Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 6 de agosto de 2012

Sobre a xenofobia natalense

postado por Daniel Menezes

O brasileiro adora se colocar como o povo bonito por natureza, alegre, festeiro, receptivo, averso a contradições. Esta auto-imagem, além de esconder outros preconceitos, tente também a camuflar a xenofobia que nos atravessa. Em Natal, há um discurso compartilhado e direcionado contra o estrangeiro que pode muito bem se enquadrar nessa perspectiva.

O turista, alias, vive uma caracterização ambígua – ao mesmo tempo em que as ditas “autoridades” e membros da chamada “indústria limpa”, hoteleiros, pequenos comerciantes, donos de restaurante, etc, vibram com os vôos charters vindos de outros países, parte da sociedade se ressente por por “perder a cidade” para os “gringos”, como os estrangeiros que nos visitam são enquadrados… pejorativamente.

Nessa ótica, o italiano, finlandês, português, etc, chegam a ser vistos quase como maniacos sexuais. “Eles vêm aqui prostituir nossas mulheres”, natalenses não se cansam de repetir.

É uma discussão aparentemente crítica, que só esconde inclinações anti-cosmopolitas, que turva o medo do outro cultivado como uma neurose coletiva.

Os projetos políticos, sempre renovados em períodos eleitorais, que pedem “Natal para os natalenses”, ou o “resgate da cidade”, ou ainda o “turismo familiar”, numa clara oposição hierarquizadora contra os “gringos”, só reforçam a tentativa de retorno a uma tradição que não existe mais. O desejo de um espaço puro e livre do outro, que denuncia certa aversão alimentada contra o diferente. Uma valorização essencialista do local, arianismo natalense!?, que se assemelha ao preconceito perpetrado contra pobres, nordestinos, negros, homossexuais, etc. Algo que merece reflexão…

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

4 Responses

  1. Norton disse:

    É, Daniel, é um ponto de vista pra lá de verossímil. Embora eu ache que você tenha sido bem hiperbólico ao comparar um suposto “arianismo natalense” com o preconceito racial, de gênero ou classe, vem dois pontos: primeiro, talvez esse sentimento de aversão ao outro sirva para compreendermos, na pele, um pouco dos problemas de migração populacional que a Europa enfrenta (não que seja um sentimento bom, mas…). Segundo, esse sentimento aversivo que você colocou é uma reação natural de uma política pública totalmente desviada dos interesses do bem-estar social. É óbvio que dependemos do turismo, mas isso não significa termos que abrir os portões de casa para os convidados arrombarem nossa porta.

  2. Daniel Menezes disse:

    Norton,

    não pedi o arrombamento da nossa porta… critiquei justamente essa visão, que acredita que Natal tem porta e moradores… contra os “de fora”.
    Isto não implica defender hoteis na via costeira, etc. Logo eu que venho escrevendo quase que semanalmente contra mais hotéis naquela região.
    O que critico é o preconceito conta o estrangeiro, como se ele fosse ser lascivo, inferior, sem moral, sei lá…

  3. Junior disse:

    (In)felizmente, por incompetência de todos esses (des)governos do estado, o RN depende do capital estrangeiro para crescer economicamente, e politicamente até certo ponto. Eles trouxeram a tecnologia eólica, reativaram as minas (abandonadas até então) no interior e “colocaram” Natal no mapa do Brasil (Natal seria conhecida pelo quê, se não fosse o turismo?). Na verdade temos que agradecer aos “gringos” por tentarem tirar o nosso estado do século XIX e culpar nossos (des)governos estaduais por manterem nosso estado no subdesenvolvimento na tecnologia e na educação.

  4. Silva disse:

    Essa é nova… Que natal é uma cidade provinciana isso todo mundo sabe! Apesar de achar que alguns governos valorizem mais o turista do que o cidadão local ( um exemplo é a nova Roberto Freire de 12 faixas, um exagero comparando-se a outras vias da cidade), não sabia que exstia esse “xenofobismo´´

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