Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 10 de maio de 2012

“Torcedores Mistos”: Ecos da Globalização

postado por Carta Potiguar

Por Manoberto Victor
(Graduado em Geografia – UFRN)

Imagem: digitalart

A globalização é um processo contínuo que contribui para a ausência de fronteiras existentes no nosso cotidiano, através da contribuição promovida por avanços: tecnológicos, científicos e informacionais. Tal universalização do mundo promove modelos, regras e estilos que são aplicados a: economia, mercado de trabalho, vida social, consumo, alimentação, cultura, dentre outros. Contribuindo para uma racionalidade a serviço do capital. Em contrapartida a este processo de redução das distâncias, intensificação dos contatos e padronização dos valores políticos, econômicos e sociais, surge, como reação, o regionalismo – que de forma sucinta – reivindica costumes, valores e posturas identificadas como tradicionais ou definidoras de uma região, cultura ou povo. De um modo geral, o regionalismo busca aproximar ou vincular as pessoas de uma maneira significativa e radical àquilo que seria “próprio” à elas como um povo ou cultura particular.

Como não poderia deixar de ser, o esporte, como uma atividade individual e coletiva, está fortemente ligado a tais processos, isto é, tanto a globalização quanto a reação regionalista à globalização. Desde os anos noventa do século XX, a expansão de um clube ou time, depende, decisivamente, de ações intimamente relacionadas ao mundo globalizado – ações de marketing, publicidade, difusão das marcas em meios de comunicação de massa e instantâneos, dentre outros meios), onde o consumo do produto (clube) é motivado ou realizado em primeiro plano por um sentimento de identificação, seja no âmbito global ou regional.

Um personagem surge em meio a esta disputa de valores, o torcedor “misto”. Uma figura de discussões e julgamentos do universo futebolístico, que tem o seu sentimentalismo regional posto em prova. Na gíria do futebol, o “misto”, é aquele “torcedor”, que torce somente por um time de outro Estado (que não seja o da sua origem/nascimento) ou que torce por um time do seu Estado, mas também por um clube de outro Estado com o qual divide seu coração e, também, o seu bolso. Para explanar tal definição, tomemos os amigos: José e João. José é potiguar, mora em Natal, gosta de futebol, e o seu time do coração é o Flamengo. João, que também nasceu no RN, torce pelo Vasco da Gama e para o ABC. Ambos não possuem nenhuma ligação com o estado carioca, a não ser através da mídia, por intermédio dos jogos. O que leva a muitas vezes João a trocar a ida ao estádio – apoiar o time do estado onde nasceu – para acompanhar pela TV, no seu sofá, um time que não possui uma relação condizente. Há de se acrescentar também, um sentimento de rivalidade compartilhado pelos amigos potiguares. Onde cada um detém apenas informações geradas através das imagens das câmeras e dos comentários (duvidosos e tendenciosos) dos jornalistas e comentaristas que cobrem a partida.

Não há como negar a emoção de poder acompanhar de perto um jogo do seu time do coração (seja do seu estado ou não). Poder estar próximo, separado apenas por alguns metros de distância, cantando, gritando, xingando, compartilhando instantes de aflição e êxtase com outros semelhantes, momentos que as lentes não podem transmitir, e a mídia não consegue expressar. Torcer in loco é ao mesmo tempo uma forma de apoio e protesto.

A distância estabelecida entre o torcedor misto e o seu clube do eixo sul/sudeste resulta numa discriminação. Um desrespeito procedido por torcedores do estado do seu clube, e pelos torcedores dos clubes locais. Tal atitude desnecessária se reflete devido a influência direta da mídia em torno dos torcedores mistos. Apesar da falta de apoio e desconhecimento frente ao futebol regional, o torcedor misto merece respeito (assim como qualquer outro), pois cada indivíduo tem o direito de torcer, admirar ou simpatizar pelo time que quiser, seja de outro estado ou país, entretanto, isto não lhe da o cabimento de se utilizar de falsos julgamentos e argumentos contra os times da região, caso não torça. Os times locais merecem respeito tanto quanto os de outras regiões ou países. Assim como é possível simpatizar por clubes de outros estados, é possível também criar um sentimento por um clube local.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

