Rio Grande do Norte, domingo, 28 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 7 de fevereiro de 2012

José Agripino esconde Micarla, que também foi esquecida por Rosalba Ciarlini. Mas os três sempre estiveram juntos

postado por Daniel Menezes

Micarla de Sousa teve ascensão meteórica na política. Diria até, parafraseando o bom filósofo, que foi como um trovão em um dia de céu azul. Em 2004 se tornou vice-prefeita, 2006 deputada estadual e 2008 chegou ao palácio Felipe Camarão.

A rápida projeção se devia, principalmente, a um programa que mantinha diariamente em sua emissora de Tv, filiada do SBT no RN. No programa, que passava por volta do meio dia, momento de maior audiência da Tv Ponta Negra, criticava políticos e se mostrava habilitada para desempenhar uma gestão eficiente, mas com sua sensibilidade de mulher e apresentadora do povo.

Ajudada pelas trapalhadas do PT, que conduziu estratégia para ser esquecida, Micarla de Sousa ganha ainda no primeiro turno da deputada federal Fátima Bezerra. A prefeita eleita explorou, sobretudo, o seu suposto papel de mãe sensível e de empresária de sucesso. Com ela, sua propaganda dizia, “Natal pode muito mais”.

A história, no entanto, apresenta outros ingredientes. A trajetória verde esconde algo que para o natalense hoje é fundamental: se não fosse o apoio de José Agripino, Micarla não teria ganho aquelas eleições.

Ora, foi José Agripino o principal entusiasta da candidatura da borboleta. O DEMOCRATA trouxe toda a “estrutura” necessária para sua vitória. Outros caciques também contribuíram decisivamente: João Maia, Robinson Faria e Rosalba Ciarlini também estiveram na linha de frente de sua campanha.

Micarla de Sousa, ainda que inexperiente politicamente, sabia, no entanto, quem sem apoio de peso, seu carisma não daria nem para o começo. Ainda que a gente viva tempos de “político celebridade”, simpatia não vence uma campanha e Micarla, como ficou mais claro do que o sol na frente da prefeitura, não possuía cabeça de político.

José Agripino e adjacências planejaram toda a campanha de Micarla: arrecadação de campanha (teve até um carecão presente, distribuindo o pão, o que muita gente hoje quer esquecer… numa estratégia do “se fazer de doido”, como a gente costuma falar por essas bandas), tempo de tv, recursos partidários, gente qualificada para as atividades eleitorais, etc. Até as ruas que Micarla visitiva eram marcadas pela equipe do DEMOCRATAS. Não há nem uma novidade no que relato.

Com uma pauta moralista (eu sou mãe, casada e tenho dois filhos, dizia a atual prefeita em um tom claramente populista e tentando chamar os eleitores “à realidade”), o resultado, como disse, foi apoteótico.

A expectativa gerada batia no céu de tão grande. Rosalba Ciarlini, então senadora, fez caminhadas e pediu voto para ela. Já via na borboleta uma possível aliada para o seu projeto de se tornar governadora do estado em 2010, o que, da parte de Micarla de Sousa, foi cumprido.

A prefeita, durante as eleições de 2010, cedeu secretários e o pessoal de sua equipe para que a governadora pudesse se eleger. Como esquecer da reunião, que segundo notícias da época, reuniu mais de oito mil comissionados em que a prefeita pedia voto para o seu marido Miguel Weber, sua irmã Rosy e sua parceira Rosalba Ciarlini?

Micarla de Sousa, apesar de não ter aparecido na eleição rosada, deu forte apoio a “Rosa”, como chama o jornalismo bajulatório, e contribuiu para a sua vitória. A promessa era de que Rosalba iria retribuir com fortes parcerias administrativas e até, possivelmente, com a continuidade do alinhamento político. Micarla, já pensando em sua reeleição e não aceitando as investidas de Iberê, selou o acordo.

Depois do resultado e com avaliação negativa acachapante, Rosalba Ciarlini começou o processo de escanteamento de Micarla de Sousa. Além de não efetivar as sonhadas parcerias administrativas com o município de Natal, conforme Micarla de Sousa sonhou, fez de desentendida com a borboleta.

A amnésia de última hora cultivada por Rosalba Ciarlini se estendeu por todo o seu partido. José Agripino, após ter comandado a secretaria de planejamento, através do seu indicado Augusto Viveiros, fez que a condição de penúria administrativa e política da prefeitura do Natal não era com ele.

O esquecimento foi tão significativo, que hoje, José Agripino e Rosalba Ciarlini, em que pese terem ajudado a eleger a atual prefeita, fazem pesadas críticas a ela e agem como se fossem oposição a borboleta desde pequenininhos.

