Rio Grande do Norte, domingo, 28 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 14 de outubro de 2014

Pelo direito de curtir a fossa

postado por Paulo Emílio

Sempre que saímos de um relacionamento duradouro (daqueles com mais de 1 ano), nossos amigos não querem nos ver em casa tristes pensando no relacionamento. Por conta disso, eles querem levar a gente para sair, curtir todas as festas e “pegar geral”. Tudo bem. Eu entendo que a intenção deles seja a melhor de todas. No entanto, não é assim que a carruagem anda.

As mulheres tendem a ficar em casa num período de “resguardo” e isso é uma atitude até “respeitável” pela sociedade. No caso dos homens é completamente diferente. O homem não pode, jamais, de forma alguma, ficar em casa. Ele tem de sair, encher a cara, ficar com várias mulheres e, claro, transar com, pelo menos, uma delas – ou então, para quem tem padrão de vida alto, pagar uma prostituta. Sendo que não para aí. O homem tem obrigação de espalhar para todo mundo que está transando todo final de semana para que essa notícia chegue de alguma forma nos ouvidos da ex-namorada e, com isso, ele prove que a “superou”.

O problema é quando você tenta quebrar esses paradigmas. Bem, em nossa sociedade nenhum pouco machista e sexista (e homofóbica – mais na frente vocês verão o porquê), quebrar tais padrões é pedir para ser escrachado publicamente. A mulher quando tem “atitudes de homem” é logo tachada de “vagabunda”; e o homem quando tem “atitudes de mulher”, de “viadinho”.

Não que a quebra de valores por parte da mulher seja irrelevante, pelo contrário. Porém, o tema central desse texto é a questão do homem. É bastante notório que o que mais choca a sociedade não é a luta contra o machismo e sexismo vindo da mulher, mas, sim, do homem. É como se o opressor negasse sua condição de opressor e passasse a lutar ao lado do oprimido. Por isso que ao lutar contra essa ideia de sair e ficar com várias mulheres, o homem é logo visto como homossexual.

Os amigos, por mais que chamem na “brincadeira” de gay, isso incomoda. Não pelo o fato do homem ser homossexual, mas sim por causa dessa pressão exercida, que é muito forte. Essa obrigação de ter “pegar geral” para servir como forma de “curar” o fim do relacionamento é balela. Não existe um botão de gostar e desgostar. As pessoas precisam de um tempo para repensar suas atitudes, suas ações, conhecer coisas/pessoas novas e, quem sabe, até mesmo reatar o relacionamento.

Quando o homem não aguenta essa pressão, ele tende a se apaixonar pela primeira mulher que fica. E aí é que está o problema. A carência afetiva o faz enxergar naquela mulher a mulher ideal, a “substituta”. Conheço vários colegas que fizeram isso e depois que a fossa passou perceberam que a mulher que estavam não era a mulher para ele. Aí novamente vem o desgaste de um fim de relacionamento (que nem deveria começar); a mulher não entende o motivo de “do nada” o relacionamento ter terminado e fica paranoica achando que o “erro” foi dela; alguns chegam até mesmo a casarem, terem filhos e, pouco tempo depois, divorciarem – deixando mais uma criança “sem” pai.

Atitudes impensadas geram resultados catastróficos. Por mais que seja uma mera brincadeira, os homens precisam entender que todas as pessoas (inclusive eles mesmos) precisam de um tempo para se “recompor” e que isso não pode se resolver com uma simples ficada. Se algum amigo (e amiga, por que não?) estiverem assim, conforte-os, deem sinal de vida, digam que estarão com ele quando ele estiver preparado para sair, às vezes uma simples jogatina de videogame e cerveja é suficiente.

Para finalizar, amigos homens, por favor, deixem-me curtir a fossa em paz.

(texto escrito em setembro de 2013)

Paulo Emílio

Pedagogo que tem um diploma de Geografia, adora Nutrição, admira a Sociologia, tem uma queda pelas questões ambientais e, nas horas vagas, gosta de jogar enquanto com um caldinho de feijão verde (sem manteiga, por favor)

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