Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 12 de dezembro de 2015

Aqueles partidários

postado por Rafael Morais
Na foto de Frankie Marcone, o torcedor Bora Porra, aquele partidário.

Na foto de Frankie Marcone, o torcedor Bora Porra, aquele partidário.

 

No futebol podemos controlar tudo, menos os torcedores, aqueles partidários, movidos pela paixão, pelo coração e pelo amor.

Os torcedores, aqueles que, na imensa maioria das vezes, vêm apenas o que lhes é favorável. Aqueles que não são simples simpatizantes, mas sim seguidores que, em noventa minutos de jogo, são capazes de transformar vizinhos, amigos e até mesmo parentes em inimigos mortais.

Os partidários do futebol, esses mesmos seguidores, altamente críticos, exigentes e que não aceitam as derrotas tão facilmente. Escrevi sobre isso dias atrás.

E de fato, eles têm razão de ser. Dia desses li que o nascimento de um clube se dá a partir da união de sócios. É assim que tudo começa ou foi assim que começou no fim do século XIX e início do século passado. Somos todos associações jurídicas e humanas.

E mais, o crescimento dos clubes se dá em função de seus torcedores e sua capacidade de consumi-lo a qualquer preço, a qualquer custo. Quanto mais apaixonada, fidelizada e grande é a torcida, mais forte é a agremiação, mas robusta é a associação.

Sendo assim, os torcedores, aqueles partidários-seguidores-críticos-exigentes, que não aceitam as derrotas facilmente, desempenham, segundo o economista Cesar Grafietti, o papel de acionistas.

Dentre as muitas definições para acionista, temos a que diz que são detentores de bônus que gostariam de um sólido desempenho da empresa e, portanto, uma redução do risco de perda. O torcedor-acionista também quer resultado. Ele quer que cada centavo seu gasto seja revertido num objetivo: tornar seu time vencedor e campeão.

E é por isso que a Frasqueira clama. O torcedor do ABC roga por dias de vitórias e pela volta dos títulos. As derrotas dos últimos anos atingiram, como uma bala de rifle, em cheio os corações sofridos dos partidários do ABC.

É um círculo vicioso. José Mourinho, certa vez, disse que as vitórias trazem poder, poder traz independência, mais independência traz ainda mais vitórias. Deduzo então que o avesso da fórmula do Rockstar pode ser aplicada nesse caso: derrotas minguam o poder e aumentam a dependência do índice de rejeição, que trazem ainda mais derrotas.

Não que as derrotas sejam “o fim da bola” – expressão usurpada do amigo jornalista Leonardo Pessoa – mas se as vitórias nos levam ao delírio, ao mundo da lua, as derrotas abalam e, sem dúvida, mexeram com os sentimentos dos torcedores do ABC, aqueles partidários.

Por isso escrevi, em outra oportunidade, que por representar continuidade de uma gestão que mais errou e perdeu do que acertou e venceu, Fabiano Teixeira possui alta rejeição por parte dos torcedores. Fabiano paga, na realidade, o preço das derrotas.

Por outro lado, há de se concordar com as palavras do representante do povo Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, que afirmou que a vitória nos emburrece e a derrota nos faz reavaliar quem somos, o que somos, quem pretendemos ser e como crescer.

É preciso reavaliar e tirar lições das derrotas. A torcida não deve ter medo dos seus dirigentes. Os dirigentes é que devem ter medo da sua torcida. Foi ela a razão de tudo existir e é ela quem faz o clube ser grande.

Duvidar do desejo de uma torcida é, simplesmente, não entender o papel dela no processo. É desafiar quem clama desesperadamente por uma revolução.

É por isso que eu escrevo, falo, digo e repito, no futebol podemos controlar tudo, menos os torcedores, aqueles partidários.

Rafael Morais

Comunicador Social pela UFRN. Experiência em assessoria de imprensa esportiva e atuação em televisão. Áreas de interesse: literatura e esportes em geral, com ênfase no futebol como a "teatrialização das relações humanas".

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