Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de outubro de 2015

Capa de jornal

postado por Rafael Morais

12188947_632651230171588_4683600223527838237_nTenho uma certeza absoluta sobre a mídia esportiva natalense, sobretudo os profissionais de rádio daqui: quase nunca noticiam e comentam sobre outras modalidades esportivas, além do futebol. Parecem mais uma banda de um sambinha de uma nota só, como diz o famoso retirante nordestino, do El País, Xico Sá.

Claro que existem algumas boas exceções nos jornais online e nos portais de notícias, visto que a plataforma internet comporta uma enormidade de espaço, quase sem limites. Mas no rádio, arrisco dizer que praticamente 99% dos programas só abrem cancha para o futebol. Sem falar na grande maioria que pratica nada mais do que o jornalismo perfumado e de afago, de entretenimento, de negócios, que não se opõe e nunca contesta.

Não é de hoje que busco um diferencial no mercado, através de uma visão jornalística como agente provocador, opositor e transformador de realidades. Meu objetivo, além de comunicar e informar, é de levar opinião e me posicionar, proporcionando meios que possam criar melhorias para a sociedade. Procuro, nesse mesmo contexto, falar de todas as modalidades esportivas possíveis.

Esta semana, na quarta-feira, seguindo meu caminho rotineiro da Padre Germano com destino ao estúdio – panorâmico com vista para o povo – da 95 FM, resolvi parar numa banca de revistas em Morro Branco e comprar o Novo Jornal do dia. Sou adepto e leio bastante pela internet, mas de vez em quando recorro ao tradicional, com receio do pior acontecer. Assim como canta a Marrom, “não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”, eu devo falar inconscientemente “não deixe o impresso morrer, não deixe o impresso acabar”. Confesse, você também ensaiou cantar o verso, né?!

Pois enfim, nem olhei a capa, apenas peguei, paguei e sai. Já no estúdio da rádio, sentei-me para folhear, à moda antiga, as páginas do jornal e, eis que me deparo com o inesperado. Tamanha foi minha surpresa, na capa estava uma foto enorme do surfista Ítalo Ferreira nas ondas de Peniche, em Portugal. Por coincidência, ou não, era a minha pauta do dia no Super Esporte 95.

Eu explico. No dia anterior, o surfista potiguar de Baía Formosa, Ítalo Ferreira, acabara de derrotar nada mais, nada menos que o amigo do Neymar, Gabriel Medina, o atual campeão mundial de surf. E estava lá na capa, abaixo da foto, “Potiguar Ítalo Ferreira bate Medina e pode sonhar com título mundial”.

Além de falar do desempenho de Ítalo em Portugal, eu iria naquele programa, comentar sobre o empate de 0 a 0 do ABC contra o Paraná. Então, normal, procurei a notícia do jogo do ABC na página de esportes do jornal. Não achei nenhuma nota. Aliás, menos, não havia sequer uma frase sobre o assunto. Isso mesmo, meu leitor, o jornal não publicou sequer uma linha sobre futebol.

Que maravilha, pensei! É realmente algo muito inusitado. Até comentei durante o programa, que não é comum isso acontecer. Tenho, inclusive, que reconhecer a qualidade e a personalidade do Novo Jornal. É o melhor do Rio Grande do Norte, sem sombra de dúvidas. Aliás, sugiro lerem as páginas de opinião. Muitos artigos e crônicas, um belo cardápio de jornalismo literário, algo que me muito me fascina.

Mas voltando ao assunto, que bom perceber que alguém está fugindo dos chavões do jornalismo esportivo do esporte bretão, mesmo que esse seja o preferido de 80% da população brasileira. Destaque em alto relevo para o competente editor de esportes do Novo Jornal, Luan Xavier, meu amigo desde a época de estagiário-chefe (e rico) do finado Diário de Natal, e sua equipe. Inclusive conversamos sobre o tema, para eu pudesse entender se aquilo foi de propósito ou se, na verdade, não deu tempo para escrever sobre o jogo do ABC, que havia acontecido na noite anterior. E pelo que conheço de Luan, sabia que viria uma boa resposta – tão boa que virou crônica.

“Faz um tempinho já que não estamos dando notícia de jogo no impresso. Só no site. Não vale a pena segurar. Ficávamos até tarde, segurando o jornal, para dar o mesmo texto curto, já batido, que saía no site. Nossa preocupação agora é dar primeiro no Whats App, depois no site e nas outras redes (Facebook e Twitter). Só valeria a pena, se fosse um texto informativo, somado a algo mais analítico, com opinião do editor ou do repórter”.

É isso aí, o Novo Jornal preferiu dar destaque ao surf potiguar ou ao oitavo melhor surfista do mundo na atualidade, se assim preferir. Optou por repercutir uma modalidade esportiva com pouquíssimo apelo midiático, se comparada ao frenesi que gera o futebol. Um esporte pouco querido, talvez, mas que de maneira inversamente proporcional, nos trouxe e continua trazendo resultados cada vez mais espetaculares e históricos do que qualquer time de futebol centenário da nossa cidade.

Aprendam, o Rio Grande do Norte também é o “país do surf”, “da natação”, “do atletismo”, “do MMA”, “do desporto paraolímpico”, “do vôlei” e tantas outras modalidades. A Terra do Elefante é a terra de Jadson, Clodoaldo, Fratus, Marcos, Vicente, Magnólia, Ronny, Barão, Beth, Gadelha, dos irmãos Patrick e Patrício, de Virna e Juliana, de Edênia, Joaninha, Abner, Rizoneide e muitos outros campeões.

Que os nossos companheiros de rádio saibam, somos muito mais que dois times de futebol. Conforme falei no rádio, a façanha de Ítalo em Portugal foi tão relevante, mas tão importante que, merece sim, ser capa de jornal.

Rafael Morais

Comunicador Social pela UFRN. Experiência em assessoria de imprensa esportiva e atuação em televisão. Áreas de interesse: literatura e esportes em geral, com ênfase no futebol como a "teatrialização das relações humanas".

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