Rio Grande do Norte, sexta-feira, 26 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 19 de maio de 2014

Santo Agostinho e a eleição presidencial de 2014

postado por Carta Potiguar
Por Emanuel Freitas
Doutorando em Sociologia (UFC)
Professor de Sociologia (UFERSA)

 

images (1)

A atriz Regina Duarte tentou mobilizar o medo contra um suposto comunismo, em 2002, embutido na então candidatura a presidência da república do PT, liderada por Lula.

O conhecido Bispo de Hipona, Santo Agostinho (350-430) escreveu em sua obra “Cidade de Deus”, publicada em 426, o seguinte: “dois amores distintos fundaram duas cidades distintas: o amor a si mesmo levado ao desprezo de deus fundou a cidade dos homens; o amor a deus levado ao desprezo de si mesmo fundou a cidade de deus”. Dois amores distintos, duas cidades distintas.

Pois bem, na última semana causou frisson e incomodo no meio político a inserção partidária do Partido dos Trabalhadores que alertava para os possíveis “fantasmas do passado”que voltariam a assombrar o país caso candidatos da oposição viessem a ser eleitos. A oposição e a imprensa que a sustenta viram na peça publicitária a repetição de algo que o próprio PT havia sido vítima em 2002: aestratégia do medo. Mas, a nosso ver, tal como os dois amores elencados por Santo Agostinho, trata-se aqui de dois medos diferentes.

pt

Em seu programa eleitoral gratuito, o PT fala sobre o medo do Brasil retornar ao passado de desemprego, desigualdade e miséria numa clara alusão ao período FHC-PSDB. Ao contrário da comparação de 2002 feita por Regina Duarte, há uma confrontação lastreada pela realidade.

Em 2002 a atriz Regina Duarte apareceu em nossas telas para anunciar seu medo com a possível eleição de Luis Inácio Lula da Silva. Seu medo devia-se ao fato de  que o Brasil, segundo ela, “pode perder toda a estabilidade conquistada” (a de se perguntar que estabilidade, uma vez que o país havia quebrado três vezes e solicitado ajuda ao FMI por três  vezes), Lula não era mais conhecido por ela, havia mudado, e “isso dá medo na gente”, segundo a namoradinha do Brasil. Seu medo estava na possibilidade e no desconhecimento, em outras palavras, era um medo de possibilidade, de provável. O amor aqui, para usar os termos do Bispo de Hipona, é um amor por uma futuro que poderia acontecer, sem indícios calcados no real.

Em 2014, a propaganda do PT é diferente. O partido fala da volta de coisas que o partido combateu em suas gestões: desemprego, inflação, diminuição da pobreza. É no real que a propaganda se ancora, não na possibilidade. Lula cuidou de aumentar a renda, combater a inflação e aumentar a oferta de emprego. O candidato primaz da oposição, Aécio Neves já falou abertamente de tomar “medidas impopulares” para governar o país (quem se prejudica com isso? Não são exatamente aqueles que estão representados na peça publicitária?) e seu guru econômico já falou em salário mínimo “muito alto”. Logo, há um solo no qual a inserção petista se ancora.

Dois argumentos distintos, dois medos distintos, dois brasis distintos.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

4 Responses

  1. Lucas disse:

    primeiro, mais uma vez os petistas tem que usar de todas as suas lorotas para justificar seus atos, alias nada diferente do que anda fazendo nos ultimos 12 anos em varios aspectos, seja justificar suas privatizações, suas aliancas eleitorais, seus casos de corrupção, sua incompetencia para gerir obras.
    segundo, a estrategia do medo, tambem faz referencia a candidatura do eduardo campos, com o tal do salto no escuro, o que seria compativel com a tatica do psdb contra o pt. A verborragia do pt esta perto do fim, e utilizar-se dessa estrategia so mostra como pt=psdb , e que ambos precisam ser derrotados nessas eleições, para o bem do brasil e o fim desse fla-flu da destruição.

  2. Brunno Mariano Campos disse:

    Distinção perspicaz, é preciso distinguir os medos. O medo do PSDB em 2002 era pautado em suposições, muitas delas preconcietuosas, além do que, não havia muito o que se perder. Já o medo do PT em 2014 é pautado em dados concretos e há avanços sociais em jogo.

  3. Augusto César disse:

    Fora PT. É chegada a hora do fim do ciclo petista de 12 anos no poder. Precisamos de alternância no poder e não um continuísmo eterno.

  4. Carlos Júnior disse:

    Eu prefiro o Brasil desenhado pelas políticas públicas iniciadas no governo Lula. Prefiro o emprego, prefiro o desenvolvimento social que chega nos municípios. Não aos apertos de um governo impopular.

Política

As perguntas que não são feitas nas pesquisas eleitorais

Política

Candidatura de Fátima Bezerra empolga