Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 21 de junho de 2013

#RevoltadoBusão, preconceito e apartidarismo: uma lição dessa “porra toda”

postado por Daniel Menezes

Desde o início discordei das teses espontaneístas-autonomistas do movimento, mas como foi tirado em plenária, respeitei.

images (3)O movimento tentou – e conseguiu – negar todas às instituições partidárias e não partidárias, que quiseram ajudar e que se identificavam com a Revolta do Busão. Rejeitou bandeiras. Acharam que bastava a presença, que resolveria.

Mais complicado ainda, além de não afirmarem instituições, não trataram de construir uma.

Sem anteparo institucional – como em São Paulo e seu MPL, por exemplo -, viraram presas fáceis. Nem uma comissão formada o pessoal tinha para dar entrevistas, espalhar mais fortemente a nossa real opinião, firmar posição política, etc.

Uma paranoia sobre instrumentalização atravessou a cabeça do pessoal. Esqueceram de perceber que as plenárias, através do voto, fariam o controle social, impedindo qualquer partido de, individualmente, se apropriar dos protestos (penso que eles não tinham nem essa intenção).

Resultado: a revolta do busão foi sim instrumentalizada, mas pelo discurso mais atrasado de Natal. Hoje, leio “ativistas” (jeito limpinho de não falar “militante”), pedindo o retorno dos generais e alegando que protestos sinalizam isso.

E o vandalismo? Colaram na gente e não em quem, de fato, o incentivou desde o começo.

As figuras das agremiações mais reacionárias do Estado usam o movimento para atacar o inimigo deles – um partido de esquerda, que se este último não tivesse chegado ao poder, talvez boa parte dos estudantes da Revolta do Busão não estivessem nem na universidade, mas em algum subemprego sem direitos.

Fica uma lição: não adianta querer negar a política sob a ingênua concepção de que todo mundo vai ser bonzinho com você e reproduzir, literalmente, tudo o que você está tentando dizer nas ruas. Os agentes sociais tomam parte e constroem máquinas de guerra, conforme Deleuze (ou máquinas políticas, na acepção de Weber), para fortalecer seus ideais e ganhar mentes alheias.

A sociedade é entrecortada por diferentes classes e instituições, que tem seus interesses objetivos e antagônicos, muitas vezes, com a busca por conquistas sociais.

Negar as instituições abre espaço para que, no primeiro momento e sem o nosso controle – como aconteceu -, um protesto seja reapropriado e apresentado com um sentido que não o que a gente queria, sonhava.

O irônico disso tudo – os militantes, que apoiaram desde o início, apanharam de quem agora se diz acordado, mas antes endossou a repressão policial. O DEM deu entrevista saudando os protestos. Enquanto isso, partidos de esquerda figuraram para toda a cidade como expulsos daquilo que seus membros também ajudaram a construir. Nossa pauta foi engolida e em seu lugar surgiram meninos com bandeiras do Brasil, caras pintadas e cartazes ditatoriais.

Aprendamos com essa porra toda (frase retirada de um cartaz de uma manifestante)!!!!

PS. autonomismo não é negar sindicatos, partidos, entidades, etc, até porque, na prática, você perde o controle sobre elas e fica a mercê de qualquer coisa. Mas sim o modo como você constrói uma instituição. Partidos, sindicatos, movimentos sociais, entidades estudantis, enfim, todas as forças alinhadas com a Revolta do Busão devem ser chamadas para dar sua contribuição. A plenária faz o controle social e não deixa que ninguém, individualmente, direcione ações. Ou será desse jeito, ou da próxima vez, os estudantes irão apanhar novamente, para a classe média reacionária da cidade entrar na avenida e brincar de Carnatal.

PS.2. Não nos rendamos ao moralismo de direita, que prega uma coisa que não cumpre. Criminaliza a política, mas não deixa de utilizar todas as suas forças para atingir seus interesses elitistas. Política não é só “sacanagem”, mas também realização. Fora dela, só a violência. Vamos vomitar o opressor que está dentro da gente.

PS.3 Dilma disse que receberá lideranças para o diálogo. Ah, vocês são contra isso e vão perder mais essa oportunidade.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

4 Responses

  1. Lucas disse:

    Apenas algumas considerações a respeito disso tudo.

