Rio Grande do Norte, segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 25 de maio de 2014

O Tsunami de Insegurança Ceifa 700 Vidas em 144 Dias no RN

postado por Ivenio Hermes

Números, tendências e lamentações

Por Ivenio Hermes

Durou 15 dias o intervalo entre a marca dos 600 e a marca dos 700 homicídios em 2014 no Estado do Rio Grande do Norte. No mesmo mês, o homicímetro potiguar, aquecido pela insegurança e pela impunidade, registrou 100 novos assassinatos…

Números

700 CVLI EM 144 DIAS 2014

O 700º crime violento letal intencional foi registrado em Natal, fazendo com que a capital do Estado alcance a média de 27,17 homicídios por cem mil habitantes (hom/100mil-hab), figurando entre as capitais mais violentas do Brasil com 232 homicídios.

A morte da 100ª vítima de homicídio ocorreu em Parnamirim, município que se encontra entre os 17 mais violentos do Estado. No município já aconteceram 63 assassinatos, com 27,46 homicídios por cem mil habitantes e, assim como Natal, ultrapassa também a média nacional que é de 25,3.

E nesse teatro de insegurança, que em breve se estabelecerá um “Corredor de Proteção da Copa” para assegurar que turistas venham de diversas partes do mundo para o mega evento esportivo que começará em menos de 19 dias.

A percepção da seriedade dessa onda de homicídios não aconteceu quando ela ainda podia ser prevenida, e agora, em intervalos curtos, amontoam-se corpos sem vida, cujos nomes se perdem nas estatísticas não governamentais, porque não representam pessoas e sim números que apenas servem para tabular gráficos que não serão utilizados para evitar que mais mortes se acumulem.

Tendências

Os quatro primeiros meses do ano e mais 24 dias de 2014 comparados com o mesmo período de 2013 apresenta elevação nos índices de violência. Em março houve maior expressividade nesse número, com 19 mortes matadas a mais, mas desde janeiro que a taxa de elevação não para. Foram 8, 9, 19, e 18 respectivamente para janeiro, fevereiro, março e abril, e em maio, 24 dias com exatamente o mesmo número.

A linha de tendência se mostra em elevação com a média de 4,86 assassinatos por dia, portanto, considerando os sete dias restantes do mês, a probabilidade será de encerrar o mês com 144 cvli. Essa perspectiva numérica não é estatística somente, sua projeção se dá pelo aumento da criminalidade e a estagnação no avanço de medidas de combate ao crime de violência, pois mesmo diante de diversas operações e esforços policiais, essa modalidade de crime, é feita através do combate à impunidade e do impedimento da proliferação de fatores provocadores e aceleradores, como o tráfico de drogas e de armas.

24MAI2014 R OESTE

Quando Fabiano da Silva Pascoal, na cidade de Ipanguaçu, no Oeste Potiguar, se tornou a 400ª vítima de homicídio, o município chegou à média de 27 hom/100mil-hab e o fato corrobora a afirmação de que não há substância na política de “Interiorização da Polícia Civil”, amplamente divulgada pelo Governo do RN, cuja essência é levar policiais civis para o interior e com isso robustecer o setor de investigação policial. Na verdade, o interior deixou de ser priorizado em ações de segurança pública e hoje, altos índices de criminalidade e violência homicida são rotinas no estado.

Dos 62 municípios que fazem parte do Oeste Potiguar, em 29 já ocorreram assassinatos em 2014, totalizando 176 crimes violentos letais e intencionais. Destes, somente em Mossoró foram cometidos 41%, ou seja, 72 mortes. E Nessa contagem, o bairro Santo Antônio e a zona rural concentram o maior número de assassinatos, 10 e 8 respectivamente, e mesmo com a Delegacia de Homicídios sendo bastante atuante, as 115 tentativas de homicídio já divulgadas neste ano, mitigam qualquer esforço de um efetivo muito aquém do necessário.

24MAI2014 MOSSORO

É perceptível demais o aumento da violência homicida no Oeste Potiguar. A Polícia Militar se digladia para fazer alguma diferença no policiamento ostensivo, e de tão baixo que é o efetivo, até policiais que fazem o serviço de inteligência são forçados a realizar prisões. Nos espaços urbanos os agentes da Guarda Civil Municipal precisam estar atentos para não se tornarem vítimas potenciais dos infratores vingativos.

A tendência das ações criminosas não encontra força policial capaz de freá-la.

Lamentações

24MAI2014 TOTAL REGIOES

Os municípios da Região Metropolitana registram crimes violentos quase diariamente e o Rio Grande do Norte está com taxa de 20,84 homicídios por cem mil habitantes.

Um Estado que fecha as portas de suas delegacias à noite, horário onde o crime se mostra mais presente e que não contrata policiais além da simples reposição, não poderia jamais ter planos de criar uma Divisão de Homicídios, que em tese precisaria de uma equipe reforçada numericamente para dar cabo das ações de investigação.

Os policiais civis têm sua função desprestigiada e reduzida como meros relatores de boletins de ocorrência. E não poderia ser diferente, porque não se pode praticar serviço investigativo coerente e com bons resultados sem a presença da polícia judiciária e da polícia técnico-cientifica, e sem a contratação de policiais, pois os policiais civis que vem sendo contratados desde 2011 foram apenas para preencher espaços vazios deixados por falecidos e aposentados, e sem investimento em recursos humanos e em equipamento para o Itep, não há como garantir bons resultados.

Neste ano de 2014 a marca dos 700 homicídios foi antecipada em 9 dias em relação a 2013, quando ocorreu em 2 de junho. As políticas públicas continuam as mesmas de sempre, com exceção da movimentação para recepcionar os turistas.

700_Hagrid

O tsunami de insegurança que ceifou as 700 vidas no Rio Grande do Norte em apenas 144 dias de 2014 continua avançando litoral adentro nas Terras de Poti.

Sem arriscar em emanar conselhos ou sugestões para um Estado que se mantém surdo ao grito de socorro da população, vitimizada pela violência homicida e outros crimes, resta o elogio aos policiais militares que aparecem na imagem acima, que sem nenhum material, mantiveram os curiosos distantes para não apagar os vestígios do local do crime e a todos os operadores de segurança pública, que se doam diariamente sem reconhecimento social e financeiro, para garantir a pouca segurança que resta ao cidadão potiguar.

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves, ativista de direitos humanos e sociais e pesquisador nas áreas de Criminologia, Violência Homicida, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial.

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DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:

É autorizada a reprodução do texto e das informações em todo ou em parte desde que respeitado o devido crédito ao(s) autor(es).

HERMES, Ivenio. O Tsunami de Insegurança Ceifa 700 Vidas em 144 Dias no RN. Disponível em: < http://j.mp/1lLLLGG >. Publicado em: 25 mai. 2014.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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