Rio Grande do Norte, segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 28 de outubro de 2012

Silas Malafaia ajudou a eleger Haddad, Fruet e Carlos Eduardo

postado por Daniel Menezes

Até hoje não entendo o porquê de utilizar o pastor evangélico Silas Malafaia como cabo eleitoral.

O meu palpite – hipótese – parece vencer o principal crivo das eleições: a curva das pesquisas.

Os evangélicos não são um grupo monolítico. Há várias tendências e, obviamente, que o Malafaia não consegue agradar a todas elas. Penso até que é gerador de atrito entre as inúmeras linhas protestantes.

Mais. No Brasil há 22% de evangélicos, sobrando 78% de católicos, outras religiões e ateus. Acredito que, ainda que existam conservadores não evangélicos, que reprovam temas como aborto e homossexualidade, a maioria dos eleitores é contrário ao envolvimento de política com religião, pois transparece certo oportunismo.

Para finalizar a minha hipótese, me parece claro também que o eleitor está mais preocupado com resultados práticos (economia, emprego, serviços públicos de qualidade, etc) e não aprova o discurso de ataque aos gays, lésbicas, etc. No seu preconceito, o conservador não quer “gays e lésbicas perto dele”, mas não admite também perseguição.

Quanto ao aborto, quem é que, na vida prática, não se compadece com uma mulher estuprada? Ou com uma gravidez que oferece risco de vida a mãe?

No final das contas, o saldo positivo (hipótese: um pequeno grupo de pessoas vota por questões de aborto e homossexualidade) de tal estratégia homofóbica é bem inferior ao saldo negativo (hipótese: as pessoas querem resultado e a pauta moral se torna algo secundário, às vezes, perigoso de se trabalhar como plataforma de campanha, já que a diferença entre a defesa de costumes e a perseguição é bem ténue).

Quando foi que Malafaia, com suas aparições e seu discurso homofóbico, conseguiu reverter um revés de um candidato?

Em 2010, sua estadia na candidatura serrista não alterou o cenário de vitória de Dilma Roussef.

Serra pode ter apertado um pouco, retirando a golpe final do PT já no primeiro turno. Mas a alteração pode ser explicada pelo farto uso do “caso Erenice” e não pela atuação do Malafaia.

Em 2012, Malafaia atrapalhou Serra, Ratinho Jr e Hermano Morais, seus apoiados. Coincidência ou não (a correlação precisa de maiores comprovações), mas nas três eleições, depois da aparição do dito líder religioso, os candidatos “laicos” só cresceram.

É uma questão que merece mais análise. Porém, é elucidativo que o Serra, de modo articulado, tenha se distanciado do nome do Malafaia durante o segundo turno da campanha em SP.

Quem mais lucra politicamente com essa história é o próprio pastor, que surfa num suposto poder de influência que o dito cujo não demonstra na prática.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

5 Responses

  1. Rogério disse:

    Belo texto.Fico feliz que esse senhor não tenha mesmo grande poder de influência para decidir eleições.

  2. Patrícia disse:

    Soube que ele, em sua vinda recente à Natal, pediu votos para Carlos Eduardo em várias igrejas que o segue. Fiquei confusa já que imaginava sua figura mais associada ao Hermano Morais, mas a fonte me garantiu que foi para Carlos Eduardo que ele ”sugeriu” aos fiéis para votar.

  3. Ewerton Alípio disse:

    Ao menos em São Paulo, o recado que vem das urnas é um só: 1 a cada 3 paulistanos votou em branco, nulo ou se absteve de ir às urnas. Grande parte do eleitorado está saturado da querela suja entre PT e PSDB.

  4. Daniel Menezes disse:

    No caso da alienação eleitoral, na maioria dos casos, não há motivação política. Simplesmente a pessoa viajou ou não tinha quem, exatamente, votar.

  5. Caio Cesão disse:

    Gostei do artigo. Bem didático!

    🙂

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