Rio Grande do Norte, terça-feira, 21 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 12 de outubro de 2012

Natal: a estratégia da mídia micarlista para esvaziar apoio do PT

postado por Daniel Menezes

Do Blog do Daniel Dantas

 

Em 2008, Fátima Bezerra era candidata à prefeitura de Natal.  Com apoio do então prefeito Carlos Eduardo, bem avaliado segundo as pesquisas de opinião, Fátima tinha uma tarefa inglória: tirar a diferença contra Micarla de Sousa (PV) que desde o início liderou as intenções de votos.
Em meados de setembro, em 2008, a grande discussão midiática girou em torno da questão: Lula vem?
Certamente Lula viria fazer campanha em prol de Fátima.  Naquele instante a boca do jacaré nas pesquisas estava se fechando.  Era praticamente inevitável que um comício com Lula representasse o impulso que Fátima precisava para, no mínimo, conduzir a eleição ao segundo turno.  Faltava uma semana, mais ou menos, para a eleição.

Mas a campanha de Micarla tinha uma estratégia de comunicação e mídia muito bem articulada.
Aliás, a discussão sobre a vinda ou não de Lula já fazia parte dessa estratégia.  A imprensa, apoiadora de primeira hora de Micarla, levantava a dúvida.
Quando a vinda de Lula era inevitável, a campanha de Micarla se reuniu com todos os jornalistas e editores bancados na folha de pagamento do comitê.  E foi discutido o que fazer de Lula.  O certo é que desenharam uma estratégia articulada.
Do lado da coligação da petista, não foi pensado nada.
Resultado: após um evento oficial em Mossoró, o presidente Lula esteve em Natal, para o comício, na sexta-feira anterior ao fim de semana da eleição.  Sua participação no programa de tevê iria ao ar somente na segunda-feira.  Foi com esse hiato que a mídia micarlista trabalhou.
Surgiu – e foi amplamente repercutida – a estória de que Lula estaria embriagado no comício.  Mais que isso: estando embriagado, ter convocado o povo a extirpar da política, dali a dois anos, o senador José Agripino (DEM) foi ressignificado como um ataque a todos os potiguares em todos os jornais da cidade.
Dúvido que Lula estivesse “alto” ou que isso fosse um problema.  O problema é que o esquema de contrapopaganda micarlista já estava a postos para esvaziar o impacto da visita de Lula.  Dias antes uma reunião, com a presença inclusive de editores de veículos impressos, definira a ação.  Aguardariam o mote do contraataque (a Ypioca) e partiriam para cima.  Toda repercussão da visita, pela imprensa, havia de ser negativa.  E Fátima só teria como explorá-la na segunda-feira.  Ou seja, quando o PT quisesse falar sobre Lula, o impacto da articulação negativa já teria esvaziado completamente o impacto.
Não deu outra.  A diferença entre Micarla e Fátima apenas cresceu após a visita de Lula e, uma semana depois, a pevista foi eleita em primeiro turno.  O resto da tragédia nós conhecemos.
Quatro anos depois, mesma articulação estratégica está em curso agora sobre o apoio do PT a Carlos Eduardo (PDT) no segundo turno das eleições em Natal.
Evidentemente que o mesmo grupo micarlista, que desta vez se reúne atrás de Hermano Morais (PMDB),  teve quatro dias para preparar e ensaiar a reação para tentar esvaziar o impacto da decisão petista.
Podemos esperar de hoje aos próximos dias manchetes no Jornal de Hoje e na Tribuna do Norte para reforçar as teses que surgiram na noite de ontem pelas redes sociais: decepção do eleitorado de mudança de Mineiro pelo posicionamento no segundo turno e a defesa da tese da neutralidade.
Depois, os dois jornais, especialmente o JH, farão matérias todos os dias tentando fazer com que o apoio do PT prejudique mais que ajude a campanha de Carlos Eduardo: o teor das matérias, que serão feitas ouvindo especialistas de diversas ordens, defenderá que PT tinha de ficar neutro e dirão que decisão é traição de Mineiro a seus eleitores.  A estratégia busca anular o apoio, favorecendo Hermano, como também esvaziar o capital político conquistado pelo deputado petista com vistas às próximas eleições, especialmente 2016, eleição para a qual Mineiro já desponta como forte candidato.  Por isso, o apoio do PT é um voto crítico e o partido já se define de que não fará parte do governo – será oposição e oposição construtiva.
O contraataque deve começar nas próximas edições do Jornal de Hoje, com notinha em Tulio Lemos ou Alex Vianna deve publicar uma matéria entrevistando alguma liderança política sobre o assunto – liderança que vai falar mal da decisão do PT.
A manutenção da articulação de mídia em torno do grupo micarlista, reunidos sob Hermano nessa eleição, já se evidenciou no primeiro turno das eleições – a estratégia do rebaixamento dos números de Mineiro nas pesquisas favorecia Hermano: garantiam o segundo turno, sem pôr em risco a ida do pemedebista à eleição do dia 28.  Mesmo assim, quase que tática virou um tiro no pé e Mineiro vai ao segundo turno.
Como que a confirmar toda a análise, surge a nota do jornalista Claudio Humberto que, além de ter sua coluna publicada pela Tribuna do Norte, será amplamente repercutida pela imprensa micarlista.  Segundo Cláudio, a presidenta Dilma Rousseff ficou irratada com a decisão do PT em Natal. Dilma defenderia a neutralidade (!), uma vez que tanto ela quanto Lula gravarão para o candidato do PMDB.
Curioso perceber que Humberto traz a ideia da neutralidade para a discussão.  A mesma tese amplamente debatida no twitter ontem à noite entre eleitores e o candidato Fernando Mineiro.  Mais curioso: a ideia da neutralidade é atribuída à presidente da república.
Evidentemente a tentativa do colunista, muito próximo aos caciques pemedebistas, é contribuir para que o voto do PT e de Mineiro em Carlos Eduardo, no segundo turno, não valham nada para a decisão do eleitorado.
A estratégia está em curso.  Cabe a nós reagirmos.  A turma do contracheque, como diz Jurandy Nobrega, fará de tudo para manter tudo como está.