    Primeiro em que dicionario democracia e partidos sao sinonimos Daniel. A questão de partidos e não partidos é bem mais ampla, a questão refere-se a se queremos uma democracia participativa ao melhor estilo proposta pelas plenarias da revolta do busão, ou uma mera democracia representativa, essa sim constituida de partidos, burocratizada direcionada por meia duzia de iluminados que controlam os partidos e acham que podem fazer o que bem entendem? Demonizar quem luta por uma democracia participativa, direta, sem intermediarios é facismo de sua parte e bastante pré-conceituoso. O mundo viveu a democracia representativa nos ultimos 500 anos e onde chegamos com esse modelo? em crises, em desgaste. Chega, é isso que o povo cansou, nao so no Brasil mas pelo que tenho visto no mundo, queremos um novo modelo, e porque nao testar uma democracia participativa, qual o crime nisso, voce que tanto fala dos que defende o status quo em natal, agora nada mais faz do que justamente isso, defender que a politica, que os rumos de um povo continue sendo direcionado por meia duzia de iluminados, isso sim é defender com unhas e dentes um status quo que não atende aos anseios da grande maioria da população.

    Segundo, sobre participação de organizações nas manifestações. O que o PT estava fazendo nas manifestações, defendendo o fora Dilma? criticando a inflação? estavam putos com a corrupção no governo? ou talvez criticando os gastos do governo federal na copa? Ah fala serio ne Daniel, foi essa incongruencia que as pessoas criticaram. Depois como disse, as pessoas querem outro modelo de democracia, sem instituiçoes, por isso nada delas estarem presentes, a manifestação é contra todas elas, e mais, para ser a favor das manifestações basta ir la, gritar, quem leva brandeira faz proselitismo, tenta faturar com o que nao os pertence, passar a imagem de que foi o partido A ou B que conseguiu mobilizar todas aquelas pessoas algo que não é verdade portanto tem que ser expulso mesmo. Ja ouviu aquele ditado quem faz de coração não precisa anunciar, os partidos que precisam anunciar que apoiam o movimento com bandeiras, nao o fazem por convicção e sim por oportunismo, ta ai voce mesmo criticando o Dem por ter declarado apoio ao movimento, ue mas se voce considera normal o pt ir ao movimento com bandeiras, porque é oportunismo a declaração do Dem? no minimo contraditorio.

    Terceiro, voce ainda esta achando que o protesto é feito de gente inocente que vai ser manipulada a votar no psdb em 2014. Esse pensamento é de uma inocencia inacreditável, sim o pt é alvo, mas nao se engane o pt é alvo pra ser jogado no mesmo balaio que o psdb, dem e pmdb como partidos que hoje mais se parecem com quadrilhas do que partidos que entenderam as manifestações e querem ser parte da solução, ja disse e repito, o pt precisa ser derrotado, se for pra continuar nesse tipo de democracia representativa que nao seja com pt como alternativa da esquerda porque isso eles ja nao sao a muito tempo.

    • Alessandra disse:

      Não se iluda, caro Lucas:

      “Depois como disse, as pessoas querem outro modelo de democracia, sem instituiçoes.”

      Não existe outro modelo de democracia no Capitalismo, pois este pressupõe um Estado Institucionalizado (que é burocrático e funciona por meio de instituições).
      Portanto, a única forma de participação popular em um Estado Democrático Capitalista é por meio de partido político, do contrário, a própria história nos mostra que fatalmente teremos uma Ditadura, quando em vez de meia dúzia de iluminados, como você diz, somente um iluminado decide, pois isto é um governo de partido único. Partido sim, pois não tem como negar o que sempre vai existir neste modelo sócio-político, no qual só podemos escolher se será um, ou mais partidos políticos, se teremos uma Ditadura ou uma Democracia Liberal.
      Aliás, as pessoas estão percebendo esse limite participativo, porém há quem se aproveite para dar soluções ilusórias e ser visto como heróis da pátria, para se promover nesta crise, como é o caso desses candidatos que se dizem apartidários.
      Se quer outro tipo de democracia, deveria sair às ruas para pedir mudanças, transformação e não apenas reformas, deveria pedir o fim do Capitalismo e suas instituições e não se iludir esperando um salvador da pátria.
      Agora se quer um mínimo de respeito com os Direitos Sociais, deveria defender a única forma de efetiva participação popular dentro de um modelo sócio-político capitalista (que repito tem uma democracia limitada), que é através de partido político.
      E foram sim os partidos de esquerda que garantiram um mínimo de respeito a esses direitos sociais, pois se a galera do facebook decidiu acordar agora, os movimentos sociais de esquerda já estão nas ruas há muito tempo, e, se não fossem eles, inclusive, não poderíamos estar agora conversando publicamente sobre política em um site (já imaginou o facebook sem liberdade de expressão?!).

