Rio Grande do Norte, sexta-feira, 17 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 23 de agosto de 2013

Sobre autoritários (pseudo) progressistas e a pequena política de ocupação da casa da governadora

postado por Daniel Menezes

DADOS NORMATIVOS

Impressiona o nível de agressividade com que atuam alguns, que deveriam agir de modo diverso dos assassinatos de reputação no estilo Revista Veja. Incapazes de argumentar, mas preocupados em desqualificar, a inserção pública de radicais – não no sentido marxiano de ir à raiz – se assemelha a atuação de tudo o que uma esquerda que se diz democrática deveria negar. Mas, em alguns ambientes até ditos “progressistas”, o lema é: não proporcione o contraditório. Apenas difame. Se há um aspecto que Noberto Bobbio, em seu livro “Esquerda Direita”, tinha razão era o de que a extrema esquerda e a extrema direita encontram ponto de convergência no autoritarismo e desprezo por qualquer perspectiva pluralista.

O meu texto “Autoritarismos (pseudo) progressistas (aqui: http://bitly.com/185Vpgv ) ” causou descontentamento entre os mais radicais, o que significa dizer que um dos objetivos do opúsculo foi efetivado. Escrever apenas para agradar e se calar quando discorda “dos seus” não é nada salutar, se a intenção é debater na esfera pública. Não há sentido em gastar os dedos, a pestana e perder horas diariamente em jornais, revistas e livros só para “fazer média com a galera”. Respeito quem assim atua – e há muitos, tanto à esquerda como à direita –, no entanto, não é a minha praia.

Mas não há como endossar quem diverge e, ao invés de contrabalançar argumentos, exercita a mera intimidação simbólica. Incapazes de contrapor o meu texto, pessoas pouco afeitas à discussão democrática trataram rapidamente de dizer: ele só critica a ocupação da casa da governadora porque quer dinheiro. Ou: porque é contra os trabalhadores e a greve. A estratégia é velha: na falta de boas razões, desqualifique a fonte.

Quem acompanha minhas inserções sabe: apoiei a greve desde o início, inclusive, desmontando as teses levantadas pela secretária de educação e o ministério público, quando estes se uniram para atacar o SINTE.

MP criminaliza o Sinte-RN e livra verdadeiro responsável pela educação no Estado

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A greve dos professores é política, sim: por uma política de valorização da educação no RN

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Eu tenho lado e faço sempre questão de explicitá-lo. Também sempre apresento o modo como encaro a disputa política. Honestidade intelectual, sem pseudo-imparcialidades, faz bem. E, para mim, não faz sentido agir sem respeitar critérios mínimos de combate. Se não acho legal atuar com assassinatos de reputação, não vou empregar a mesma perspectiva. Se acredito que a disputa é no âmbito público, não vou partir para o ataque à residência da pessoa. Esta postura é a de quem enxerga as regras de convivência democrática, apenas, como uma “invenção burguesa”. E a história já mostrou o que este pensamento foi capaz de produzir. É uma questão de princípio, um dado normativo.

CENÁRIO (POUCO) ESTRATÉGICO

E no âmbito eminentemente estratégico. O que os ocupantes da rua da casa da governadora ganham? Ora, se o objetivo é chamar atenção para a pauta de reivindicações o resultado é inócuo.

Primeiro, ao ocupar a frente da casa de Rosalba, o que se transmite para a sociedade é: se trata de radicais. Esta é a opinião que se forma entre os cidadãos médios. Claro, há outros radicais extremistas que vão apoiar, mas tal ponto de vista, nem de longe, reflete o da maioria. E “ganhar uma greve”, hoje, implica convencer a opinião pública, para que o governo se sinta, de fato, pressionado a alterar suas, digamos, percepções.

Segundo, a agenda levantada é rapidamente invisibilizada pela queda de braço na frente da casa da governadora. Prova é que a imprensa do RN destaca a “ocupação da casa da governadora” e não a diminuição de investimentos estatais nas áreas sociais fundamentais nos últimos anos (como não cansamos de denunciar aqui). O que se precisa mostrar é a realidade dos hospitais, das delegacias, das salas de aula, atacar o modelo de gestão do RN e não ficar na pequena política na frente da residência da governadora.

Terceiro, retira Rosalba Ciarlini das cordas e a coloca na posição de “intimidada fisicamente”. Alias, ela não perdeu tempo. Tratou de espalhar nota, através de sua potente e azeitada secretaria de comunicação, para todos os recantos do RN.
Enfim, a disputa já é desigual, mas alguns grevistas tratam de dificultar ainda mais. De, no fim das contas, só expelir ressentimento e munir o oponente de mais armas, ao invés de agir com o espírito de que é preciso atingir resultados concretos para as categorias.

RAZÕES PARA O EXTREMISMO INÓCUO DA PEQUENA POLÍTICA

Mas há uma razão para a estratégia de ocupação da governadora, que, como disse, passa longe de potencializar a agenda pleiteada pelos grevistas. Há uma disputa interna entre o SindSaúde, através do Comlutas, que tenta se mostrar “mais de luta” do que o Sinte e os demais sindicatos.

Ao invés de procurar convencer a sociedade de que a pauta é legítima e de que o governo tratou os setores da saúde, educação e segurança com descaso, o que rouba à cena é a procura de mostrar “desempenho”, para ganhar os demais filiados de outras organizações sindicais. Como se quisessem dizer assim: olha, só nós ocupamos a casa da governadora, somos mais aguerridos. E os demais? Ah… são uns moles. É esta tentativa de se diferenciar como mais “justiceiros” – Batmans da esquerda –, que move a completa falta de moderação. A moderação que é fundamental para atingir resultados verdadeiramente radicais, ou seja, chegar à raiz do problema.

Enquanto isso, o SINTE, ao invés de afirmar sua maior capacidade de dialogar com a sociedade, foi completamente levado a reboque, temendo (erradamente) a pecha de “pelego”. Perdem, com isso, o próprio movimento grevista e o RN, que podem ficar sem as imprescindíveis melhorias nos setores essenciais de serviço à população. As paralisações são válidas, mas a ocupação da casa da governadora é uma furada, um tiro no pé.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

One Response

  1. Marcos Antonio disse:

    Daniel, bom texto e argumentos, mas de pensamento equivocado. Quem é da linha de frente da luta sindical e movimento socical sabe que com determinandos governos, a força apenas da simples paralização não resolve. Veja o caso dos permissionarios dos alternativos, foram 18 oficios aos órgãos e secretarias, avançou apenas com a ocupação da prefeitura. O Governo Rosalba, já deu provas que gosta da politica paroquial e pequena.

    Não respeita os sindicatos, é intransigente ao dialogo, nem sequer recebe comissão dos trabalhadores e não honra compromissos assinados. A estrategia de ocupar a frente da casa da governadora é acertada e muito receptiva até pelos vizinhos. Acredito, que se houver avanços talvez haja a necessidade de ser mais incisivo.

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