P.S.: A estratégia pode ter sido demonstrada pelo simpatizante do PMDB Carlos Emerenciano.  Durante toda a semana pajiou o PT e Mineiro.  Chegou a tentar convencer que o melhor para o partido era apoiar Hermano, argumentando que o PDT de Carlos Eduardo declarou apoio a Serra em São Paulo, contra Haddad (PT).  Até que o PMDB declarou apoio a ACM Neto (DEM) em Salvador, contra Pelegrino (PT).
Quando o voto do PT foi anunciado, Emerenciano passou a defender que Mineiro e seu partido deviam ficar neutros para, logo em seguida, passar a desdenhar o apoio do deputado ao ex-prefeito.  “Confesso que estou preferindo as declarações do deputado à neutralidade”, me disse pelo twitter.
Outro exemplo foi a matéria da Tribuna do Norte destacando que o vereador eleito Hugo Manso (PT) irritara-se com a divulgação do texto da resolução do partido antes que fosse aprovada.  A TN quis fazer crer que Manso fosse favorável a um apoio a Carlos Eduardo que implicasse a participação no governo – construindo um cenário de divisão e desconstruindo o sentido desejado pelo PT no apoio declarado: sem compromisso para o governo, do qual pretende manter atenta independência, segundo disse em nota.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

5 Responses

  1. Patrícia disse:

    Isso é para justificar o apoio de Mineiro a Carlos Eduardo. Ou você resolveu remoer o passado por que estava com insonia?

  2. Caio Cesão disse:

    Eita vício petralha grande, héin?

    Quer dizer que optar pela neutralidade é algo que tem que ser criticado?

    Mas um partido que se diz de esquerda como o PT (apesar de que não é) apoiando Carlos Eduardo, você acha lindo, né?

    Você não respeita nem o sentimento de decepção que alguns ex-votantes, tal como eu, sentem ao ver o PT se entregar, mais uma vez, aos fins de um partido maior?

    Mais um artigo Qualis 0, Daniel! Nem ouse colocá-lo no seu Lattes!

    Só serviu pra encher linguiça.

    😛

    P.S.: espero que não tenha entendido como nenhum ataque pessoal nesta minha postagem.

    Abraços!

  3. Lucas disse:

    Daniel, o pt poderia sim ter se declarado neutro, CE ja foi prefeito com o apoio e participaçao do PT, e eu pergunto no que a cidade mudou nessa conjuntura? nada absolutamente nada, foi mais do mesmo,o PT nao precisava ter se queimado mais uma vez com esse apoio, ja que nao pretende mesmo fazer parte do governo, que deixasse os dois se digladiarem pra ver quem venceria essa eleiçao.

    Eu so vejo a atuaçao do PT, pelo calculo eleitoral de Fatima Bezerra, que impos ao patido o apoio a CE pra nao ver a prefeitura cair nas maos do PMDB e assim fortalecer Henrique na luta pelo senado. pode ate ser valido fatima pensar assim, desde que ela nao tivesse feito a sacanagem de boicotar a candidatura de mineiro dentro do partido, se tivesse jogado limpo apoiado mineiro e assim mesmo nao passar ao segundo turno, beleza, tentou, nao deu, agora pensa em termos politicos quem seria melhor para as proximas eleiçoes para o PT, com o partido unido. da forma que foi feita o PT so se fragilizou mais ainda, e tudo por culpa dos proprios membros do partido, nao adianta jogar a culpa nos outros, se nao souber reconhecer os proprios erros, nunca vai conseguir ganhar essa prefeitura.

    Sinceramente acho que natal mais uma vez vai passar por apuros, nao sei quem é pior pra natal, ver Hermano prefeito ou ver Vilma e sua familia de volta a prefeitura, acredite, sao opçoes que se equivalem em termos de corrupçao. basta ver o empenho da impressa micarlista na tentativa de fazer hermano prefeito, isso por si so ja é um mal sinal.

  4. Daniel Dantas Lemos disse:

    Sou testemunha que Fatima se manteve fora da campanha de Mineiro até meados de setembro por decisão do candidato. Não vi qualquer boicote da deputada à campanha.

  5. Claudionor Damasceno disse:

    Caracas! Quer dizer que o voto do natalense é decido na redação desses nossos maravilhosos jornais? Quanto poder! (Quanta imaginação e pretensão, tbm. Faltou combinar com o eleitor).

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