Rio Grande do Norte, segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 17 de junho de 2014

A Pressão da Violência na Capital do Oeste (Parte 2 de 2)

postado por Ivenio Hermes

O Curso Inexorável da Explosão em Mossoró

Por Ivenio Hermes e Cezar Alves

Grande número de eventos criminosos estão ocorrendo de forma contumaz em Mossoró, a Capital do Oeste dá mostras em grande escala do declínio da paz. Como em outros locais, mas de forma agudizada pela falta de efetividade das ações de segurança pública nos últimos anos, a cadeia de serviços de segurança em Mossoró está esfacelada!

O Recorte Geral

15JUN2014 CAP OESTE GERAL

Nenhuma das zonas administrativas nas quais Mossoró está dividida escapa ilesa dos índices de crimes contra vida e nem o corredor cultural na Zona Central, fica isento, embora o número de ocorrências ali tenha sido menor, o que se deve pressupor que seja devido à maciça presença da Guarda Civil de Mossoró, haja vista que a Polícia Militar não consegue nem atender às ocorrências de outras partes devido ao número reduzido nesse local. Foram apenas 5 homicídios no local, sendo 3 cometidos contra menores de 29 anos de idade.

As Zonas Leste e Oeste se equivalem nesses números de crimes, 14 homicídios em cada uma delas, sendo o diferencial nas vítimas menores de 29 anos de idade.

As Zonas Norte e Sul possuem um índice de violência homicida maior, 24 e 22 respectivamente, quanto ao número de vítimas na população jovem, que foram 15 e 14, respectivamente. Ficando a Zona Rural, formada por diversas comunidades, com o índice de 10 homicídios sendo 6 de jovens menores de 29 anos.

Nessa onda tão constante de crimes, cujo intervalo entre ocorrências é curto demais para que haja uma sensação de paz, o crime contra os menores de 21 e 29 anos de idade, possuem em sua maioria a pecha do envolvimento selando e justificando a ausência do Estado.

A Juventude

15JUN2014 CAP OESTE JOVENS E PERCIndependentemente, jovens sem a menor ligação com tráfico, crime organizado, guerras de gangues ou desavenças outras, como as geradas por grupos de torcedores extremistas e desavenças passionais, estão entre os escolhidos pela foice certeira dos emissários da morte matada.

Da Zona Central, com menor incidência, as linhas de tendência nessa violência homicida crescem à medida que se afastam do corredor cultural, onde há concentração policiamento ostensivo, com Guardas Civis e Policiais Militares atuando nessa área que possui a maior concentração de pessoas durante o dia e baixa durante a noite, a não ser em ocasiões festivas como as festas juninas.

Todas a zonas estão com percentagem superior a 60% de vítimas jovens em relação às vítimas adultas, contudo, embora haja uma relativa semelhança na violência geral entre as Zonas Norte e Sul, esta última tem o percentual de vítimas jovens elevado acima de 85%.

A violência homicida em Mossoró é apenas contida, pois operações de visibilidade dão aos criminosos a área para onde direcionarão suas ações. O pequeno efetivo da Polícia Militar se exaure em ações pontuais, o mesmo acontece com a Delegacia de Homicídios da Polícia Civil, que apenas logra êxito em algumas investigações face à sua demanda em relação ao reduzidíssimo efetivo. Ambas as polícias estaduais possuem representações muito abaixo do necessário para deter a impunidade que se alastra no imenso território da segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.

Somente no último fim de semana foram 5 assassinatos e duas tentativas, aliás, nessa modalidade de crimes contra a vida, Mossoró é a campeã estadual, com 128 ocorrências, sendo seguida por Macaíba com menos da metade.

A Panela de Pressão

Durante a 18ª edição do Mossoró Cidade Junina, evento considerado um dos maiores do país, que iniciou no dia 07 e acontecerá até 29 de junho, há uma perspectiva de participação de 1,5 milhão de pessoas, demandando mais recursos de policiamento ostensivo. A solução encontrada pelo Secretário Estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Eliéser Monteiro, foi deslocar grupos de policiais especializados de outras cidades, aproveitando o reforço de policiamento que Natal recebe em virtude da Copa do Mundo.

Provavelmente haverá redução de cometimento de ilícitos típicos desses eventos, como furtos, badernas ocasionadas pelo consumo excessivo de álcool, consumo e tráfico de drogas, vandalismos e outros, mas quanto à diminuição da violência homicida, só no final do evento haverão elementos necessários para mensurar a eficácia da iniciativa do Secretário de Segurança.

No mais, todas as ações policiais que não recebem continuidade por não possuírem um plantel de agentes encarregados de aplicar a lei em número, pelo menos próximo ao necessário, são apenas paliativos que mantém o ímpeto para a violência homicida que fica somente contida.

A segurança pública no Rio Grande do Norte, evidenciando Mossoró, a Capital do Oeste, é como numa panela de pressão onde as leis e a justiça são a panela que mantém o crime contido, porém, o crime está acima da capacidade da desgastada borracha de isolamento, da surrada válvula de pressão e a fragilizada válvula de emergência, que é a polícia.

O mecanismo é simples, a solução nem tanto, resta saber se a complexidade da equação poderá ser resolvida utilizando os recursos atuais, que já se mostram ineficazes há muito tempo.

_______________

SOBRE OS AUTORES:

Ivenio Hermes é escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves, ativista de direitos humanos e sociais e pesquisador nas áreas de Criminologia, Violência Homicida, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial.

Cezar Alves é jornalista graduado em Comunicação Social, tendo atuado como fotojornalista e editor da página policial no Jornal Gazeta do Oeste, atualmente colabora com a edição do Caderno de Estado do Jornal de Fato e da Coluna Retratos do Oeste, é militante na busca por soluções sociais, com ênfase na segurança pública.

_______________

DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:

É autorizada a reprodução do texto e das informações em todo ou em parte desde que respeitado o devido crédito ao(s) autor(es).

HERMES, Ivenio. A Pressão da Violência na Capital do Oeste A Pressão da Violência na Capital do Oeste (Parte 2 de 2): O Curso Inexorável da Explosão em Mossoró. Disponível em: < http://j.mp/1lC7RPK >. Publicado em: 16 jun. 2014.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

Comments are closed.

Segurança Pública

A Pressão da Violência na Capital do Oeste (Parte 1 de 2)

Segurança Pública

A Violência Homicida Continuada em Natal