O brasileiro adora se colocar como o povo bonito por natureza, alegre, festeiro, receptivo, averso a contradições. Esta auto-imagem, além de esconder outros preconceitos, tente também a camuflar a xenofobia que nos atravessa. Em Natal, há um discurso compartilhado e direcionado contra o estrangeiro que pode muito bem se enquadrar nessa perspectiva.
O turista, alias, vive uma caracterização ambígua – ao mesmo tempo em que as ditas “autoridades” e membros da chamada “indústria limpa”, hoteleiros, pequenos comerciantes, donos de restaurante, etc, vibram com os vôos charters vindos de outros países, parte da sociedade se ressente por por “perder a cidade” para os “gringos”, como os estrangeiros que nos visitam são enquadrados… pejorativamente.
Nessa ótica, o italiano, finlandês, português, etc, chegam a ser vistos quase como maniacos sexuais. “Eles vêm aqui prostituir nossas mulheres”, natalenses não se cansam de repetir.
É uma discussão aparentemente crítica, que só esconde inclinações anti-cosmopolitas, que turva o medo do outro cultivado como uma neurose coletiva.
Os projetos políticos, sempre renovados em períodos eleitorais, que pedem “Natal para os natalenses”, ou o “resgate da cidade”, ou ainda o “turismo familiar”, numa clara oposição hierarquizadora contra os “gringos”, só reforçam a tentativa de retorno a uma tradição que não existe mais. O desejo de um espaço puro e livre do outro, que denuncia certa aversão alimentada contra o diferente. Uma valorização essencialista do local, arianismo natalense!?, que se assemelha ao preconceito perpetrado contra pobres, nordestinos, negros, homossexuais, etc. Algo que merece reflexão…
É, Daniel, é um ponto de vista pra lá de verossímil. Embora eu ache que você tenha sido bem hiperbólico ao comparar um suposto “arianismo natalense” com o preconceito racial, de gênero ou classe, vem dois pontos: primeiro, talvez esse sentimento de aversão ao outro sirva para compreendermos, na pele, um pouco dos problemas de migração populacional que a Europa enfrenta (não que seja um sentimento bom, mas…). Segundo, esse sentimento aversivo que você colocou é uma reação natural de uma política pública totalmente desviada dos interesses do bem-estar social. É óbvio que dependemos do turismo, mas isso não significa termos que abrir os portões de casa para os convidados arrombarem nossa porta.
Norton,
não pedi o arrombamento da nossa porta… critiquei justamente essa visão, que acredita que Natal tem porta e moradores… contra os “de fora”.
Isto não implica defender hoteis na via costeira, etc. Logo eu que venho escrevendo quase que semanalmente contra mais hotéis naquela região.
O que critico é o preconceito conta o estrangeiro, como se ele fosse ser lascivo, inferior, sem moral, sei lá…
(In)felizmente, por incompetência de todos esses (des)governos do estado, o RN depende do capital estrangeiro para crescer economicamente, e politicamente até certo ponto. Eles trouxeram a tecnologia eólica, reativaram as minas (abandonadas até então) no interior e “colocaram” Natal no mapa do Brasil (Natal seria conhecida pelo quê, se não fosse o turismo?). Na verdade temos que agradecer aos “gringos” por tentarem tirar o nosso estado do século XIX e culpar nossos (des)governos estaduais por manterem nosso estado no subdesenvolvimento na tecnologia e na educação.
Essa é nova… Que natal é uma cidade provinciana isso todo mundo sabe! Apesar de achar que alguns governos valorizem mais o turista do que o cidadão local ( um exemplo é a nova Roberto Freire de 12 faixas, um exagero comparando-se a outras vias da cidade), não sabia que exstia esse “xenofobismo´´