Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 12 de agosto de 2012

Natal quer ser empolgada, mas falta competência a(s) esquerda(s)

postado por Daniel Menezes

O texto “Eleição em Natal repete ‘dinastias’ familiares do Rio Grande do Norte”, publicado pelo site UOL e no nosso portal, empolgou o centro-esquerda do RN. Muitas curtidas e tuittadas pelas redes. Êxtase em torno de um tema que serve para ocultar outras questões não abordadas entre os vermelhos. O fato é que a esquerda também precisa se abrir para novas lideranças. Hoje, há pouco espaço. No máximo, candidaturas para o legislativo municipal.

Fico me perguntando sobre o estrago – positivo – que uma pessoa com o perfil de Linderberg Faria, senador carioca pelo PT, seria capaz de fazer na política do RN. Geraldo Forte, com uma cara nova, teve votação significativa para prefeito de Natal por um partideco. Imagine um rosto diferente, com carisma e projeto consistente?!

Natal e o RN querem gente nova, perspectivas diferentes do tradicional. O problema é que Rosalba, Micarla, etc, foram mais capazes de atender ao anseio social de mudança.

O cenário consolidado denuncia certa incapacidade da esquerda no RN de aumentar a base de diálogo e de fugir do seu “normal”. Fernando Mineiro e Fátima Bezerra são bons nomes, mas precisam abrir o PT. Não dá mais para se contentar com a ligação apenas com os seus tradicionais estratos políticos da sociedade – alguns sindicatos, movimento estudantil, UFRN, etc.

O vácuo poderia ser ocupado pelo PSOL. Porém, falta também visão política. O discurso “contra as oligarquias”, base das falas de Robério, candidato pelo PSOL-PSTU, cria uma barreira do postulante e dos seus partidos com a sociedade natalense. A ênfase nos diplomas – “eu sou doutor”, não cansa de dizer o professor da UFRN – descamba para uma visão hierarquizadora e consagra a política como o espaço dos “iniciados”. E o conservadorismo rouba a cena.

O militante de esquerda também parte de uma posição de superioridade ideológica, bastante compartilhada entre os filiados do PT, PSOL, PSTU, etc, que só gera resistência em relação aqueles que tem boa vontade cultural para com as bandeiras de esquerda. O paradoxal – ou não? – é que, em muitos momentos, a direita da cidade apresenta maior capacidade de ouvir e convencer do que a esquerda.

É fundamental deixar o discurso das oligarquias de lado, estabelecer amplo diálogo com a sociedade e não ter medo de ser de esquerda, como Mineiro, candidato pelo PT, demonstra no caso da Via Costeira.

Leio o panfleto do candidato a vereador Fernando Lucena e penso, a partir de suas propostas fortemente voltadas para a classe média tradicional da cidade, que se trata de uma candidatura do DEM e não do PT. Zero no quesito diálogo com o povo. Enquanto isso, Dickson Nasser não tem medo de entrar na casa das pessoas e ouvir, conversar, sem “querer ensinar as pessoas como elas devem viver”. Sem chamar os cidadãos de “conservadores”.

Natal quer ser empolgada e sair do marasmo que toma conta da política. Vide o curto período de re-democratização natalense. Sobra habilidade para o velho colonizar o novo e falta competência para a esquerda.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

4 Responses

  1. Alyson Freire disse:

    Excelente e corajosa análise, Daniel!

    A pouca competência das esquerdas em jogar, sem se curvar ou negar totalmente, com as regras do jogo é fruto de alguns vícios e pré-noções que persistem nas suas atitudes e discursos idealistas, isto é, com pouco senso de realismo das disputas e das expectativas das pessoas. Enquanto, localmente, não se convencerem disso e não se abrirem para uma visão de política mais realista e ampla, para além das visões de mundo daquelas camadas tradicionalmente apoiadoras, pouco se avançará rumo a uma aceitação social dos natalenses de um projeto politicamente alternativo. A política precisa de ideais e vontades, mas também de habilidades e competências.

  2. José Américo disse:

    Tem toda a razão, Daniel, um sujeito como Dickson Nasser faz isso perfeitamente durante a campanha, mas até porque tem estrutura para fazê-lo.

    Quem da esquerda pode se dedicar integralmente a uma campanha corpo a corpo, com os investimentos financeiros e de tempo necessários para tanto?

    É difícil, mas, de fato, é preciso dar passos nesses sentidos, nem que seja utilizando instrumentos virtuais (redes sociais, o “boca-a-boca”, e por aí vai).

  3. Daniel Menezes disse:

    José Américo,

    você tem razão. Mas se trata também de uma questão de postura.
    No panfleto de Lucena, ele diz que irá acabar com as taxas para concurso público, etc.

    Enquanto isso, os vereadores chegam nos bairros pobres e enfatizam que vão resolver o problema da saúde, principal anseio da grande massa da população.

    O PT se preocupa demais em quebrar o preconceito que sofre de um pequeno estrato da classe média e se esquece de dialogar com o povo, de falar sobre suas dificuldades e como resolvê-las.

  4. Caio Cesão disse:

    O problema é que quem é fiel a uma ideologia está sendo alvo de ilações por parte do Daniel Menezes. Nunca vi isso. Chega a ser até radicalismo. Está parecendo Hitler quando controlava todos os canais midiáticos para incriminar os judeus. Affffff…

    Daqui a pouco você vai estar apregoando que a problemática gravíssima das oligarquias do RN deve sair dos livros de história. É bem capaz de você também querer que não se estude mais história do RN. O tema das oligarquias no nosso estado é algo gravíssimo.

    Parece até que você não acompanha os índices sociais do estado, decorrentes das famílias que promoveram os fracasso social por aqui.

    É importante falar isso.

    Acho que sua prisão e restrição ao cerco acadêmico impede que enxergue a realidade. E isso é ruim. Há tantos bons projetos de extensão na UFRN, você nunca participou de um? Se não, deveria.

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