Rio Grande do Norte, segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 22 de setembro de 2013

Justiça de Bolso: A igualdade que desejamos e aquela pela qual lutamos

postado por Ivenio Hermes
Por Ivenio Hermes, Marcos Dionisio e Cezar Alves

(Publicado originalmente no Jornal De Fato, Coluna Retratos do Oeste)

Logo do FMDH Brasília 2013

Logo do FMDH Brasília 2013

O que tem confrontado o homem e a mulher nessa era de inversão de valores e desejos egoístas é a contradição que muitos vivem e pregam, não com suas palavras, mas com seus comportamentos. Ninguém mais é visto como um ser humano pleno, que promove direitos e encampa causas de outras pessoas ou entidades pela simples satisfação de servir.

A geração habituada ao mundo virtual e digital se satisfaz com a justiça de bolso, ou seja, aquela cuja portabilidade é facilitada pelo clicar na tecla “CURTIR” do facebook ou algo similar em outras redes sociais, sem se envolver mais intrinsecamente com os problemas que seus amigos virtuais e/ou reais vivem e cujas soluções demandem soluções mais elaboradas e que devem ser construídas sob o estandarte das lutas.

 

“Todos desejam o tratamento igualitário para todas as minorias, porém poucos lutam por ele quando sua própria minoria não está envolvida.” Ivenio Hermes

 

Uma conquista de todos

Uma conquista de todos

Nessa sociedade fugaz que se satisfaz em repassar imagens e pensamentos de outros como se fossem grandes causídicos, não há mais espaço para o reconhecimento das necessidades que todos tem da ajuda mútua com receio de ter seu próprio brilho ofuscado.

Não se pode sair às ruas apenas por interesse em sua própria causa, que está sendo enfatizada pela manifestação ou num modismo recorrente que bem pode ser sequestrado pela mídia tendenciosa que é o quarto poder que a todos governa, seja pela ficção mais atrativa que a realidade, seja pela realidade distorcida ou seja pelo induzimento das ideias contidas subliminarmente nas programações diversas, aparentemente dispersas, modernosas e absolutamente castradoras e amordaçadoras do livre e franco debates de ideias. Um olhar reivindicativo mais extenso e profundo é necessário.

Na aparência caótica dessa realidade sensível, cristãos evangélicos pregam a liberdade religiosa, contudo não aceitam que seguidores de religiões afro fundamentadas possam usufruir dessa liberdade. Tolera-se o som das bocas de ferro das igrejas evangélicas e ocupação de horários televisivos, mas condenam o rufar dos tambores dos terreiros de Umbanda.

Abertura da Reunião Estadual

Abertura da Reunião Estadual

Heterossexuais, homossexuais, defensores do povo do ECA, policiais, apenados, pessoas com deficiência, moradores de rua, portadores de transtorno mental, artistas, idosos, jovens, intelectuais, índios, negros, pregam seus ideais e suas agendas mas não podem olvidar que a dignidade da pessoa humana é inerente a essa condição e de que por isso mesmo não se deve “perguntar por quem os sinos dobram” como poetizava o pregador John Donne. Os sinos podem dobrar por uma humanidade que precisa reabrir uma janela de esperança para que o formidável desenvolvimento científico que alcançou seja utilizado como distribuidor e facilitador de oportunidades e do acesso à justiça, paz e felicidade para todos os que hoje ainda são humilhados ofendidos.

Há um clamor em busca de segurança, de paz, mas será que se almeja uma paz justa que não seja a paz dos cemitérios? E quase ninguém, para além das fileiras dos bons policiais, da comunidade dos Direitos Humanos e poucos da nossa academia, mobilizam-se numa busca, numa luta que seria de todos, “Dever do Estado, responsabilidade de todos” no crivo constitucional.

