Rio Grande do Norte, sábado, 27 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de fevereiro de 2024

Política Externa: muito além dos tratados

postado por Miguel Dias

A análise da política externa de um país é frequentemente relegada aos especialistas, mas sua compreensão é vital para cada cidadão. Interpretar, analisar e discutir as políticas que regulam as relações formais entre nações é conhecimento fundamental. No entanto, algumas perguntas persistem: como a política externa pode influenciar o desenvolvimento do país? Que decisões impulsionam o progresso? Quem são os parceiros ideais? Como a política externa pode ser relevante para o cotidiano dos cidadãos?
Num primeiro olhar, podemos questionar a relevância da política externa, quando parece que existem maiores desafios internos (desemprego, insegurança, pobreza, desigualdade social, etc.). Contudo, as relações internacionais têm impacto direto em áreas que afetam a vida diária de cada um de nós. A cooperação entre países vizinhos, o comércio internacional, a preservação ambiental, o desenvolvimento econômico e a paz mundial são dimensões que merecem nossa atenção.
A relação entre países vizinhos é uma dimensão crucial. No contexto das fronteiras, as decisões diplomáticas moldam não apenas a convivência pacífica, mas também a integração regional. Exemplificando, a relevância crucial que tem uma relação harmoniosa entre Brasil e Argentina que, não apenas fortalece os laços culturais, mas também impulsiona o desenvolvimento econômico conjunto. Brasil e Argentina são os dois maiores países da América do Sul e constituem-se como pilares fundamentais para a integração regional.
O comércio internacional é outro campo em que a política externa se destaca. Acordos bilaterais e participação em organizações comerciais globais abrem portas para oportunidades econômicas. A parceria entre Brasil e China é um exemplo claro, impulsionando setores como agricultura e tecnologia, contribuindo diretamente para o crescimento econômico interno.
Na preservação ambiental, especialmente na Amazônia, a política externa desempenha um papel determinante. A cooperação internacional para a conservação da biodiversidade e uso sustentável dos recursos naturais é uma necessidade. Acordos e diálogos bilaterais, como os estabelecidos com países europeus, influenciam diretamente as políticas ambientais no Brasil.
No desenvolvimento econômico, a política externa desenha oportunidades globais. A relação com os Estados Unidos, por exemplo, não apenas facilita investimentos, mas também impulsiona a inovação e a troca de conhecimento, potenciando o progresso interno. No ano de 2022, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram 20%, fato muito relevante e que representa um aumento da demanda por produtos brasileiros e, igualmente, uma melhoria da competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional. Este é um sinal de como pode haver geração de mais empregos, aumento de renda e crescimento econômico no Brasil.
Na promoção da paz, a política externa transcende fronteiras. A participação do Brasil em missões de paz e o diálogo constante fortalecem o papel do país como defensor da estabilidade global, reforçando o sólido respeito diplomático que tem junto da comunidade internacional. Recentemente, o mandato brasileiro na presidência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (outubro de 2023), órgão responsável por zelar pela paz internacional, mostrou ao mundo a vontade do Brasil pela procura de soluções pacíficas para os conflitos mundiais, nomeadamente, a guerra entre Israel e o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica).
Compreender a importância da política externa é essencial. Ela não apenas molda alianças e acordos, mas também impacta diretamente na qualidade de vida de cada cidadão. A escolha de parceiros e a postura em assuntos globais refletem-se no emprego, na segurança alimentar, na preservação do meio ambiente, na segurança, na atração de investimentos, na mobilidade de cidadãos, na capacidade de integração internacional das empresas brasileiras e na paz.
Atualmente, o Brasil busca o protagonismo global, com base em uma política externa diversificada e multilateralista, procurando estar ativo em (i) iniciativas de integração regional (América do Sul), (ii) mudanças climáticas (especial atenção para o papel da Amazônia), (iii) Cooperação Sul-Sul (fortalecimento de países em desenvolvimento) e (iv) intervenção em organizações internacionais como G20 (maiores economias do mundo) e BRICS (grupo de países de mercados emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Sempre iremos encontrar vozes favoráveis e desfavoráveis às escolhas de cada país para a sua política externa. Esse não será um problema! O maior problema será discutir as opções com argumentos frágeis baseados em cores políticas ou radicalismos ideológicos. Não existem políticas externas perfeitas! Existem opções que merecem ser discutidas de forma aprofundada indo, muito além, de um simples post numa rede social ou de uma mensagem de Fake News.
É imperativo refletir sobre a realidade de um mundo globalizado. Isolar-se das relações externas é uma posição ingênua e contraproducente. Num mundo interconectado, a política externa não é uma escolha, mas uma necessidade. Nossa compreensão, como cidadãos, dessa complexa teia de relações, é crucial para forjar um futuro onde a cooperação internacional seja a chave para desafios globais.

Miguel Dias

Professor de Relações Internacionais da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)

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