Rio Grande do Norte, segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 14 de maio de 2012

#Grevedosonibus: SINTRO joga contra a população e a favor dos empresários

postado por Daniel Menezes

Imagem: Idea go

A greve de ônibus deflagrada hoje na capital e na grande Natal desestruturou a paisagem urbana. Não que a cidade do sol seja um exemplo de organização, já que, cotidianamente, os ônibus funcionam dentro do limite da lógica do aceitável. Mas retirou o chão de centenas de milhares de trabalhadores.

O SINTRO, sindicato dos trabalhadores rodoviários, como já vem virando rotina, errou na forma e no conteúdo da greve. Vacilou porque não respeitou lei de greve, que prevê 30% da frota em circulação e dos funcionários trabalhando, e penalizou toda a cidade que já faz uso de serviço precário. Em tempos de opinião pública, não basta “dobrar o empresário”, mas também demonstrar para a população que o pleito é justo. Mais. Que o sindicato está preocupado em minimizar os danos causados aos usuários.

Mas foi justamente o que o sindicato não fez ao desrespeitar a lei de greve e depredar os ônibus que tentaram sair de suas garagens, deixando milhares de pessoas na mão. Com o estado de animosidade criado, a sociedade aceitará qualquer perspectiva política ou jurídica que vise desmantelar o movimento grevista. E aí o sindicato seguirá sozinho sem o apoio de ninguém, além deles mesmos. Um jeito mais difícil de legitimar a paralisação.

Os grevistas também erraram porque fizeram uma parada justamente no momento em que os empresários de ônibus tentam aumentar o valor da passagem. Algumas pessoas leram os braços cruzados como um apoio ao pleito impopular porque injusto. Que estavam de mãos dadas com os empresários, na tentativa de pressionar MP e PMN para que revissem o valor cobrado pelo transporte coletivo em Natal.

Ora, pagamos uma das passagens mais caras do nordeste e com um detalhe: nossos percursos são os menores. Há cidades que dividem os trajetos em A, B e C, em que A e B, que apresentam a circulação de menor distância, tem valor da passagem ainda mais baixo. Enquanto isso, em Natal, independentemente da distância percorrida, o preço cobrado é unitário, o que só é cobrado em outras cidades para o percurso C, que seria o mais longo. Em resumo, ainda que o usuário percorra trajeto “A”, que em outras cidades teria preço diferenciado mais barato, ele paga sempre o valor referente a uma distância “C”.

Diante de tal contexto, o SINTRO perdeu uma grande oportunidade de permanecer prestando o serviço normalmente. Poderia ter feito a greve depois que a celeuma do aumento passasse.

Faltou também inteligência estratégica. O SINTRO destruiria o argumento dos empresários, se mostrasse, através de auditoria, a taxa de lucratividade que o valor da passagem gera e qual é o percentual gasto com o pagamento de salários. Numa sociedade democrática, argumentos transparentes costumam ser mais geradores de sucesso do que a truculência. O SINTRO, talvez não sem razão, está sendo chamado do Sindicato dos Baderneiros. E do jeito que vai, será difícil retirar essa pecha.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

8 Responses

  1. Helaine disse:

    O grande erro é que o sindicato atinge as pessoas erradas. Deveriam ser os empresários, mas o principal prejudicado é o cidadão que depende do transporte público e que mesmo pagando um valor alto na passagem ainda é sujeitado a um atendimento ruim.

  2. Lucasmsn10 disse:

    O problema desta greve é que ela atinge muito mais as classes mais baixas do que os burgueses.

    Estudo em uma escola pública, e mais de 90% dos alunos e professores compareceram. Acho que não posso dizer o mesmo das escolas públicas. 