10 Responses

  1. Alexandre disse:

     serei bem objetivo e direto, Quando os respectivos times dos torcedores “mitos” chegar na série A ( o América de Natal já consegui essa façanha por duas vezes) e de preferência por um período maior ou constantemente subir, tudo isso poderá mudar e assim o torcedor valorizar mais o time da sua cidade de origem além de tudo um maior reconhecimento da cidade e do time em nível nacional.
     A cidade de Florianópolis” é um exemplo até a pouco tempo era uma cidade conhecida apenas como o surf ou tênis como Guga, mas mudou, hoje todos nós conhecemos o Avaí e o Figueirense com sucesso na série B e e os constantes acesso e permanência por um tempo na série A do Figueirense com isso, o catarinense valoriza mais o times locais e consequentemente é divulgado o campeonato catarinense no Globo esporte, mesmo o o rebaixamento do Avaí, então ABC (principalmente) e América conquistem o acesso para série A, é possível sim, o América conseguiu por duas vezes….

  2. Joaodias disse:

    Torcer é como amar. Você nem sempre escolhe. Sou de Natal, moro em Natal e torço exclusivamente pelo Fluminense do Rio de Janeiro. A minha geração, onde o rádio era o meio de comunicação (a TV só engatinhava), vivia de sonhos e construía fantasias antes de se apaixonar. Eu mesmo, cambiei e “namorei” através de cartas com meninas de diversos países do mundo. Naquela época tínhamos uma paixão futebolística em cada estado. Eu, por exemplo, antes do 10 anos, torcia pelo Inter, Santos, Flu, Cruzeiro, Sport e América. Após os 10 filtrei e fiquei com o Flu e o Mequinha. Aos 20 decidi “casar” e ser fiel ao Fluminense Football Club. A vida é mesmo assim. Tem quem leve uma vida celibatária, quem tenha mulheres e amantes e aqueles que casam e são fieis até que a vida permita. A camisa, as cores, a bandeira, o hino e o estilo dos torcedores do meu time me fizeram, depois da descoberta da paixão, casar e ser fiel. No futebol como no amor, tem uns e outros. Mas ninguém está errado, da mesma maneira como inexiste um dono da razão.    

  3. Evan Morais disse:

    Não existe apenas a série A no futebol brasileiro não, inclusive para o nosso estado diante de suas limitações financeiras, políticas e tudo mais, colocar dois times na série B de um campeonato brasileiro é algo que tem um valor grande. Inclusive o nosso campeonato não suporta o tanto de time grande que existe nele. Se os times daqui não conseguem se manter lá é porquê existem questões além de prestar ou não, veja o quanto que times como Vitória, Góias, América MG recebem da CBF por exemplo, nem se compara ao que os times daqui recebem.

      Acho que acontece é questão de identificação, antes só chegava a ABC e América quem ia em busca deles, ou seja no estádio, hoje esses times vem até a gente com mais facilidade por N meios, o que justifica o aumento de suas torcidas e até mesmo o surgimento de discussões como essa.

    Culpar nossos times daqui pelos seus insucessos é fácil demais, julgar pelo o que acontece no jogo, com a bola rolando é fácil demais, chega ao ponto de cegar. Futebol anda bem colado à geografia, no Brasil não é diferente, por onde que circula o dinheiro no nosso país? onde que estão os principais times, mais vitoriosos do pais? quanto mais recurso um time tem, mais fácil pra ele ter conquistas, o nosso estado é fraco nisso mas não é por isso que devemos desvalorizar nossos times, eles são uma forma nossa de dizer que existimos, que estamos aqui também, temos que lutar pelo crescimento deles, são nossos representantes no futebol nacional.