É muito fácil e necessário vestir a camisa de uma luta quando se está afetado pela injustiça, entretanto, mais necessário é a busca simples do fazer o bem sem enxergar a quem. A solidariedade vertical aqui e acolá aparece até por gravidade, mas a necessária solidariedade horizontal não é reforçada por corporativismos e nem tem glamour midiático. Construir esse cuidado humanista horizontal é um dos desafios dos difíceis e egocêntricos tempos em que vivemos.

Fala-se de direitos humanos, mas poucos humanizam esse conceito com a amplitude que ele possui, a de realmente promover a liberdade de todos exercerem seus direitos com dignidade e respeito. E é porque sob a tutela da Carta Constitucional da Primavera de 1988, todas as políticas públicas já deveriam estar se desdobrando em ações e intervenções que deixariam o papel para promover a vida.

 

“Vamos todos juntar nossas misérias pra ver se conseguimos uma pobreza digna!” Marcos Dionísio Medeiros Caldas.

 

Veja como participar

Veja como participar

Para dirimir esses impasses e limites, das políticas e comportamentais e com o objetivo de promover um espaço de debate público sobre Direitos Humanos, no qual serão tratados seus principais avanços e desafios com foco no respeito às diferenças, na participação social, na redução das desigualdades e no enfrentamento à todas as violações de direitos humanos acontecerá em Brasília, no período de 10 a 13 de dezembro de 2013, o FÓRUM MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS – FMDH, cuja iniciativa é da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR e foi concebido para aproximar e integrar pessoas e organizações através de conferências, debates temáticos e atividades autogestionadas.

Além disso, como seu próprio nome já infere, possibilitará um múltiplo diálogo com a promoção e o protagonismo pelos direitos humanos em diferentes países e, não podemos, olvidar o civilizatório diálogo com as artes e a cultura.

Serão promovidas previamente ações de incentivo e organização em diversas estados e cidades do Brasil, como a MOBILIZAÇÃO REGIONAL NORDESTE II e o LANÇAMENTO DO FÓRUM MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS EM NATAL/RN que será realizado na próxima sexta-feira dia 27 de setembro de 2013, às 14 horas no Plenarinho da Assembleia Legislativa do RN.

As atividades de mobilização regional pretendem facilitar o acesso da sociedade a informações sobre o FMDH. As mobilizações regionais terão, além da explanação sobre o fórum, uma programação específica que será elaborada pela Secretaria Executiva – SE em parceria com o Comitê Local.

Com o intuito de fortalecer as discussões acerca de direitos humanos, a SE do FMDH constituirá os Comitês Locais de cada Estado que serão compostos por instituições locais e serão responsáveis por discutir os temas do FMDH sob a perspectiva regional, a fim de mobilizar a população e difundir os temas e o próprio FMDH.

Marcos Maciel Alves de Lima

Marcos Maciel Alves de Lima

Com toda a sociedade potiguar motivada e imbuída na promoção dos Direitos Humanos, avançaremos no resgate das minorias, deixando de lado a mesmice infrutífera da justiça de bolso e respeitando-as e buscando a garantia de todos e de todas de seus direitos.

A morte e o desamparo são tamanhos na terra de Câmara Cascudo que sem o maior esforço, levantamos dois dos muitos desafios a serem enfrentados nos debates que se seguirão:

  1. Restabelecimento da capacidade de investigação e elucidação dos milhares dos crimes ainda impunes que atingiram principalmente, jovens, moradores de rua, homossexuais, negros e pobres moradores das nossas periferias e mesmo, os deserdados dos centros urbanos;
  2. Esclarecimento do já longínquo caso do sequestro das crianças do Planalto e de demais casos de pessoas desaparecidas no estado, como por exemplo, o caso do irmão do Jornalista Cezar Alves, Marcos Maciel Alves de Lima, estudante, desaparecido desde o dia 07 de Julho de 2010, na Cidade de Mossoró;