  3. Lucasmsn10 disse:

    Corrigindo, 

    estudo em uma escola particular*

  4. Linhares1984 disse:

    Daniel, sou aluno de graduação de Ciências Sociais e trabalho como rodoviário, independente disso não se limite a sociologia de ar condicionado.
    É necessário entender que a data base (período onde são feitas negociações)2011-2012 foi entregue pelo sintro a justiça potiguar( aquela mesma do fantástico) e esqueceu ate mesmo de consultar a categoria,resultado: o vale alimentação ate hoje nunca foi pago.
    Desta forma, mesmo se o sintro tivesse a intenção  dos 30 % não sei se seria possível, tamanha a insatisfeito dos funcionários, que preferem
    Outro ponto que pelo jeito voce não sabe, é esse aumento de passagem foi justamente feito dentro data base sem nenhuma planilha de custos ou prova concreta que o mesmo era necessário, logicamente foi negado(e que sabe esse não era o objetivo).
    Fato é que acompanhando pelas redes sociais não vejo a sociedade rebatendo os rodoviários, pois a população sabe qual a rotina de quem acorda as 3 ou 4 horas saindo de casa inda no escuro, passando o dia neste transito infernal.
    É muito fácil concordar e alimentar com o discurso do Sr. maranhão.

  5. Daniel Menezes disse:

    Caro Linhares,

    penso apenas que vocês escolheram hora errada para fazer a greve, pois passa a “impressão” (veja que, conforme também disse acima, não há veracidade de que vocês fazem o jogo do SETURN, mas fica essa “suspeita”) de que pressionam também por aumento das passagens.
    Acho apenas que faltou trabalhar melhor a opinião pública, pois não vejo apoio da sociedade ao pleito de vocês, justamente pelo contexto criado. 
    Desrespeitar a lei de greve e jogar pedra em ônibus também não ajuda a criar um contexto favorável de legitimidade, concordas?
    Em nenhum momento, se você prestar bem atenção no meu texto, não me opus às reivindicações. Acredito que a forma como tudo foi feito cria um estado de ilegitimidade para a greve. 
    Que fique claro. Penso que reivindicar aumento e pagamento de auxílio é completamente plausível. O que critico é a total falta de estratégia do SINTRO no sentido de dialogar com a sociedade.
    No final das contas, quem tá saindo de boazinha é Micarla de Sousa, que aparentemente (veja que utilizo a palavra “aparentemente) luta contra o SINTRO e SETURN que pressionam por aumento, já que SETURN já falou em aumento de passagens para cobrir as reposições salariais.

    • Daniel Menezes disse:

      Se vocês viessem antes de deflagrar a greve, com um indicativo de greve… e apresentassem a pauta de maneira aberta para todos… Teriam muito mais apoio da sociedade.
      Veja também em textos anteriores que sou o único que está criticando o absurdo que é um ônibus andar com um motorista, que também é cobrador. Sou o único q está falando sobre a pressão por bater metas da quantidade de corridas diárias, que pelo aumento do trânsito, se tornam cada vez mais difíceis.

  6. Linhares1984 disse:

    Daniel,é fato que o sintro falha em não divulgar sua pauta de forma clara para a sociedade, de fato deveria faze-lo através das mídias sociais( já que através dos meios de comunicações mais formais é inviável, diferente do seturn), sem sobra de duvida ele peca o quanto a isso.
    Contudo, ressalto novamente que o auxilio alimentação do ano passado é sim motivo de revolta dos operadores( não necessariamente do sintro), acredito que mesmo se o sintro/rn tivesse a intensão de colocar a frota de emergência não seria possível.
    A nossa querida prefeita se mantem a quem de tudo, com tudo, poderia se envolver para uma mediação procurando trazer alguma solução, mas esperar o que de uma administração com um atestado de incompetência assinado? uma prefeitura que não resolve seus próprios problemas( apesar deste também ser).
    O sindicato é ciente que a passagem de Natal por seu custo operacional é cara, mas obviamente o seturn jamais vai colocar essa planilha a disposição dos rodoviários, como não teve a decência de apresenta -la a própria justiça(http://tribunadonorte.com.br/noticia/justica-indefere-pedido-de-aumento-da-passagem-de-onibus/219131) em um pedido de aumento estratégico, onde já era sabido que iria ser negado e usado com instrumento para negar o reajuste salarial da categoria.
    Além disso tudo a um jogo de questões politicas que permeiam todo esse processo, que de fato, prejudica o elo mais fraco que é o usuário, disso não tenho dúvida.
    Contudo, hoje temos trabalhadores rodoviários que preferem levar falta no trabalho a continuar trabalhando nas condições atual ou simplesmente esperar pela justiça brasileira.

  7. Uma vergonha essa matéria! Só podia vir de um membro de um partido com essa fama. Esses petistas sempre deturpando a verdade! 

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