Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de junho de 2012

O Corvo (2012)

Edgar Allan Poe é o protagonista desse suspense. Nele o escritor se depara com uma série de assassinatos inspirados nas suas próprias obras.

postado por Mario Rasec

Quando anunciaram que fariam um filme policial que teria Edgar Allan Poe (1809-1849) como personagem, eu pensei: querem aproveitar o sucesso do blockbuster Sherlock Holmes para criar outra franquia. Entretanto, apesar de que a intenção possa se assemelhar com o filme do famoso detetive, o filme O Corvo constrói um protagonista menos heroico.

O filme não é uma cinebiografia do escritor. É um filme policial que se apropria dele e de seus escritos para criar uma trama de suspense. Através de uma atmosfera sombria e melancólica, sua premissa é de que um assassino estaria cometendo seus crimes inspirado nos texto do escritor. Se levarmos em conta isso, de que não é uma cinebiografia de Poe, o filme se torna muito mais fácil de digerir.

Dirigido pelo mesmo diretor de V de Vingança, o filme tem uma ótima atmosfera. Sua fotografia agrada, se destacando logo na primeira cena em que vemos um corvo em primeiro plano sobre um galho de uma árvore e, ao fundo, em plongée, a figura de Poe (John Cusack), num enquadramento que faz com que a ave se mostre acima do escritor. Uma imagem que revela o Leitmotiv da projeção, onde a obra de Poe se volta contra ele e lhe oprime através das mãos assassinas do seu antagonista. E as primeiras cenas servem como a promessa de um bom suspense (a imagem sombria de Poe saindo da neblina numa rua), mas que desencanta, principalmente, naquilo onde Poe era mais eficiente: seu desfecho. Desfecho este que soa precipitado, como se o baixo orçamento do filme pesasse sobre os ombros da produção no momento em que mais se exigia um cuidado maior com o roteiro.

O final é frustrante, bobo, clichê. Uma verdadeira “broxada” num triller que, por se inspirar em Edgar Allan Poe, prometia um gozo semelhante ao que se sente ao ler sua obra. Mas, nem mesmo com toda a liberdade que o enredo possuía em relação ao escritor, o filme conseguiu agradar plenamente. Mesmo que de antemão nos livrássemos da ideia preconcebida de que o filme tivesse a pretensão de ser fiel a obra e a vida de Poe. Mas esperávamos, ao menos, que fizesse justiça ao seu universo. O que até prometia, mas que em pontuais momentos já denunciava seu fracasso.

Restou apenas se contentar com a ótima produção de arte, sua atmosfera sombria, sua convincente recriação de época. Detalhes que mostram que faltou pouco para essa produção se tornar uma boa homenagem a Edgar Allan Poe. E, por ter chegado quase lá, tendo as ferramentas para tal, até mesmo com uma premissa interessante, e, mais ainda, com uma excelente fonte de inspiração que é toda a obra do escritor/protagonista, só resta lamentar que os clichês e sua precipitação no final tenham feito desse filme uma obra esquecível. Muito ao contrário dos contos de Poe que são citados durante a projeção, todos surpreendentes e marcantes.

 

Ficha técnica:

Título original: The Raven (EUA , 2012)

Direção: James McTiegue

Roteiro: Ben Livingston, Hannah Shakespeare

Elenco: John Cusack, Alice Eve, Luke Evans, Brendan Gleeson, Kevin McNally

Mario Rasec

Designer gráfico, artista visual, ilustrador e roteirista de HQs. Autor de Os Black (quadrinho de humor) e de outras publicações.

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