Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 23 de março de 2023

MEU DUENDE FAVORITO

postado por Joao Paulo Rodrigues

Uns creem em deuses e deusas, outros são devotos de santos, diabos e dos Bolsonaro; outros tantos praticam a bruxaria e o vudu, e outro bocado cultiva a fé em fadas e superstições. Eu acredito em duendes. Eles existem e eu posso provar.

Eu não estou brincando. Tudo o que relatarei aqui se trata de um testemunho, que tenho relutado em compartilhar, por receio de ser vítima de ateus ou ser objeto de gozação. Mas depois que vi um vulto, com feições femininas, que sumiu do nada, eu creio em absolutamente tudo!

Já tem algum tempo que as coisas somem de minha casa. Utensílios de toda sorte simplesmente some: roupas, copos e até temperos, como orégano.

Inicialmente, por eu ser muito esquecido, eu pensava que se tratava de lerdeza de minha parte. Porém, por ter um espírito científico, passei a investigar este fenômeno. Aqui em casa havia um jogo de seis copos de vidro. Levei três para minha irmã e fiquei com três. Um copo se quebrou. Então, lógica e matematicamente, fiquei com dois. Então, passei a guardá-lo com muito cuidado, exatamente porque eu desconfiava que tinha um duende me roubando.

Não deu outro. Por um descuido, eu não me lembro onde guardei o copo. Ele simplesmente desapareceu daqui de casa. Eu não recebo visitas, não o emprestei, e nem fui roubado. Foi o duende quem levou, eu tenho certeza.

Já revirei minha casa do avesso, e nada.

A princípio, por ter o duende o princípio de inocência resguardado, eu não levantei suspeita alguma. Entendi que eu tinha esquecido em algum compartimento da casa. Todavia, minha casa é pequena. Procurei-o e nada.

Está certo que às vezes eu bebo e fumo. Mas este sumiço não se justifica. Aqui só moram eu e Melisso, o cão incontrolável. Porém, apesar de ele comer batata crua, casca de ovo e diversos tipos de lixo, vidro não está em sua dieta.

Foi o duende!

Então, só sobra o duende para eu acusar. Eu não queria, juro. Mas não há outro ser (mágico) a quem eu possa atribuir o sumiço de roupas, livros, temperos e, agora, copos, senão meu duende favorito.

— Duende, por favor, se estiver lendo este texto, devolva-me meu copo e os demais bens que você roubou. Não minta para mim. Eu sei que foi você. Apenas devolva e tudo ficará bem. Prometo que não chamarei os irmãos Wincheste. E não me venha com papo de que você é good vibe. Eu conheço bem tipos como o seu.

Joao Paulo Rodrigues

Graduado, especialista, mestre e doutorando em Filosofia (UFRN). Especializando em Literatura e Ensino (IFRN) e curioso pela ciência da grafodocumentoscopia.

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