    No mais, pegando aqui mesmo pelo Nordeste, nosso futebol é intermediário, diante dos  estados mais fortes (PE, BA e CE) somos o mais fraco, vez por outra conseguindo resultados em cima de times desses estados. Dentre os demais estados, onde o futebol anda bem fraco somos o estado mais forte, porém vez por outra caímos diante de equipes da PB e AL por exemplo. Ou seja, batemos de frente a equipes com um orçamento 6, 7 vezes maior até e perdemos para equipes bem fracas, é o futebol.

    O nosso povo pouco valoriza o que é daqui, no futebol não é diferente, por exemplo, após a eliminação do ABC na Copa do Brasil mês passado, em que a equipe alvinegra fez uma grande partida e acabou perdendo tudo por erros ou até mesmo falta de sorte. A forma como os potiguares reagiram me foi revoltante não apenas como torcedor do ABC mas como potiguar. Nas redes sociais eu vi pessoas que não torcem para times daqui (se fossem torcedores do América entenderia sem problemas, até porquê é do futebol, a rivalidade é isso, a brincadeira) e vi também gente que eu não sabia que gostava de futebol desdenhando do ABC e do futebol daqui, como se fosse uma exclusividade dos nossos times aquele tipo de coisa, uma vez que o acontecido é de uma raridade sem tamanho no futebol.

  4. Alexandreoffs disse:

    ABC DESCONHECE O CAMINHO DA SÉRIE A, DEPOIS QUE CONQUISTAR UM ACESSO, PODERÁ MUDAR A SITUAÇÃO, SEU TORCEDOR QUE DIZ FANÁTICO PODERÁ VALORIZAR MAIS SEU TIME. ESTIVE NO ÚLTIMO CLÁSSICO POTIGUAR PASSADO, E É INCRÍVEL AS CAMISAS DOS TIMES DO RJ NO ESTÁDIO, SOU DE PORTO ALEGRE TORCEDOR DO INTERNACIONAL E SIMPATIZO COM O AMÉRICA DE NATAL, CLUBE ONDE JÁ CONQUISTOU DOIS ACESSOS PARA SÉRIE A, É UMA VITÓRIA PARA FUTEBOL POTIGUAR, APESAR DE SIMPATIZAR COM O AMÉRICA, GOSTARIA DE VER O ABC CONSEGUINDO UM ACESSO PARA ELITE DO FUTEBOL BRASILEIRO, ENQUANTO O AMÉRICA TUDO PODE ACONTECER, O TIME SURPREENDE E É MAIS RECONHECIDO NACIONALMENTE.
    SAUDAÇÕES COLORADAS!

  5. coloradoRN disse:

    ABC DESCONHECE O CAMINHO DA SÉRIE A, DEPOIS QUE CONQUISTAR UM ACESSO, PODERÁ MUDAR A SITUAÇÃO, SEU TORCEDOR QUE DIZ FANÁTICO PODERÁ VALORIZAR MAIS SEU TIME. ESTIVE NO ÚLTIMO CLÁSSICO POTIGUAR PASSADO, E É INCRÍVEL AS CAMISAS DOS TIMES DO RJ NO ESTÁDIO, SOU DE PORTO ALEGRE TORCEDOR DO INTERNACIONAL E SIMPATIZO COM O AMÉRICA DE NATAL, CLUBE ONDE JÁ CONQUISTOU DOIS ACESSOS PARA SÉRIE A, É UMA VITÓRIA PARA FUTEBOL POTIGUAR, APESAR DE SIMPATIZAR COM O AMÉRICA, GOSTARIA DE VER O ABC CONSEGUINDO UM ACESSO PARA ELITE DO FUTEBOL BRASILEIRO, ENQUANTO O AMÉRICA TUDO PODE ACONTECER, O TIME SURPREENDE E É MAIS RECONHECIDO NACIONALMENTE.SAUDAÇÕES COLORADAS!

  6. Diego Fernandes disse:

    Boa, Mano, tistis.


