Rio Grande do Norte, segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 6 de junho de 2012

Manual do Tuiteiro

postado por Arthur Dutra

Não resta dúvida que o Twitter é uma ferramenta magnífica para interação social, informação e diversão. E como tudo no ambiente social, desde já é possível catalogar alguns comportamentos bastante notáveis do ponto de vista do pitoresco e da padronização das reações pessoais ante os fatos cotidianos.

Em primeiro lugar é necessário fazer uma separação preliminar dos usuários levando em consideração suas finalidades na rede. Saliento que esta não é uma classificação definitiva, tendo em vista que novas figuras sempre nos surpreendem com suas posturas virtuais.

Vejamos algumas delas, então.

Em primeiro lugar temos aqueles que aderem ao Twitter por uma espécie de “pressão social” tácita, ou seja, por medo de se sentirem isolados caso não estejam por dentro dos meandros do mundo virtual, notadamente das redes sociais. Esses são os que mantêm contas em todas elas, tais como Orkut, Facebook, MySpace, Tumbrl, etc., e o Twitter, por óbvio, não podia faltar. É preciso dizer, por mais duro que seja, que esses usuários não têm muito a comunicar em seus tweets. Sua atuação limita-se à interação com seus amigos do dia a dia ou a retweetar aqueles perfis que postam frases bonitinhas de autoajuda e humor insosso. Fora isso, o máximo que postam é algum comentário sobre um assunto que está nos Trends Topics – TTs, sempre seguindo a corrente majoritária. O maior critério que usam para dar um “follow” é tão somente a amizade e nada buscam além disso.

Há ainda outra espécie de tuiteiro que usa o perfil como um diário de bordo. Seu primeiro post do dia é um clássico “Bom dia”, com suas variações “Bom dia, followers!”, “Bom dia @fulano, @sicrano, @beltrano, @maria, @jose”, e o sempre usado “Bom dia pra você que…”, de onde podem sair vários complementos como “… acordou cedo e já está na estrada”, “… caiu da cama e machucou o pescoço”, “… tem uma prova hoje mas não estudou nada!” etc., sempre num sentido trágico. Ademais disto, dão conta de toda a sua vida profissional, familiar e amorosa para seus seguidores, padecendo daquilo que vou desde logo batizar de “Síndrome do BBB”. Ah, e sempre temos o bom e velho “Portas em automático”, numa referência de que o autor está entrando no avião para alguma viagem. São criaturas inofensivas e sua atuação na rede não oferece maiores emoções para quem os seguem.

Existem também os “voyeurs”. São aqueles que sofrem a mesma influência dos integrantes da primeira categoria, mas que, na verdade, deixam suas contas praticamente inativas – alguns deles jamais tweetaram qualquer coisa, permanecendo com o perfil imaculado a informar: “@fulanodetal ainda não tweetou”. Assim, se limitam a colher as informações que lhe sejam úteis e a observar de longe os embates travados na rede, pois: 1) não sabem o que tweetar; 2) temem parecer ridículos com seus tweets. São os zumbis virtuais. Seguir esses caras, sinceramente, é perda de tempo.

Como rede social que é, avultam em grande quantidade os que possuem um enorme séquito de followers. Para eles isso é o máximo, pois têm a impressão de que são pessoas populares. Mas cuidado: ter muitos seguidores não significa que você é um formador de opinião ou alguém importante na rede. Acontece de você ser seguido por uma pessoa apenas para que essa outra o siga de volta, e isso, sinto informar, não faz de você um figurão do Twitter.

Geralmente são adolescentes em busca de notoriedade no uso livre de seu alter-ego virtual, e sua atuação é sempre no sentido de postar trechos de músicas/livros não lidos, notadamente de Clarisse Lispector e Caio Fernando Abreu, e coisas supostamente inteligentes e aparentemente sem sentido, denotando uma mensagem subliminar para um alguém misterioso, mais ou menos no estilo “nem um disco voador resolveria…”.

Outros há que fazem de sua conta um espaço permanente para a polêmica. Estes se recusam a seguir o caminho do posicionamento majoritário e só comentam assuntos dos TTs se for no sentido contrário da maioria. Assim fazendo, muitas vezes angariam a malquerença de alguns seguidores, além de muitos debates em sua timeline. São alvos fáceis de um malcriado “unfollow” ou mesmo um “block” por suas opiniões contrárias ao sentimento dominante, e costumam postar algo do tipo “Morreu Fulano de Tal? Pronto, agora virou um santo!”. São figuras interessantes de seguir, pois haverá sempre algo diferente em seus tweets caso você tenha paciência de aguentar seus arroubos de chatice. De tempos em tempos elegem um assunto que domina seus tweets até aparecer algo melhor. Em resposta a eles tem sempre alguém que posta algo não direcionado diretamente, mas que pretende contestá-lo sem criar mais polêmica. É mais ou menos assim: “Ai como tem gente chata que gosta de ser do contra na minha TL!”.

Conforme já detectei em outro artigo, abundam também aqueles usuários que usam e abusam de cortesias e lisonjas excessivas para angariar a simpatia de alguma autoridade. Para aprofundamento dessa categoria remeto o leitor para a referida crônica, intitulada “Os Reis do elogio” (http://escritosimprovisados.blogspot.com.br/2011/06/os-reis-do-elogio.html).

Vejam que em apenas 140 caracteres podemos mapear um pouco da personalidade de cada um, de modo a descobrir algo sobre suas opiniões e estado de espírito. Listei seis espécies de tuiteiros, mas tenho absoluta certeza de que existem muito mais. Portanto, à medida que for detectando essas criaturas, vou ampliando o catálogo de modo a conhecer melhor esses serem tão peculiares e confeccionar a obra fundamnetal a ser lançada no verão seguinte cujo título não podia ser outro que não o “Manual do Tuiteiro”.

Obs.: Antes que alguém leve isso a sério, informo que é apenas mais uma brincadeira.

Arthur Dutra

Advogado. Editor, proprietário, patrocinador e único escritor do blog "Escritos Improvisados" (http://escritosimprovisados.blogspot.com). Twitter: @ArthurDutra_

One Response

  1. Não tenho twitter porém observei que muitas características do manual são observadas no facebook. Eu sugiro somar mais um grupo que o dos religiosos dedicados a publicar trechos da bíblia, imagens de santos e santas, pontífice, jardins verdes e floridos com frases do tipo ”Deus sem mim é tudo, eu sem Deus sou nada” e por aí vai.

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