Rio Grande do Norte, segunda-feira, 13 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de junho de 2012

Cesar Maia: um exemplo para os novos militantes

postado por Daniel Menezes

Todos os dias faço algumas leituras que considero obrigatórias. Dentre elas, acesso o ex-blog do Cesar Maia. Lá é possível encontrar de tudo um pouco. Análise de dados, tradução de artigos internacionais e uma oposição sistemática ao governador Sergio Cabral. Você queria o que? O cara é político e está jogando o jogo.

Porém, concordando ou discordando das teses do ex-prefeito do Rio de Janeiro, o fato é que ele se movimenta, estuda e não estabelece uma dissociação entre “teoria” e “prática”. Fundamenta seu discurso e sua atuação.

Ora, poderia servir de exemplo para muitos militantes que hoje produzem uma separação rasteira entre o que chamam de “engajamento prático” e “ciência  de gabinete”,  gerando a afirmação da (sua) ignorância como meio de vida e subsídio válido para a prática política. O resultado é a gestação de um ressentimento que é direcionado contra quem estuda, ler os livros e participa das disciplinas e bases de pesquisa com afinco.

No movimento estudantil que vejo aflorar na UFRN, ambiente que convivo com maior imersão, não é incomum ouvir acusações do tipo: seu “intelectual de gabinete, você se rende ao microfascismo da sala de aula”. Ou: “deixe essa leitura e venha para a prática”. Como se estudar fosse sinônimo de auto-alienação.

Mas é preciso subsidiar toda essa munganga com um quê de “intelectual”. Duas estratégias aparecem: a dos militantes “socialistas”, que se contentam com a leitura do Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels; e a dos “anarquistas” – porra-loucas – com uma “passada de olho”, como a gente costuma dizer, em alguns capítulos das obras de Foucalt e Deleuze.

Nessa lógica o que importa é salvar o mundo – o que significa, na maioria das vezes, em salvar a própria pele. E a resistência se processa em deixar de ir para a aula e lutar contra o “poder disciplinador microfascista do professor e do ambiente acadêmico”, o que se materializa na reprovação por falta nas disciplinas de graduação e até o abandono do curso. Marx, Foucault e Deleuze se reviram no túmulo.

 

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

13 Responses

  1. Gustavo Vilella Whately disse:

    Estão girando no túmulo até gerar eletricidade.

  2. Curioso texto por estampar como exemplo César Maia (!), interessante até o parágrafo que vem falar da dissociação entre teoria e prática, mas medíocre quando começam a expor seu julgamento pessoal sobre grupos e atitudes específicas, generalizando o “movimento estudantil que está “aflorando” na UFRN…Que ousadia publicar um texto tão raso como esse, poderia continuar na análise sobre a falta de conexão entre teorias e práticas por parte de quem compõe a academia. Gente, escrevem coisas além do que seus olhos (julgamento pessoal/senso comum) podem ver, desse maneira, é fácil tornar um periódico descredibilizado!

  3. Daniel Menezes disse:

    A atividade acadêmica é uma atividade prática… por excelência. 

    A academia também cumpre papel político ao fazer pesquisa e produzir conhecimento crítico sobre o mundo.

    Por isso discordo da sua afirmação: 

    “a falta de conexão entre teorias e práticas por parte de quem compõe a academia.”

  4. Atividade acadêmica? Que atividade acadêmica está falando? Nem sempre os discursos acadêmicos/teóricos se relacionam com as práticas, falo de prática no sentido mais amplo.

    Recomendo, mais uma vez, que estude o quão distante está o discurso acadêmico de muitas práticas, nesta não falo somente de militância política, mas as práticas profissionais também. 

    Não basta apenas ser um pesquisador para conectar seus estudos com suas práticas cotidianas. E isso é um problema da academia sim, pena que você se deteve à este meu trecho descontextualizado. O que eu realmente quis dizer é que você se isentou de analisar uma problemática ( de fundamentar discurso e atuação) que vc joga no início do texto em razão de seu julgamento e achismo sobre o movimento estudantil da UFRN.

    Jornalismo é uma profissão que lida com informação e conhecimento, por isso não se deve apenas “reproduzir” generalizações e preconceitos oriundos de sua vivência pessoal.

  5. Zezim disse:

    Minha cara, sem desmerecer sua discordância em relação ao artigo, mas quando diz que AINDA é leitora de um veículo de comunicação, soa como aquela ameaça: “digam o que eu quero ouvir!”.  A quem pensa assim, sugiro criar a própria página, veiculando as únicas verdades do universo e das sociedades.

  6. Boi disse:

    Generalizou mesmo…

  7. Lucasmsn10 disse:

    Você está certo, acho que não é necessário observar apenas as universidades para perceber isso, no ensino médio mesmo, existe a ala de esquerda, composta, de um lado, por mini-intelectuais de esquerda, leitores de Marx, e do outro, os anarquistas, revoltados, que gostam de pixar tudo. 

    Mas por enquanto só se vê base, os cursos que eles vão seguir determinarão se vão ter uma ligação maior com os ideias revolucionários ou não. Essa garotada é não é mole não, é a revolução kids!

  8. Lucasmsn10 disse:

    A direita nem existe mais, foi esfacelada. A única coisa que falta é um bom governo que traga o que o povo quer. E o que o povo quer? Será que é possível?

  9. Caro Zezim, coloquei que AINDA sou leitora me referindo aos bons textos que a cartapotiguar posta, porque se continuarem com textos que denotem julgamentos pessoais e reprodução de richas que os colunistas travam com algumas pessoas/militantes da UFRN, este periódico ficará descredibilizado. Não é uma ameaça, é apenas um demonstração do meu DESGOSTO. Generalizar o movimento estudantil em função do achismo de um colunista é torpe.

  10. Julio disse:

    Morando no rio e conhecendo de perto as obras de Cesar Maia, me pergunto o que realmente seria exemplo nele. Usar um exemplo tão distante e desconectado da realidade potiguar é temerário.

  11. Daniel Menezes disse:

    Julio, não elogiei o prefeito Cesar Maia, mas a postura dele enquanto político que disputa no espaço público. 
    Enquanto que aqui o movimento estudantil faz uma separação rasteira entre prática engajada e transformadora X “intelectual acadêmico de gabinete”, o Cesar Maia faz uma boa articulação discursiva entre teoria e prática.

  12. Daniel Menezes disse:

    Não exista rixa pessoa, caros Zezim e Girlane, mas a pura diferença de concepção. 
    Há, inclusive, uma divergência da minha parte sobre a visão que Girlane emprega ao pensar a ideia de “prática”. 
    Para mim, o simples ato de pesquisar/estudar é uma prática. O universitário não precisa, necessariamente, estar engajado em um movimento político para estar atuando politicamente. 
    Se criar conhecimento sobre o mundo, conhecimento esse que vai, inclusive, subsidiar muitos movimentos sociais e políticos, ele estará intervindo praticamente no seu meio.

Política

Direito da democracia: um Jogo de Avelórios

Política

Alipio de Sousa Filho concede entrevista ao DN sobre criação de banheiro unissex na UFRN