  2. Daniel Menezes disse:

    Lucas,

    muita gente morreu pelo direito à livre opinião e associação política. Se não fosse isso, uma simples plenária, ainda hoje, seria considerado crime.
    Não fiz aí em cima – acho que você não leu o texto – nenhuma defesa da democracia representativa. Falei foi que não existe vácuo na política. Além de terem impedido que partidos de esquerda empunhassem suas bandeiras (o que não tem nada a ver em querer mandar nos protestos ou ser contrário a democracia participativa), recusaram o apoio das entidades, que fortaleceriam o movimento e impediria, pela identidade a ser formada, que ele fosse capturado pela direita, como aconteceu, caro.
    Em todos os dois textos anteriores, eu afirmei o controle social via plenária, com todo mundo tendo direito a um voto. Está mais claro do que o sol.
    Os partidos de esquerda ajudaram a construir pautas de inclusão social. Eles se identificaram desde o início com a revolta do busão. Ninguém queria controlar ou instrumentalizar nada.
    Agora, os partidos de direita e seus jornalões, para esvaziar as causas de esquerda ali presentes, falaram que o movimento deveria ser sem partido.
    Partidos de esquerda precisam se relacionar com o povo. Daí terem vindo oferecer apoio, logo recusado.
    Partidos de direita podem comprar eleições. Não precisam de conversar com movimentos sociais. Daí o interesse deles em distanciar os partidos de esquerda do povo e se manterem no poder.
    Resultado: Rosalba Ciarlini, hoje, elogia manifestação sem partidos e sindicatos. No mesmo jornal, você lerá que Dario Barbosa (por esse discurso que você levanta aí) levou uma garrafada na cara e amanda gurgel foi expulsa da manifestação.
    Amanda Gurgel, que não foi oportunista e mostrou solidariedade desde o início, foi expulsa. Rosalba Ciarlini, que mandou a polícia bater nos manifestantes na primeira revolta do busão, aparece de democrática.
    Partidos foram proibidos nas ditaduras, caro.
    O preconceito de vocês, irresponsável, que coloca no mesmo saco todos os partidos, cria esse tipo de truculência, pois que iguala o pessoal da esquerda com o da direita.
    A direita, que prega a não política, pois sabe que o único meio de transformação social se dá por ela, não pensa duas vezes em utilizar todo o aparato possível, para conseguir seus pleitos. Enquanto isso, a gente fica a mercê de um moralismo das elites, que as elites não cumprem.
    Repito, movimentos sociais não se rendem a partidos. Não é assim que funciona. Eles devem ter autonomia, através de plenária, para votar suas ações. Mas os partidos que se identificam com as causas e querem ajudar devem ser bem tratados.
    Quanto ao Brasil “cansou”. Isso é expressão de direita, atentando contra um governo legítimo, que ganhou nas urnas. Você acha que a Globo quer saúde, educação e transporte de qualidade para todos, ou minar a Dilma até que ela perca para o Aécio e o PSDB, que promoveu o maior repasse financeiro para a imprensa na história do Brasil, retorne?!
    Sim, Mussolini e Hitler também eram contrários a partidos.

    • Alessandra disse:

      Não se iluda, caro Lucas:

      “Depois como disse, as pessoas querem outro modelo de democracia, sem instituiçoes.”

      Não existe outro modelo de democracia no Capitalismo, pois este pressupõe um Estado Institucionalizado (que é burocrático e funciona por meio de instituições).

      Portanto, a única forma de participação popular em um Estado Democrático Capitalista é por meio de partido político, do contrário, a própria história nos mostra que fatalmente teremos uma Ditadura, quando em vez de meia dúzia de iluminados, como você diz, somente um iluminado decide, pois isto é um governo de partido único. Partido sim, pois não tem como negar o que sempre vai existir neste modelo sócio-político, no qual só podemos escolher se será um, ou mais partidos políticos, se teremos uma Ditadura ou uma Democracia Liberal.

      Aliás, as pessoas estão percebendo esse limite participativo, porém há quem se aproveite para dar soluções ilusórias e ser visto como heróis da pátria, para se promover nesta crise, como é o caso desses candidatos que se dizem apartidários.

      Se quer outro tipo de democracia, deveria sair às ruas para pedir mudanças, transformação e não apenas reformas, deveria pedir o fim do Capitalismo e suas instituições e não se iludir esperando um salvador da pátria.

      Agora se quer um mínimo de respeito com os Direitos Sociais, deveria defender a única forma de efetiva participação popular dentro de um modelo sócio-político capitalista (que repito tem uma democracia limitada), que é através de partido político.

      E foram sim os partidos de esquerda que garantiram um mínimo de respeito a esses direitos sociais, pois se a galera do facebook decidiu acordar agora, os movimentos sociais de esquerda já estão nas ruas há muito tempo, e, se não fossem eles, inclusive, não poderíamos estar agora conversando publicamente sobre política em um site (já imaginou o facebook sem liberdade de expressão?!).

Política

#RevoltadoBusão é o movimento que defendo. O fascismo-golpista, não!

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#RevoltadoBusão: Rosalba Ciarlini elogia manifestação por não ter sindicatos e partidos