Rio Grande do Norte, sexta-feira, 17 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 2 de março de 2012

Quanto tempo é preciso para dizer “Eu te amo”?

postado por David Rêgo

Existem aqueles que amam demais. Entre uma e outra cerveja afirmam: “confundo sexo casual com Eu te amo“. Motivo de vergonha. Esse tema é, inclusive, o eixo central do personagem principal de, “How i meet your mother”, o “novo Friends“, exibido no Brasil pelo canal FOX Life. No seriado, tudo parecia correr bem entre duas pessoas que começavam a se conhecer. Então, no primeiro encontro, o homem diz: Eu te amo. Depois disto, tudo vai por água abaixo.

Esse fato é uma boa caricatura para as formalidades criadas frente ao sentimento que conhecemos por amor. São necessários ritos. Mas esses ritos são diferentes dos descritos pela raposa no clássico “O Pequeno Príncipe”: de olhar sem fingir que olha, de chegar no mesmo horário e local esperando encontrar alguém. Trata-se de outros ritos.

Parecem ter racionalizado até o amor. Amar em um mês é ridículo. Criou-se até uma escala. Primeiro se gosta. Depois se apaixona. Depois de muita experiência com a paixão, ela transforma-se em amor. A histeria emocional e racional da Modernidade parece ter invadido até mesmo os sentimentos. Alguns dizem que só é possível amar depois de 6 meses de namoro, entre outras curiosidades.
Depois que crescemos, que nos tornamos “racionais e sérios”, banalizamos os sentimentos que tínhamos quando criança. Quem nunca amou ao primeiro beijo quando pequeno? Amor à primeira vista é bobagem, apesar de uma série de pesquisas demonstram que conhecemos nossos possíveis amores até mesmo pelo cheiro. Existem indícios para acreditar na tal da “química” entre os amantes.

Quem nunca amou sem sequer beijar o amado? Só ao segurar sua mão? Não que nossos sentimentos de criança fossem mais puros. Eram apenas menos racionais. Eram, assim, puramente… sentimentos. Mais sentimento e emoção e menos racionalidade e precisão.
Afinal, nos dias de hoje, quanto tempo é preciso para se dizer Eu te amo?

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

12 Responses

  1. Pedro1 Andrade disse:

    Muito válida sua reflexão David. Concordo com você.
    Abração.

  2. rsrsrsrs adoro seus textos sensíveis!!! Cada mais vez penso no amor como puro desejo, na verdade desejamos pessoas. Se as pessoas dizem que amam no primeiro encontro é porque desejam demais o outro. O amor em si, como em conto de fadas, é pura ilusão…

  3. @gabidogato disse:

    hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

  4. Bruna Hetzel disse:

    Concordo em parte com a tua reflexão David. De fato, racionalizar
    ou ainda mensurar o amor é uma empreitada absurda e limitada. Cada indivíduo,
    assim como cada relação têm um tempo próprio e singular de construção do afeto.
    Por outro lado, o que pensar da banalização deste termo? O que tenho visto ao
    meu redor é uma verdadeira proliferação de “Eu te amos” que são ditos
    sem o menor comprometimento afetivo, sem sinceridade ou responsabilidade.
    “Eu te amo” hoje, porque me convém e me dá prazer; Amo meus colegas
    de baladas, meus ficantes, meus amigos, meus familiares… Amo a todos!! (Instantâneamente).
    Amanhã, já não sei mais. Amanhã é outro dia. Um tempo de novas possibilidades,
    para novos amores talvez…

    Mas no que consiste mesmo esse sentimento? A pequena história de
    Saint Exupery, para além dos ritos citados nos levanta uma condição existencial
    para o estado de amar: o cuidado. Aqui, o tempo de amar é a suspensão do
    tempo cronológico e a imersão no tempo de kairos, o tempo interior, dos afetos
    e da contemplação, o tempo de saborear, experimentar; o tempo de compartilhar e
    da compreensão. Compartilhar é sentir junto. Sentir a alegria, mas também a dor
    do outro, aturar, permitir a possibilidade de existência do outro em suas
    singularidades, diferenças, e estranhezas e assumir a responsabilidade por esse
    vínculo. E é aí que mora o possível obstáculo…o peso. O ser amado não pode
    ser descartado, como os demais objetos de consumo, ele exige cuidado e cuidado
    exige tempo de dedicação e a abertura de concessões.

    Ao
    meu ver, amar é um sentimento profundo e maduro não porque necessite de preparo,
    etapas de consolidação, ou de qualquer critério identitário, mas sim porque se
    pauta na emergência de um vínculo, que uma vez criado dificilmente se desfaz…

  5. Thaíssa disse:

    A certeza de ser amado, talvez façam os amantes se perderem…

  6. Daniel Menezes disse:

    David Rita Kehl!

  7. Daniel Menezes disse:

    Ou David Calligaris!

  8. Lolis disse:

    O problema é que hoje em dia muitas pessoas carentes confundem esse sentimento e acabam se machucando. Acho que até para amar tem que ser racional, mas infelizmente nem sempre é o que acontece. 

  9. Muito bom o texto. Quando somos mais jovens nos apaixonamos facilmente, por um olhar, um sorriso, uma palavra rs….eu mesmo já tive uma paixão platônica por um professor de inglês, na minha cabeça nunca tinha visto alguém tão bonito, era um “príncipe encantado” (rsrs)…O pior foi que ele  incentivou por saber que era bonito e vIa como eu ficava a cada vez que olhava pra ele rsrs ( se aproveitou da minha ingenuidade rs) , depois veio a desilusão fiquei péssima por isso….foi horrível rsrsrs…Gostar de alguém vai além das aparências….o amor é uma construção realizada diariamente. Também não acredito nesse eu te amo da noite para o dia…dessa banalização que você comenta no texto….e nem em amor como conto de fadas.
    Muito boa a reflexão!

  10. Concordo plenamente Bruna, falou tudo, sobre um sentimento tão banalizado hoje em dia, obviamente existem exceções.

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