Esqueceram do apoio financeiro, logístico e de inteligência dado ao partido verde em 2008. Não se lembram mais das muitas indicações que fizeram nos dois primeiros anos de governo de Micarla e se fizeram “de doidos” (desculpe pela repetição, mas adoro esta expressão) no que concerne o papel fundamental que os partidários da prefeita, com a máquina na mão, tiveram na vitória da ex prefeita de Mossoró em 2010.

Sem dúvida alguma que Micarla de Sousa faz uma péssima administração. Isto não é segredo para ninguém. Basta andar pelas ruas da cidade para sentir o drama.

No entanto, tenho pena da prefeita, às vezes. Pena? Sim! Pena! Por ver que ela acreditou nas “análises” de uma dúzia de babões, que viam na borboleta uma nova liderança política do RN, que poderia romper com José Agripino, sua cabeça e seus braços, e continuar a administrar tranquilamente dentro de uma condição de total vácuo político.

José Agripino, por sua vez, só rompeu com a prefeita porque se viu contrariado em seus interesses. O fim da relação política com Micarla de Sousa não teve nada a ver com uma avaliação da situação da cidade. Se sentiu contrariado porque Micarla de Sousa, sua cria – “filha”, como certa vez ele a adjetivou -, lhe tirou a chave do cofre da prefeitura, após dois anos de gestão.

Foi somente neste momento que ele acenou com a separação de seu partido com o partido da prefeita. A desculpa do apoio de Micarla a Dilma Rousseff na campanha presidencial foi mero engodo, ou será que ele irá romper também com a governadora Rosalba Ciarlini, que vendo a falta de recursos, implora por uma aproximação com o governo federal?!

Escrevo tudo isso para dizer uma coisa: o natalense não pode se esquecer. José Agripino e seu partido, o DEMOCRATAS, atuaram fortemente para que a prefeita se elegesse. O cenário criado pela administração Micarla de Sousa também teve e continuou, durante muito tempo, a ter o dedo do “Zé”.

É fundamental também lembrar que Rosalba Ciarlini renegou José Serra durante a campanha, apesar de fazer parte de sua base política durante as eleições presidenciais de 2010, assim como faz agora com Micarla de Sousa, a quem sempre deu apoio e recebeu os dividendos políticos durante a campanha de 2010 por parte da borboleta.

Portanto, votar no projeto político de José Agripino / Rosalba Ciarlini em 2012 é o mesmo que, mais uma vez, se render ás condições que fizeram Micarla de Sousa prefeita e apoiar uma administração que amarga 90% de reprovação popular.

Mais um lembrete: as boas administrações públicas de Natal nos últimos 25 anos sempre tiveram um pé nas idéias progressistas capitaneadas pelo bloco de centro esquerda. E isto, meus caros, não é mera coincidência.

PS: Foto retirada do portal nominuto..

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

7 Responses

  1. Giovanicarvalho disse:

    Discordo categoricamente da análise feita pelo sociólogo Daniel Menezes quando afirma que os Democratas tem culpa na atual situação que se encontra a administração Micarla de Souza. Para tanto gostaria de contra argumentar esta análise com algumas teses, que faço questão de dizer que são minhas, e de mais ninguém. A primeira, e principal delas trata sobre o período eleitoral e as escolhas políticas. O eleitor, assim como as lideranças políticas acreditaram no projeto político da candidata Micarla, especialmente nos discursos que apontavam para uma gestão voltada para resultados e o desenvolvimento de políticas públicas inclusivas. Todos aqueles que participaram da eleição poderam observar que as liderança políticas de vários partidos e o povo se mostrou favorável aquele discurso, tanto isto foi verdade que ela ganhou no primeiro turno. A segunda tese da nossa análise avalia as decisões administrativas da prefeita eleita no decorre do mandato. Você pode se eleger com vários apoios, mas quem governa e decide os rumos do governo é o político eleito. Basta observar o desenvolvimento do mandato de Micarla e verificar que o troca-troca de secretários causou uma enorme insegurança no seio da administração municipal, além de um problema sério de governança e governabilidade, não precisa ser cientista político ou administrador de empresas para verificar esta situação. Este foi apenas um item, para servir de exemplo na minha análise, outros mais técnicos vou me abster de apontar, pelo fato de não está no dia-a-dia da administração municipal e fazer uma análise baseada em suposições. Por último, para não estender mais nesta análise, quero lembrar ao caro colega de profissão e aos queridos cidadãos de nossa cidade que tanto o Senador José Agripino, o qual não tenho procuração para defendê-lo, mas conheço a sua história política, inclusive reconhecido nacionamente pela postura ética e profissional na condução da sua vida pública, assim como a Governadora Rosalba Ciarlini, que administrou com competência a segunda maior cidade do Estado, proprietária de uma vida pública de serviços prestados ao RN, ambos, não estão administrando a cidade do Natal, apesar de ter apoiado a mandatária do município, portanto, são tão vítimas como qualquer outro cidadão dos rumos adotados pela governante municipal, cabendo a população julga-la nas eleiçoes que se avizinham. Quanto ao mandato da Governadora e os índices de rejeição na capital, estes são plenamente contornáveis, pois estamos iniciando o segundo ano de governo e a administração estadual tem competência e tempo suficiente para reverter estes indicadores, que são frutos de um início de ajustes fiscais necessários para garantir a governabilidade, comprometida pela gestão anterior. Giovani Carvalho

