Rio Grande do Norte, domingo, 28 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 19 de novembro de 2012

Sites de vendas promocionais e a alienação do consumo

postado por Daniel Menezes

É preciso cultivar um ponto de vista menos ufanista e mais questionador em relação aos sites de vendas promocionais. Em que pese os preços atrativos e as facilidades oferecidas, tais espaços virtuais também são um meio de ampliar o apelo para o consumo, pois que representam um avanço das práticas de compra e venda. Uma colonização do “mundo da vida” por parte do mercado.

No capitalismo, os seres humanos satisfazem às suas necessidades a partir da aquisição de mercadorias, disse certa vez o pensador Karl Marx. Porém, a interação entre o homem e a mercadoria não se dá, necessariamente, de forma equilibrada. O “capital”, buscando sua reprodução, gera inúmeras estratégias no sentido de forjar “novas” necessidades, de fundar o desejo – neurótico, diriam os teóricos da Escola de Frankfurt – por mais consumo.

O acesso diário aos sites promocionais pode ajudar a institucionalizar este desejo, a produzir uma interação de maior avanço do mercado para áreas até então não localizadas por “ele” (falo em mercado como um conjunto de práticas e não como uma entidade dotada de vida própria). As promoções atrativas e apelatórias facilitam a compra alicerçada na ideia de que se está fazendo um bom negócio, criando, ao mesmo tempo, uma relação desmensurada com a aquisição de mercadorias. Como no filme “O clube da luta”, em que o personagem principal, antes de promover uma virada radical em sua vida, passava às noites, lendo catálogos e tentando “preencher” o seu vazio, comprando sofás e artigos para terminar a decoração de sua casa.

Há pessoas que entram nos sites promocionais diariamente. É como se todo dia o indivíduo criasse a rotina de andar por um shopping, para saber se tem algo vantajoso a ser adquirido. Meio “doentio”, não?!

Nas conversas mais banais os “imperdíveis” valores pagos por um produto/serviço estão lá se fazendo presente. Os momentos de fruição (uma conversa num bar, em casa, etc) são monopolizados por diálogos sobre: “você viu o preço daquilo no site tal”. E continua: “eu comprei só pelo preço. Não se perde. Um dia eu uso”. No final, ao invés de servir o indivíduo, o sujeito acaba servindo ao consumo e a pretensa noção de liberdade/comodidade se desmancha rapidamente no ar.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

3 Responses

  1. Daniel Menezes disse:

    Opa Lucas,

    eu não coloquei nada como regra universal. Veja que eu falo no primeiro parágrafo em “que pese os preços atrativos e as facilidades”… Este seria o lado positivo.
    Porém, me referi, no final das contas, a necessidade de manter uma relação reflexiva com o consumo de um modo geral, e com esses sites, em particular.
    Escrevi este texto alicerçado empiricamente nas conversas de familiares e amigos, todos clientes de sites de ofertas.
    Meus amigos entram, diariamente, nesses sites, para ver promoções. Às vezes, nos relatos, ouço que compram coisas pura e simplesmente pelas promoções e não por uma suposta necessidade.
    Já ouvi dois relatos de pessoas que compravam coisas e depois perdiam porque o prazo de utilização do produto adquirido se expirava.
    São esses aspectos negativos, que procurei analisar.
    Acho que é um impulso a mais para se consumir. É preciso manter uma boa interação com tais espaços. Do contrário, o homem acaba servindo a coisa.

  2. Leon K. Nunes disse:

    E a proposta de solução?

  3. Daniel Menezes disse:

    Caro Leon,

    queria ter uma, rs.

    PS. Só não pode ser a do clube da luta, rs. A resposta que o filme apresenta, se vocÊ analisar bem, é um pouco fascista. A solução seria a da violência, ou seja, permitir a livre expansão “dos instintos humanos”. Bem, como já falei em outros momentos, violência como estratégia política é fascismo.
    abs.

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