Rio Grande do Norte, quinta-feira, 16 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 7 de junho de 2013

Não é de pena que a prostituta precisa, mas de reconhecimento e cidadania

postado por Daniel Menezes

Sempre desconfie do discurso que retira a capacidade de mobilização dos sujeitos porque, no fundo, o que se furta é o recurso efetivo que todo mundo tem de falar sobre suas angústias e necessidades, sem nenhum porta voz. Sim, as pessoas refletem sobre seu universo e não é necessário diploma universitário, ou tutela para isso.

ProstitutasA prostituta, por exemplo, não é “humilde” e “sofredora”, como um moralismo oportunista despotencializante (pseudo) bondoso tenta passar. A prostituta não é agente passivo, é portadora de direitos – que alias não são respeitados no Brasil. Se há uma classificação que lhe cabe é a de trabalhadora e que precisa de proteção do Estado como os demais batalhadores. Por que deveria ser diferente?

Porém, enquanto o grupo que atua no mercado de serviços sexuais procura o devido reconhecimento, os conservadores tentam lhes negar a existência, a sua possibilidade de construir um caminho. Prova é a campanha publicitária criada pelo governo federal para afirmar a condição cidadã da prostituta e depois suspensa pela pressão de alguns evangélicos liderados, dentre outros, pelo deputado federal Marcos Feliciano (PSC).

O retrocesso demonstrou sua pujança. Ora pintada como uma herdeira de sodoma e gomorra, ora como coitada; no fim, o resultado acaba sendo o mesmo – o direito a existência de brasileiras recusado. E não há nada mais sofrido, isto sim, do que a estigmatização, o assassinato social.

Permaneceu a institucionalização da hipocrisia da sociedade judaico-cristã, que aponta o dedo para as profissionais do sexo durante o dia e aproveita o que ela vende no período da noite. Continuou a subcidadania de alguns em detrimento da supercidadania de outros.

E em que pese pesquisas sociológicas já afiançarem que a prostituta não é suja, não é burra, não é uma transmissora de doenças, não é uma paranóica-tarada e, em muitíssimos casos, não ter sido obrigada a desempenhar sua atividade – está fazendo universidade, cuidando de sua família ou simplesmente tocando a vida do jeito que acha mais conveniente –, o obscuratismo ainda manteve a luz apagada.

Que o cartaz retorne e não esqueça de incluir homens, homossexuais, travestis, etc, que também são cidadãos e merecem respeito.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

2 Responses

  1. Siloca a Ina. disse:

    puta é puta. ja dizia Chico Anísio.

  2. Ivan disse:

    Quais as pesquisas (plural, então são várias) sociológicas citadas que não foram referenciadas? “Muitíssimos casos” parece coisa do senso comum, não? Não estamos na academia e sim num blog, mas isso não justifica a simples generalização. Os serviços sexuais são realmente uma escolha entre outras alternativas, algo que a maioria dessas pessoas prefere, deseja conscientemente? São perguntas cujas respostas precisam ir além da acusação simplória da sociedade judaico-cristã. Uma questão final: o que os outros segmentos religiosos e os ateus pensam sobre isso? Todos entendem que promover a saída dessas pessoas da prostituição está ligado à “hipocrisia”?

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