Sejam benvindos ao Ato de LANÇAMENTO DO FÓRUM MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS EM NATAL/RN que será realizado na próxima sexta-feira dia 27 de setembro de 2013, às 14 horas no Plenarinho da Assembleia Legislativa do RN. Organize seus sonhos e contribua com a realização de Debates que analisem o presente, identifique desafios a serem superados e disponibilize-se a construir o futuro para todos os seres humanos, mas não percamos de vista que o nosso futuro estará nos ombros dos meninos de hoje e de que é preciso refletir sobre o mundo que legamos a esses meninos como nos predica Maciel Melo e Petrúcio Amorim na sua fabulosa Meninos do Sertão:

Quando me lembro dos meninos do Sertão
Olho pro céu e vejo eu entre os pardais
Catando estrelas, desenhando a solidão
Ouvindo estórias de fuzis e generais
Lembrando rezas que aprendi no juazeiro
Que um violeiro me ensinou numa canção
Bebendo sonhos era assim o meu destino
Mais um menino na poeira do Sertão

Quando me lembro dos meninos do Sertão
Beijando flores era eu em meu jardim
Qual borboletas bailarinas de quintais
E um arco-íris de esperança só pra mim
E a liberdade feito um pássaro de seda
Voava alto nos planos de menino
Nas travessuras imitava os meus herois
Luiz Gonzaga, Lampião e Vitalino

Quando me lembro dos meninos do Sertão
Vejo Hiroshima nos olhares infantis
Vejo a essência da desigualdade humana
Num verdadeiro calabouço dos guris
Meu coração bate calado enquanto choro
A Deus imploro mais carinho e atenção
Tirai a canga do pescoço dessa gente
Que só precisa de amor, trabalho e pão

Adeus meu carro de boi
Adeus pau de arara
No ano 2000 que mal virá
Cola, Carandirú, Candelária
Quando isso vai parar
Será que será sempre assim
Será que assim sempre será

Cola, Carandirú, Candelária ainda vitimam em todo lugar…

 

Meninos do Sertão

Meninos do Sertão

Mas o mundo pode ser diferente sob a égide dos Direitos Humanos desdobrados em políticas públicas que possibilitem o acesso a felicidade e a oportunidades para todos, longe do egoísmo que nos construiu arapucas consumistas e egocêntricas que quase fraturaram a convivência humana.

Infelizmente, somos os únicos animais que matamos fora do exercício da cadeia alimentar e também somos os únicos animais que torturam. Mas também sonhamos e por isso temos esperança num porvir humanista. Porque lutamos!

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SAIBA MAIS SOBRE O FÓRUM MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS

Site do FMDH – www.fmdh.sdh.gov.br < http://www.fmdh.sdh.gov.br >

Entendendo o FMDH – Clique em < https://docs.google.com/document/d/1vPltsV6LgiP5OEFiktWZaxurQTb3IYHBXN3z8k1QyyA/edit?usp=sharing >

Ementário do FMDH – Clique aqui < https://docs.google.com/document/d/1IFs_1NXp7xvR0Kla85GOFurLVEMOYliAnYnDH8SrHY8/edit?usp=sharing >

Ficha de Adesão ao CO do FMDH – Acesso em < https://docs.google.com/document/d/1qB08Ay9il0L9hlZE0M1bxVFGAuqPf_pM8SyomsQN-JA/edit?usp=sharing >

Regulamento das Atividades Autogestionadas do FMDH – Acesso em < < https://docs.google.com/document/d/1s–2iBzc6hyJrG0oRVwgJTyIq4GCef2xsN1CfOud9OM/edit?usp=sharing >

Ficha de Inscrição das Atividades Autogestionadas do FMDH – Acesso em < < https://docs.google.com/document/d/1P7Qg1NuPD9xO_Cqz59zS6t8bdqx97g4Xi8GOhPbpqY4/edit?usp=sharing >

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SOBRE OS AUTORES:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Marcos Dionísio Medeiros Caldas é Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (RN) e da Coordenação do Comitê Popular Copa 2014 – Natal.

Cezar Alves é Fotojornalista e Editor do Jornal De Fato e da Coluna Retratos do Oeste.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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