que é o apartidarismo, eles são antipartidários não apartidários. Podem rotula-los de apartidários, mas, ao meu ver, será apenas mais uma análise superficial da situação. Como a análise do serviço secreto da PM paulista que afirmou que punks eram cooptados pelo PSOL para fazerem baderna. Em ambas as análises, respectivamente, há um desconhecimento sobre quem são os punks e quem são os apartidários.

O discurso apartidário não é o do “sem partidos”, apenas exalta a horizontalidade de seus membros decidirem o rumo do movimento por si próprios. Há uma convivência harmoniosa com os partidos quando estes não buscam instrumentalizar o movimento.

Há uma instrumentalização quando um determinado membro não consegue distinguir a sua atuação dentro do movimento com a sua atuação como integrante de um partido e passa a atuar como membro do partido ao invés de membro do movimento.

Há um respeito mútuo entre partidários e apartidários dentro do movimento, isso vem sendo amadurecido cada vez mais, por isso acredito que é um desserviço a esses movimentos análises que provoquem o atrito entre partidários e apartidários.

O antidiscurso do antipartidário.

Muito bem, já viram como é protestar, já sentiram o frenesi de estar nas ruas, já saíram da zona de conforto, já se embriagaram de patriotismo, já pintaram os rostos, já cantaram o hino nacional, já pintaram cartazes, já gritaram, caminharam, pularam, vaiaram, enfim, festejaram. Muito bom, parabéns, bonito mesmo, está todo mundo orgulhoso, maravilha, o Brasil acordou, tudo lindo, melhor que carnaval.

Que tal agora tirar a fantasia de manifestante e se politizar? Hein? Hã? Como assim? Política, sabe, não, não, é mais do que apertar aquele botãozinho verde na urna quando aparece a foto daquele político bacana e sorridente. Não, não é bem aquilo que passa na TV quando entrevistam pessoas desnorteadas ou enfatizam a violência contra partidários nos protestos. Sabe, POLÍTICA, não, não é chato, quer dizer, não deveria, quer dizer, é?

Vamos começar de novo…

Sabe quando você vai para rua, todo orgulhoso de si, com seu cartaz maneiro, puta criativo, contra a corrupção e a favor da saúde e da educação? Quando você tira aquela foto sua segurando o cartaz e a multidão ao fundo com aquelas #hashtags da moda? Quando você toma e queima as bandeiras de partidos e aproveita para praticar seu jiu-jitsu naqueles oportunistas? Pois bem, agora você sabe o que NÃO é política. Parabéns, você é apenas mais um apolítico ou antipartidarista útil a alguém, seja pessoa ou instituição, que sabem muito bem o que é política. Seu discurso antipartidário acaba servindo para legitimar posições partidárias.

Entendo, muito chato protestar sem isso né? Sei. Sim, quase esqueci, o que é política então né? Política, política, po-lí-ti-ca, tem um peso essa palavra né, uma carga negativa, uma coisa ruim, vade retro Satanás! Não deve ser coisa boa. Veja bem, se políticos não prestam, se as pessoas vão às ruas contra os políticos, porque diabo querer saber de política? Armaria, nam.

Pois bem, sabe porque você pensa assim? Sabe quem te convenceu disso? Alguém que sabe muito bem se utilizar da política. Eita! Será que são os mesmos que vocês criticam nos cartazes?

O antidiscurso dos antidiscursos

Não acho construtivo alimentar ainda mais esses discursos, com mais antidiscursos. Minha intenção aqui foi a de desconstruir esses dois discursos hegemônicos, a saber, o antiapartidarismo e o antipartidarismo para construir uma unidade. Acredito que todos que queiram construir o movimento #RevoltadoBusão, pioneiro em muitos aspectos no ativismo real e virtual, devem se unir em torno das pautas concernentes ao transporte público defendidas pelo movimento, respeitando os que já estavam na luta e os que acabam de chegar.

Túlio Madson

Colunista na Carta Potiguar desde 2011. Professor e doutorando em Ética e Filosofia Política pela mesma instituição. Péssimo em autodescrições. Email: tuliomadson@hotmail.com

3 Responses

  1. Daniel Menezes disse:

    Só há uma omissão no teu discurso, Tulio, o impedimento de bandeiras nos atos vem desde o início. A #RevoltadoBusão proibiu bandeiras nos atos. Eu estava em plenária e vi isso ser aprovado. O seu discurso apartidário do bem vira força social objetiva e é o mesmo discurso do apartidário do mal, que foi bater nos meninos que não quiseram abaixar suas bandeiras. O resultado prático não cria nenhuma diferença. Você erra ao dizer que partidos só participam de eleições. Não poderia ser mais falso. Alias, se fosse verdade, os partidos de esquerda não estariam, desde o início, apoiando e ajudando informalmente a REvolta do Busão. Como vocês não escolhem uma comissão política e fazem controle social sobre ela, todo mundo se apresenta como líder dos protestos, inclusive e principalmente, os mais expertos, mas sem nenhuma legitimidade. Veja na Tribuna do Norte quem deu entrevista, se apresentando como líder do protesto. Como é apartidário, os partidos identificdos com a causa são escanteados e os não identificados acabam, posando de apoiadores. Como é apartidário, o movimento vira um guarda chuva para qualquer pauta, qualquer bandeira, inclusive, da ditdura, como no dia 20. Só não pode partidos. Como é apartidário, Rosalba e Felipe Maia se dizem apoiadores do movimento e, numa forma marota, Felipe Maia alega que vocês lutam pela diminuição dos impostos no Brasil. E, pra finalizar, suprapartidário não dá noção de que o movimento é comandado por partidos. A plenária continuaria a votar os atos. Nenhum partido mandaria individualmente. Vocês morrem de medo de serem instrumentalizados. Mas ao não votarem e institucionalizarem pautas e negarem a força das instituições de esquerda, estão sendo instrumentalizados pelo que há de mais atrasado no RN. A propósito, quinta feira tem protesto apartidário contra a corrupção e contra Dilma. Parabéns aos apartidários, que não se sujam com a política e fazem tudo direto, né não.

  2. Daniel Menezes disse:

    E vocês invertem a lógica: não deixam os partidos se expressarem (o que é diferente de querer mandar no movimento) e alegam o contrário: que são os apartidários que estão sendo perseguidos. Bem, não vi nenhum apartidário, levando uma garrafada na cara. Algo que é um detalhe, não é não?!

  3. Túlio Madson disse:

    Acredito que há uma generalização do movimento pelo último ato. Desde 2011 com o Fora Micarla até a semana passada nenhum militante de partido havia sido agredido, ninguém foi obrigado a baixar suas bandeiras, tanto que o pátio da CMN se transformou em um varal de bandeiras, assim como era comum ver bandeiras nos atos de rua. Basta perguntar aos militantes de partidos se havia ou não esse impedimento de bandeiras desde o início. O ato de quinta não possui relação com o movimento, todos são livres para marcarem os atos que quiserem.

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