  2. Andrea Linhares disse:

    Gostaria também de apresentar minha discordância com relação à visão expressada pelo sr. Daniel Menezes. Em que pese o apoio de José Agripino à campanha de Micarla, os elementos associados à sua vitória em 2008, sob o meu ponto de vista,  devem ser buscados primária e primordialmente em dois fatores: seu poder midiático e empatia com o eleitorado natalense naquele momento, em contraposição à imagem e penetração de sua adversária, a deputada Fátima Bezerra, que entrou na disputa com um elevado índice de rejeição. Outro fator que considero igualmente relevante na explicação dos fatos: a péssima “costura” política apresentada ao eleitor  sob a forma de uma aliança que, além de esdrúxula, no sentido de agregar forças tradicionalmente adversárias ao longo das anteriores disputas eleitorais (Wilma  de Faria + Fátima Bezerra + Garibaldi/Henrique Alves), ainda agregou o elemento da “injustiça”, derivado da desigualdade de forças em apoio às duas candidatas. Uma chapa com o carisma da “guerreira” a força política dos Alves e mais o tempero do apoio do governo Lula, configurou um cenário de  “desequilíbrio” de forças que Micarla soube bem capitalizar a seu favor. O senador José Agripino deve achar interessante a força atribuída a ele no processo. Entretanto o “mérito”, segundo me parece, foi de Micarla. E a “grande força” veio da “trapalhada” traçada por seus adversários. Sinceramente não creio que a análise do pleito de 2008 prescinda da inclusão desse fato, embora pareça ser interessante assim proceder no processo de construção de imagens que  favoreçam determinados candidatos em 2012 e igualmente debilitem  aqueles que venham a ter o apoio do DEMOCRATAS.

  3. Daniel Menezes disse:

    Cara Andrea Linhares,

    concordo contigo. Penso que Micarla têm méritos e que o PT deu um grande empurrão, o que chamei, para encurtar, de “trapalhada” (péssima condução das alianças, falta de preparo do nome de Fátima, aliado a sua forte rejeição).
    Entretanto, quis enfatizar que a estrutura proporcionada por José Agripino também foi fundamental, o que não foi pouca coisa.
    Os jornais da época deram conta de que Micarla arrecadou o mesmo que Wilma para a sua eleição em todo o RN. E este apoio mais “forte” veio das bases de José Agripino.
    O planejamento, a ‘militância’, a logística, a arrecadação, enfim, o que estou chamando de “estrutura”, não vieram pelo PV, virgem ainda em campanhas eleitorais. As redes clientelisas locais, lideranças de bairro, etc… foram mobilizadas por aqueles que hoje falam que não conhecem a prefeita…
    Me centrei na questão da “estrutura” para mostrar que Agripino precisa assumir a “filha”, conforme ele costumava chamar Micarla.
    Vaidoso como é, Agripino fala nos bastidores que ele elegeu Micarla, o que também não é de todo verdadeiro, de acordo com a sua análise, bem superior a minha. 
    E neste sentido você tem razão. Um relato como o que fiz no post, se contado apenas para Já Já, traria mais satisfação do que apreensão para ele.
    No entanto, tenta jogar Micarla na conta do PT, de Wilma e de Carlos Eduardo, que não contribuíram para a sua vitória em 2008.
    Por uma questão de autonomia, é preciso enfatizar, como tentei fazer, que José Agripino e Rosalba não foram simples eleitores. E aí faço uso das palavras do nobre Thiago, que também comentou.
    PS. Só não concordo com a força da mídia. Acho que é desmensurada, pois em 2004, sem ter ainda a projeção da Tv Ponta Negra, Micarla já apresentava números significativos. Tanto que foi assediada e levada por Agnelo Alves.

  4. Andrea Linhares disse:

    obrigada pela resposta ao comentário

  5. Daniel Menezes disse:

    Prezada Andrea, 

    se tiver interesse, contribua conosco com artigos ou análises mais compactas. 
    Seria um prazer tê-la na @cartapotiguar:disqus Abç.

  6. Rogério Marinho foi outro grande entusiasta de Micarla em 2008. Que o diga os golpes abaixo da cintura que deu em Fátima com suas campanhas difamatórias.

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