    Apesar da falta de apoio e desconhecimento frente ao futebol regional, o torcedor misto merece respeito (assim como qualquer outro), pois cada indivíduo tem o direito de torcer, admirar ou simpatizar pelo time que quiser, seja de outro estado ou país, entretanto, isto não lhe da o cabimento de se utilizar de falsos julgamentos e argumentos contra os times da região, caso não torça. Os times locais merecem respeito tanto quanto os de outras regiões ou países. Assim como é possível simpatizar por clubes de outros estados, é possível também criar um sentimento por um clube local.”

    Essa longa citação mostra bem a qualidade do texto: posição equilibrada, distante do radicalismo que limita a mente de muitos torcedores potiguares. Análise lúcida do fenômeno atual dos “mistos”, que não despenca para os preconceitos regionais nem tampouco para os futebolísticos.  

  7. Maiara_juliana disse:

    Bom texto, Manoberto! Até porque você o coloca de uma maneira que não existiria melhor forma: nem condena os torcedores mistos, nem aplaude a prática.
    Foi importante você escrever sobre isso. Estamos em um tempo que a repulsão contra torcedores “mistos”, por parte dos torcedores do clube do Estado, é um movimento que tem crescido e ‘aparecido’ no Rio Grande do Norte. Nasci no Rio de Janeiro, moro em Natal há mais de 10 anos. Há tempos atrás nutria uma paixão forte pelo São Paulo e Fluminense (paixão herdada do meu pai desde pequenininha) e cheguei a me simpatizar pelo América de Natal (mas nunca cheguei a ir ao estádio). Um certo dia, tive a oportunidade de conhecer mais a respeito sobre o futebol potiguar, sua história e seus clubes. Mudei de simpatia. Passei a admirar o ABC. Talvez, foi amor à “décima” vista hehehe Fui ao estádio inúmeras vezes. Quando não podia, acompanhei pelos rádios ou pela TV. Comprei camisas, bandeiras, mascotes… E resolvi ficar nessa paixão até hoje de modo que extingui, totalmente, o meu encantamento pelo São Paulo e transformei a minha paixão pelo Fluminense em uma grande simpatia (acompanhando vagamento os jogos do time em Campeonato Estadual e na Libertadores). Hoje em dia, quando vou ao estádio, fico triste ao ver torcedores potiguares vestirem a camisa de times como Flamengo, São Paulo e Corinthians. Mas sem um sentimento de repulsão, ainda. Futebol tem disso mesmo. Os estádios são espaços de sociabilização dos bons amantes dessa prática; sejam eles torcedores dos clube que estão ali jogando, ou não. Mas algo é certo: não há sentimento melhor do que torcer juntinho ali, empurrar o time no estádio, cantar junto, vibrar junto, xingar junto… sensação, como essa, não há!  

  8. Filipe Varela disse:

    O que mais me incomoda é o complexo de inferioridade do nordestino
    (ou complexo de vira lata, como foi publicado há pouco tempo aqui). Por que o
    pessoal do Sul/Sudeste não torce para os times daqui? Por que nós somos
    obrigados a assistir os campeonatos de outros estados pela TV? Por que a TV paga
    não oferece os regionais do Nordeste para vender? Qual a razão para isso?

    Não me venham dizer que é porque os times daqui não conseguem
    fazer boas campanhas. Ora, se a população local, que deveria ir aos jogos, se
    associar ao clube, comprar a camisa e fomentar o futebol na cidade, prefere ficar
    em casa torcendo para times de outros estados, como que os clubes terão
    condições de investir, a ponto de concorrer em  pé de igualdade com os ditos “grandes” do
    RJ/SP, por exemplo!?

    Trata-se de um círculo vicioso. O torcedor não valoriza o
    futebol local, que diminui o interesse de patrocinadores, e o poder de investimento
    dos clubes, que não conseguem formar “times de série A”, que não atrai a
    atenção do público…

    Não deixe a mídia (Globo) te manipular, tire a bunda do sofá
    e vamos valorizar o futebol do RN.

    Sou torcedor do ABC e visto a camisa da campanha anti misto.

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